Aída
passara 12 anos no Educandário Gonçalves de Araújo, preparando-se para ser
freira. Desistiu, trocando seu planejamento de futuro por um cargo no serviço
público, mais precisamente no antigo IPASE – Instituto de Pensões e
Aposentadorias, órgão criado, em 1938 e que,
em 1966, foi unificado ao INPS –Instituto Nacional de Previdência
Social.
Mesmo
fora do convento, Aída seguiu sendo uma jovem muito católica e recatada. Quando
estava em casa, gostava de tocar piano e ver balé, pela TV. Nos estudos, tirava,
quase sempre, a nota máxima. Queria ser fluente no idioma inglês. Mas não teve
tempo para isso. Sete meses após viver novos rumos, na única vez em que mudou a
sua rotina, o destino a devorou.
Aída
– durante o dia, trabalhava no comércio do irmão Nélson; à noite, frequentava o cursinho preparativo
ao concurso público – não chegou a virar o calendário do dia 14 de julho de
1958. Ela procurava óculos para comprar e melhorar a sua miopia, quando cruzou
com Cássio Murilo, que a convidou a subir e ouvir discos, no que contou
com a ajuda do porteiro Antônio João, que passou-lhe a chave do 13º andar do
Edifício Rio Nobre, da carioca Avenida Atlântica, em Copacabana.
A
pretensa audição musical terminou em uma tentativa de estupro, tendo Cácio por
parceiro o amigo Ronaldo Souza Castro. Aída preferiu o pior a entregar-se.
Atirou-se de cima do prédio, tornando-se vítima fatal da juventude transviada
da moda de então. E foi passou a fazer parte da galeria de mártires que incluía
a menina italiana Maria Goretti –
santificada pela Igreja Católica –, da qual mantinha uma gravura em seu quarto
de dormir, à mesinha da cabeceira de sua cama.
Ronaldo foi condenado a 37 anos de reclusão,
cumpriu cinco e obteve liberdade condicional; Cássio Murilo, por ser menos de
idade, foi internado no SAM-Serviço de Assistência ao Menor; Antônio João pegou
30 anos de prisão, no primeiro julgamento, mas foi inocentado no segundo.
A
BARBARIDADE – Exames das roupas que Aída usava, feitos pelo laboratório do
Instituto de Criminalística do Departamento Federal de Segurança Pública, de
tão despedaçadas que ficaram, davam a impressão de a moça ter sido atacada por
um bando de leopardos.
Como
sofreu a “inditosa” – termo da época, para mulheres violentadas. O legista Mário Martins Rodrigues encontrou, em seu
rosto, esquimoses circulares, de 14 milímetros de diâmetro, coincidindo com um
estrago que poderia ser feito pelo anel (contendo a efígie de São Jorge) do
porteiro Antônio João.
Após ter o sutian arrancado e rasgado em duas
partes, Aída recebeu unhadas profundas no seio direito, fazendo o sangue
manchar a sua blusa, de algodão, com listras vermelhas e brancas. A saia, de
algodão branco e listrada de verde foi rasgada, de alto a baixo, do lado
esquerdo, e apresentou, ainda, um rasgão maior na frente. Havia mais um grande
rasgo na parte dianteira, na altura das pernas. A anágua, de cetim branco,
também teve o lado esquerdo totalmente descosturado, e o botão do cós
arrancado, violentamente.
Aída lutou o quanto pode. Seu lenço branco e
bordado, com o qual limpou a boca
manchada de sangue, e a esquimose em seu lábio superior, produzida por
esbofeteamento, eram provas.
Dentro
da bolsa de Aída, estavam os óculos lhe tomados por Ronaldo, que lhe dissera só
devolvê-los se ela subisse ao prédio com ele e Cássio. Ficaram esmigalhados pela
queda de tão alto, deixando centenas de pedacinhos dentro da bolsa. Ao se
atirar lá de cima, Aída raspou, fortemente, o seu pé esquerdo na superfície
áspera do prédio, deixando uma mancha escura entre o parapeito e o 12º andar,
com 98cm de comprimento e 5 a 8cm de largura.
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