Vasco

Vasco

sábado, 4 de janeiro de 2020

HISTÓRIAS DO KIKE - TONINHO BAIANO

Jogava pelo pior time da Bahia, mas chegou à  Seleção e foi à Copa do Mundo.                                                                                                                    

Pelos idos de 1967/68, o São Cristóvão era o time mais fraco do futebol baiano. Ponto certo para o adversário. Como certo, também, seria o bolão que jogaria o seu lateral-direito Antônio, morenão forte, com uma saúde mais do que de ferro. Todos os dias, com o sol nascendo, o cara pegava a sua bicicleta, na ilha de Itaparica, embarcava com ela no ferryboat que levava uma hora atravessando o mar, descia no Mercado Modelo de Salvador, pedia a bênção à Mãe Maria de São Pedro e bebia um cafezinho com Camafeu de Oxossi – Obá de Xangô, no candomblé, mestre capoeirista e líder do Afoxé Filhos de Gandhi. Depois, pedalava mais um tanto e ia treinar com a turma do São Cristóvão. 

O São Cristóvão baiano era fraco, mas o Antônio impressionava. Parecia ser de um outro planeta, com tanto vigor (e boa técnica). Motivo pelo qual o Galícia o levou. Mas não ficou com ele por mais de três meses. Válter Miraglia, técnico do Fluminense de Feira de Santana, e Paulo Amaral, do Bahia, o indicaram, respectivamente, a Fluminense e Flamengo, que ficaram curiosos pelo que ouviram falar daquele “superbaiano”. Viram, conferiram e o Flu foi mais rápido, levando-o.

           Figurinha importante no time rubro-negro carioca 

No Rio de Janeiro, a primeira coisa que fizeram foi tocar o nome dele, de Antônio, para Toninho. A troca, no entanto, não lhe ajudou em nada, pois o lateral-direito tricolor, o paraense Oliveira, campeão carioca-1969, jogava até com pé quebrado, temendo perder a posição. Oliveira cruzando e Flávio Peito-de-Aço cabeceando os chuveirinhos era jogada fatal do Flu. Em 1971, interinamente, Pinheiro assumiu o comando do time e trocou Oliveira por Toninho. Depois, entrou Zagallo (Mário Jorge Lobo) que acabou com os chuveirinhos (1971/72) e criou função tática para o baiano. Este subiu tanto que o Velho Lobo quase o levou na Seleção Brasileira da Copa do Mundo-1974.

Nome feito, Toninho foi peça importante na conquista do titulo carioca-1975, pelo Flu do presidente Francisco Horta, a “Máquina Tricolor” que tinha um craque em cada posição – Felix, Marco Antônio Feliciano, Gil, Doval, Rivelino e Paulo César Caju, entre outros. Tempinho depois, Toninho não se deu muito bem com o técnico Didi (o bicampeão mundial Valdir Pereira), do que aproveitou o presidente Horta para incluí-lo em um troca-troca, com o Flamengo, sem consulta-lo. Toninho chegara a Salvador e, antes de seguir para a Ilha de Itaparica, passou pelo Mercado Modelo, pra pedir a benção à Mãe Maria de São Pedro e tirar dois dedos de prosa com Camafeu de Oxossi. Foi quando este lhe contou que ele agora era jogador do Flamengo. Levou um susto, e foi preciso o velho amigo lhe mostrar a notícia no Jornal da Bahia.

Chegado ao time rubro-negro, Toninho encontrou por treinador o coronel gaúcho Carlos Froner, que não gostava muito que vê-lo subindo no apoio ao ataque. Situação que mudou quando Cláudio Coutinho o substituiu, em 1976. Terminou titular da Seleção Brasileira da Copa do Mundo-1978, na Argentina. Deixou a Gávea, em 1980, para ganhar a sua grana no futebol árabe e, em 1982, encerrar a carreira, defendendo o Bangu. Em 1999, Toninho foi contratado como treinador do Brazlândia. Durante a sua apresentação, caçoando com o presidente João Gerônimo de Moura, que era o goleador Joãozinho, atleta e dirigente, ele sacou: "No meu time, se tiver pênalti, quem bater é o presidente. Se ele perder, não vai me demitir."

               Figurinha da Copa do Mundo de 1978 na Argentina 

Brincadeira à parte, numa das primeiras rodadas do Candangão-1999, houve um pênalti a favor do Brazlândia e o Joãozinho encaçapou. Foi notícia no Jornal Nacional da TV Globo e, que se soubesse, fora a primeira vez em que um presidente de clube cobrava pênalti no futebol brasileiro. Pouco tempos depois, quando Toninho havia trocado o Brazlândia por um time goiano, ele sentiu-se mal, repentinamente, e com toda a sua fortaleza, desabou. Foi convocado pelo Homem Lá de Cima para a lateral-direita da Seleção do Céu, aos 51 de idade, naquele mesmo 1999.


Nenhum comentário:

Postar um comentário