Vasco

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sábado, 28 de dezembro de 2019

O VENENO DO ESCORPIÃO - ROMEU E JULIETA BRAPONÊS TRAGICONÔMICO

Tadashi e Zoraide casaram-se em Aparecida do Norte-SP
 Se o amor começa por um sorriso – diz e a propaganda publicitária de creme dental -, este aqui bateu bem em cima do esmalte. 
A mecânica, no entanto, pode, também, reivindicar parceria nesse lance, pois o que leremos começa quando uma professora primária usava um automóvel pra percorrer sete quilômetros de estrada. 
Neste Romeu e Julieta brazuca, o enredo rola na paulista Marília. Coincidentemente ao texto famoso do inglês William Shakespeare, só os pais dos enamorados não querem papo com os personagens desta trama.   
 Corria o calendário da graça de Deus de 1951, quando o cavaleiro nipo-brasileiro Tadashi Haragushi viu uma moça em apuros pelo meio de uma estrada. Parou, olhou, informou-se e ofereceu-se para usar os seus conhecimentos mecânicos. 
Problema resolvido – além do inevitável muito obrigado, é claro! – o carinha  ganhou um sorriso, de presente, da professora Zoraide Mezenga, que voltou  encontrar, dois dias depois, pela mesma rodovia. Pronto! Nasceria, por ali, este Veneno do Escorpião, para chegar ao Kike passadas 69 viradas de calendário.
O japinha não resistiu aos encantos
 da  bela e charmosa noiva ...
 Namoro rolando, os pais do namorado, milionários japoneses, budistas e fazendeiros, proibiram, terminantemente, o filho de levara aquela história adiante. Namorar e casar, só com uma japonesa de sua mesma religião, deixou claro Haragushi Shakizo, proprietário da rentabilíssima Fazenda Arquá.
 De sua parte, a família da namorada, sentindo-se humilhada, devolveu na mesma moeda, além de ameaçar não abençoa-la e nem permitir casamento em sua casa.  Disposto a enfrentar tudo, Tadashi passou quase mil dias namorando Zoráide às escondidas. Esta, também, manteve-se firme em sua decisão de casar-se com o pretendente.
 Veio o início de 1953, e os pais do noivo viajaram pra terra deles, deixando todos os negócios sob administração de Tadashi. Demoraram-se na viagem e ficaram contentes, evidentemente, encontrando negócios prosperados, maravilhosamente, sob a administração do filho. 
... brasileira e não budista, bem como... 
 Após inteirar-se de todo o movimento comercial familiar, o chefe Shakizo quis saber  se o seu rebento já havia dado por encerrado o namoro com a brasileira, o que chamou de bobagem.
 Tadashi reafirmou o desejo de casar-se  com Zoraide e aquilo foi entendido como um desejo de contrariar o pai, que disse-lhe ter visto muitas japonesas lindas querendo vir para o Brasil.
 Rolava o papo e o velho Haraguzhi Sakizo, insistindo no preconceito de raça e religião, avisou a Tadashi que o deserdaria, caso ele se casasse com a católica brazuca.
 Resoluto, o carinha o advertiu de que as leis brasileiras não permitiam deserdar filhos, e o surpreendeu, propondo-lhe devolver-lhe tudo o que ele havia colocado em seu nome. O seu amor pela professor era muito maior do que os bens recebidos.
 Na Fazenda Vera Cruz, a noiva escreveu estar disposta a deixar-se raptar, romanticamente, pelo noivo, que tinha preparado tudo para tira-la de lá. Ele a buscaria, de táxi, à noite, levando junto como comparsas os amigos  que apadrinhariam o casório civil.
 Para apadrinhar o casamento religioso, em Aparecida do Norte, a noiva convidou um jornalista filho de árabes, para incentivar jovens descendentes de imigrantes a lutar contra velhos e falsos princípios raciais.  Para ela, as famílias que buscaram a América formariam a verdadeira raça do futuro.
... caprichou no enforcamento.
 Casados por um padre jovem, recém saído do seminário e diante de uma imagem da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, pintada em negro - para simbolizar, também, rejeição a preconceitos raciais -, Tadashi e Zoraide recepcionaram os convidados com mesa cardapiada por salmão e champanhe.
 E, se era pra manter sempre acesa a paixão dos gamadíssimos Romeu e Julieta tupiniquins, ele desprezou todos os bens da família e passou a trabalhar como motorista de caminhão, enquanto ela entregou o Jeep da fazenda dos pais e seguiu indo à luta na escola – um Romeu e Julieta sem tragédia física, só econômica. 

                        FOTOS REPRODUZIDAS DA REVISTA O CRUZEIRO

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