Vasco

Vasco

sábado, 18 de janeiro de 2020

HISTÓRIAS DO FUTEBOL BRASILIENSE. PEDRÃO MARCOU PELÉ SEM PONTAPÉ

Entre 1964 e 1966, além do campeonato amador, o futebol candango teve, também, disputa para profissionais. Os atletas tinham até carteirinha do status. Mas isso não vingou e ficou só pelas três primeiras campanhas, pois profissionalismo na bola exige muito dinheiro, e isso era dificílimo nos cofres de Defelê, Guanabara, Dínamo, Colombo, Pederneiras, Vila Matias, Luziânia, Rabello, este, por sinal, o papão dos três canecos disputados.

 No Pederneiras, surgiu um zagueirão alto e forte no time campeão juvenil-1966. Em 1967, ele defendeu a Seleção Brasiliense no Campeonato Juvenil Brasileiro e depois mudou-se para o Rabello. Repetiu o titulo de campeão candango juvenil e o trizou em 1968. Em 1969, tentou a sorte no juvenil do Atlético-MG e até foi campeão mineiro. Mas não ficou, como, também, na Civilsan-DF, Ferroviária de Araraquara-SP, Anzoátegui, da Venezuela, e Jequié-BA. 

Pedrão, ao lado de Alencar (D), by Jornal de Basília


Foi, então que o treinador João Avelino apareceu em sua vida. Trabalhou com ele no Clube do Remo-PA, Ceub e ABC-RN. No Ceub, embora contasse com veteranos de nome, como, entre outros, Rildo (ex-Botafogo, Santos e Seleção Brasileira); Oldair Barchi (ex-Fluminense, Vasco da Gama, Atlético-MG e Seleção Brasileira); Fio Maravilha (ex-Flamengo); Cláudio Garcia (ex-Fluminense), Lauro (ex-Cruzeiro) e Dario Alegria (ex-Palmeiras), quem encantou o Avelino foi o zagueiro Pedro Pradera. Simplesmente, porque, dizia o treinador, “não deixa atacante fazer festa em sua fente, joga, como se fosse um torcedor apaixonado”.

Realmente, o Pedrão agradou tanto ao Avelino que este, ao chegar ao ABC-RN, a sua primeira pedida foi a contratação do zagueiro ceubense. Em Natal, a raça do xerifão lhe fez de grande ídolo que torcida abecedista que só não o carregava nas costas porque ele era muito pesado. Embora fosse durão, durão na zaga, o Pedrão fazia questão de ressaltar jamais ter machucado um colega de profissão. “Jogo pesado, não fujo de bola dividida, mas não provoco o adversário. Dentro de campo, sou um representante da torcida. Não bati nem no Pelé, quando ele fez um gol de placa me vencendo no lance”, citava.

O tal gol de placa citado pelo Pedrão (foto abaixo) foi em 20 de março de 1974, em Santos 3 x 1 Ceub, no velho e demolido estádio Mané Garrincha, em Brasília, em noite que o carioca José Pedro Oliveira Pradera celebrava os seus 23 de idade. O “Rei do Futebol” apanhou a bola em seu campo, atravessou o meio do gramado, passou por quem pintou pela frente e, ao entrar na área ceubense, tirou o Pedrão (caído na foto) e o goleiro Valdir Appel da jogada, para bater na rede. Pedrão marcou o “Camisa 10” com tanta lealdade que, depois do apito final do árbitro, o atacante santista, acostumado a apanhar muito dos zagueirões malvados, o procurou, o elogiou pela sua postura e presentou-lhe com o seu par de chuteiras e a camisa usadas na partida.

Foto reproduzida do Jornal de Brasília


Embora fosse um xerifão, Pedrão não falava um palavrão durante as contendas. Comportamento aprendido com o pessoal da igreja Mórmon. Além de jogar bola, em Natal, ele foi aprovado em vestibular para Educação Física e estudou inglês e francês. A torcida do ABC chorou de saudade quando ele trocou o alvinegro potiguar pela Portuguesa de Desportos, em 1978. Em 1981, voltou para Brasília e virou “professor”.                

       Texto publicado no Jornal de Brasília de 2 de junho de 2024 e trazido para cá  

Nenhum comentário:

Postar um comentário