O treino já havia acabado, quando Vasco Vasconcelos chegou em São Januário. Pelos últimos dias, ele estivera fora do Rio de Janeiro. Como o governo do seu país caíra, ele fora à terrinha, dar entrada na documentação em que pedia a retomada da sua patente de almirante, cassada por motivos de vingança política. Mas deixemos isso prá lá, pois o que importava mesmo para o ex-comandante de esquadras de uma país que nem tinha mar, era bola rolando pelo relvado.
Muito bem! Vasco Vasconcelos pegou a rapaziada saindo para o chuveiro. Parou Célio Taveira, o paulistão, neto de remador vascaíno, e propôs: “Vamos passar pimenta no olho do rato, no domingo?”
Célio espantou-se, com tal proposta do ex-futuro almirante, como o velho amigo esperava “ré-ser”, sacudiu a cabeça, e seguiu caminho. Ainda ouviu o Vasco Vasconcelos gritar: “Conto com um gol do meu ‘matador’ contra o ‘Bonsuça’. Quero ver você honrando o velho Antônio Taveira, remador campeão carioca, do primeiro titulo vascaíno, em 1905”. Célio respondeu “Deixa comigo, Vasco, que o Vasco vai vascainar legal nesta”.
Depois que Célio despareceu, vinha passando Lorico e Maurinho. O glorisoso ex-futuro almirante não perdeu tempo. “Olhá´qui, m´ninos! Quero vocês me pagando o prejuízo da instituição, antecipadamente”. Lorico deu um pulo, exclamando: “Ficou maluco, Vasco?” O ex-futuro “Al”, como a turma o chamava, rebateu: “Seguinte, carinha. A minha bola de cristal motrou-me vocês levando um gol do Paulo Chôco (escrevia-se assim), no ano que vem. Chôco é coisa de quem? De galinha. Galinha dorme onde? No galinheiro” – realmente, aconteceu. Pelo Torneio Rio-/São Paulo-1964, o goiano Paulo Alves, o Paulo Chôco, deixou o dele no “Clássico dos Milhões”.
Deni Menezes e Célio Taveira |
O glorioso “Al” ficou na dele. E futurologou: “Pois levaremos um gol marcado pelo Michey. E, pelo que sei, o Mickey mora na Disneilândia, não mora? Ou já mudou de endereço? De repente, pra sua casa! – mais uma vez, a bola de cristal do ex-futuro almirante deu no coro. Em 20 de setembro de 1970, o centroavante tricolor Mickey visitou as redes do goleiro vascaíno Élcio.
Veio, então a rodada de 6 de setembro, pelo Campeonato Carioca de 1963. O técnico rubro-anil, Miguel Pimenta, declaro ao microfone do repórter Deni Menezes, da Rádio Globo, que o Bonsucesso iria levar o centroavante Rato para botar o “Almirante“ na ratoeira e comer o queijo do “portuga”, dentro de São Januário.
Realmente, Deni Menezes e Zildo Dantas, dois repórteres trepidantes, viam Rato em boa forma, formando um perigoso quinteto atacante, com Sérgio, Valdir e Helinho. Mas naquela tarde, o Rato não comeu o queijo da Colina. Lorico, aos 41, Maurinho aos 70, e Célio, aos 83 minutos, levaram o Bonsucesso a um mau sucesso: Vasco 3 x 0.
Coincidentemente, quando Vasco Vasconcelos chegou à porta do vestiário do estádio da Rua General Almério de Moura, Lorico, o qual ele sacaneava, chamando-o de ‘Liroco”, Maurinho e Célio pintavam juntos. Vasco bradou: “Valeu, rapaziada! Estamos com os bigodes emendados”. Célio espanou, com o referendo da patota: “Mas a gente nem usa bigode!” O ex-futuro almirante interceptou o lance, rebatendo: “Sem delongas. O importante é que vocês passaram pimenta no olho do rato”.
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