Vasco

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domingo, 1 de julho de 2018

16 NO MUNDO DA COPA - VOO DA VITÓRIA

 Após a Seleção Brasileira vencer a Copa do Mundo-2002, em Japão/Coreia do Sul, o presidente da república, Fernando Henrique Cardoso, acertou, por telefone, com o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, a passagem dos campeões por Brasília. Assim, o voo RG 9585 de um Boeing 767 da VARIG deixou o Japão, no início da noite de uma segunda-feira, fez escala técnica em Los Angeles-EUA e gastou 25 horas até pousar na capital brasileira, onde era ponto facultativo para os funcionários públicos.
Voltou  em 2013 e ganhou várias
 capas de revistas
Aquele era o dia 3 de julho de 2002 e, pelos cálculos da Polícia Militar, mais de 500 mil pessoas estavam nas ruas brasilienses  saudando os pentacampeões, que ficaram na cidade por quase oito horas.
Às 12h, sete aviões da Esquadrilha da Fumaça escreveram (e repetiram, por várias vezes), pelo céu bastante azul do Planalto Central a frase “É penta”. Três horas antes, o avião que trazia o time campeão entrara no espaço aéreo do DF e foi escoltado, durante 20 minutos, por cinco caças Mirage e F-5 da Força Aérea Brasileira. Por aqueles momentos, o comandante Almeida, o piloto do caça que liderava a formação, pintado com as cores nacionais, saudou os passageiros do Boeing, orientou um sobrevoo sobre a cidade e falou para o grupo : “Vocês são verdadeiro heróis”.
Naquele momento quem sofria era o comandante varigueano Zanon. Informando de que a rapaziada toda estava se movimentando a bordo, para fotografar e filmar o que viam pelo céu e Brasília, ele teve de segurar a rapaziada. “Gente, vocês devem voltar para os seus assentos. E apertem o cinto de segurança. Vamos pousar a uma velocidade de 300 km/h e pode haver tombos”, avisou. Minutos antes, o treinador Luís Felipe Scolari, o Felipão, acabara de inaugurar um painel exibindo a quinta estrela sobre o escudo da camisa canarinha.
O “Voo da Vitória” pousou às 9h45 na Base Aérea de Brasília, trazendo, também, jornalistas e convidados. Na pista, muita gente já se colocava à caça de autógrafos e de uma fotografia ao lado do ídolo. O capitão Cafu e o treinador Felipão, saíram à janela da cabine dos pilotos, cada um com uma bandeira brasileira, saudando o torcedor candango.

CAFU COM TAÇA - Às 10h10, os ministros Paulo Renato, da Educação, e Caio Carvalho, do Esporte, recepcionaram os jogadores. Com a taça nas mãos, Cafu foi o primeiro a descer do avião. Levantou o caneco para a galera e a banda da unidade militar mandou ver.
A “selepenta” ficou por ali até às 11h15, quando os jogadores desprezaram um caminhão do Corpo de Bombeiros e fizeram o percurso, de 20 quilômetros, até o Palácio do Planalto, em caminhão de um consórcio fabricante de cerveja e refrigerantes. Animados pela cantora Ivete Sangallo e escoltados por batedores da PM, da Marinha e do Exército, o time não viu trajeto fácil. A multidão pelas proximidades da Base Aérea e pela pista que leva ao aeroporto JK obrigou os caminhões (havia um de apoio) a andarem bem lentos. Os brasilienses subiam em árvores, postes, onde pudessem, para saudar os pentas.
Por volta de 12h50, na entrada do Eixão Sul, com temperatura de 22 graus centígrados e a unidade do ar rolando pelos 35%, , o povo ocupou todo o asfalto, acompanhando o trio elétrico em que os jogadores faziam a festa. Quando o relógio já marcava 13h15, Ivete Sangallo juntou Kaká, Edmílson, Roque Júnior, Denílson, Juninho Paulista e Rivaldo para fazerem uma paródia com uma musica que foi uma espécie de hino da Copa-2002. Em vez de cantar “E vai rolar a festas”, eles falavam “E o Brasil pé penta”. Por aquela altura, a seleção estava passando pela SQS 113 Sul.
Faltavam 15 minutos para as duas da tarde, quando um destacamento de cavalaria da PM, na altura do Setor Bancário Sul, também entrou na saudação aos pentacampeões. Os cavalos tinham cinco estrelas pintadas no lombo. Pelo céu via-se papeis picados e balões verdes e amarelos voando. Às 14h15, os jogadores passavam pela Estação Rodoviária, onde pararam, por dez minutos, saudando o povão. Naquele instante, Ronaldinho Gaúcho e Marcos (goleiro) caprichavam na percussão. Às 14h40, a rapaziada já estava diante do Congresso Nacional. Por ali, a Esquadrilha da Fumaça começou a fazer acrobacias, para deleite dos pentacampeões.

SUBIRAM A RAMPA - Exatamente, às três da tarde, a turma do penta começou a subir a rampa do Palácio do Planalto, para ser recepcionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que a esperava desde às 11h30. A rapaziada acenava para a multidão que se concentrava pela Praça dos Três Poderes. Ali, o chefe do governo bebeu chimarrão com o gaúcho Filipão, abraçou e conversou com os atletas, além de beijar a taça, por várias vezes. Dentro do palácio, havia cerca de duas mil pessoas, entre ministros, funcionários do governo, membros do judiciário e parlamentares, muitos deles levando parentes e camisas para serem autografadas, o que foi difícil, dada a algazarra. Sorte teve o vice-presidente Marco Maciel, que conseguiu vários autógrafos.
Ronaldinho Gaúcho, reproduzido de www.cbf.news,com.br
No meio da algazarra, o presidente Fernando Henrique ficou perdido pelo salão nobre, onde rolou a festa. Ele só conseguiu chegar ao parlatório quando os pentacampeões já haviam saído. Perdeu de ver Felipão batendo palmas e dançando ao som da banda baiana Olodum. Mas entendeu tudo como resultado da “emoção de ver os jogadores chegando”, após mostrarem que “o Brasil tem garra e determinação”.E gabava-se de “ter organizado uma festa bonita” para os jogadores.
Pouco depois que Cafu e Felipão erguerem a taça do penta, no parlatório do Palácio do Planalto, a Seleção Brasileira embarcou em dois ônibus e voltou ao avião que os lavaria ao Rio de Janeiro, após meia-hora de estada na casa. Antes, às 15h15, o presidente da República condecorou toda a rapaziada com a medalha da Ordem do Mérito Nacional. Animadíssimo, o volante Vampeta, usando uma camisa do Corinthians, coreografou três cambalhotas pela rampa do palácio. Durante as piruetas, perdeu a medalha que recebera do presidente. Mas Edmílson a reencontrou, na rampa. De sua parte, o goleiro Marcos, com a jaqueta do Palmeiras, ajoelhou-se e abriu os braços, repetindo um gesto que ficou rotineiro durante o Mundial. Naquele dia, valia tudo, depois de 3h30 minutos de percurso entre a Base Aérea e o Palácio do Planalto, quando o povão, comemorando, consumiu 720 mil litros de bebias, segundo estimativas do Sindicato dos Bares, Restaurantes de Brasília. Ninguém era de ferro.

LÚCIO E KAKÁ – Maria Olindina saiu de casa às 9h00, para se reencontrar com seu filho e zagueiro pentacampeão mundial Lúcio. Vestiu um tailleur azul-marinho e não dispensou os sapatos de salto alto. Da mesma forma, um outro filho que a acompanhava, Luciano, três anos mais novo do que Lúcio, caprichou na elegância. Usou um terno preto com a chamada risca de giz e sapatos de couro engraxadíssimos.
Às duas da tarde, sem ter conseguido comer nada, Maria Olindina encontrou-se com Simone Cristina dos Santos, a mãe do meia e Kaká. Às 14h45, as duas acreditavam que, finalmente, iriam rever os seus rebentos. Naquele instante, o trio elétrico que levava a equipe chegou ao Palácio do Planalto. O locutor da casa anunciou: “Senhoras e senhores, vamos receber os jogadores da Seleção Brasileira, pentacampeã mundial”.
Maria Olindina só viu Lúcio de longe. Simone teve mais sorte. Kaká a distinguiu no meio da multidão, correu pela rampa e conseguiu trocar um abraço com a mãe. No meio do povão, por volta de 70 parentes do meia são-paulino Kaká diziam presente, levando uma camisa canarinha com o nome do jogador . Às15h18, o nome de Lúcio foi chamado para receber a Medalha da Ordem do Mérito Nacional. Quando ele voltava para o ônibus que levaria a turma ao Aeroporto JK, Luciano tentou se aproximar, mas foi contido pela segurança.
Maria Olindina, também, não conseguiu falar com o seu pentacampeão mundial. Mas brincava, dizendo que, quando nada, havia ganho um chocolate de uma torcedora e dado autógrafo para quem não havia conseguido. “Peguei a caneta e escrevi: Maria Olindina, mãe do Lúcio. Fazer o quê?”
O zagueiro Lúcio reproduzido de www.cbf.news.com.br
Maria Olindina havia preparado o prato predileto de Lucimar da Silva Ferreira –churrasco com feijão tropeiro, arroz de forno, mandioca e farofa – para esperar pelo o zagueiro que tinha 24 anos na época do penta. De sobremesa, musse de maracujá. Até armou, com um grupo pagodeiro, tocar as músicas preferidas pelo pentacampeão. 
Lúcio, no entanto, não apareceu. Ao sair do Palácio do Planalto, foi para a casa de parentes de sua mulher, que havia lhe dado o primeiro filho enquanto ele disputava a Copa do Mundo. Às 19h, ele acenava, de cima de um outro trio elétrico, para os do Cruzeiro. “Eu sempre vivi em Brasília. É um orgulho trazer para a cidade um pedacinho do penta”, disse ele, pelo microfone do trio elétrico em que era homenageado.

BRASÍLIA QUENTE – Julho é um mês de temperaturas baixas na capital brasileira. Embora ela sempre tivesse carregado a pecha de “cidade fria”, não foi isso o que os pentacampeões sentiram no dia em que a visitaram. “Nunca vi nada igual. Foi um negócio impressionante. Este é o verdadeiro povo brasileiro”, considerou o lateral-esquerdo Roberto Carlos, quando os repórteres conseguiram chegar nele.“Sabíamos que seríamos recebidos com festa, mas não esperávamos por uma comemoração tão grande”, revelou o meia-atacante Ronaldinho Gaúcho, que distribuiu dezenas de autógrafos na Base Aérea.
Se bem que, autógrafos, até Nélio Nazário de Lima, o pai do artilheiro Ronaldo“Fenômeno”, foi solicitado, quando descoberto dentro do Palácio do Planalto. Ele tentou driblar a rapaziada, dizendo que o astro é o seu filho, não ele. Mas não escapou de soltar o jamegão no papel dos caçadores de assinaturas.
Tinha razão o presidente Fernando Henrique, quando disse que “a festa superou as expectativas”. No meio da euforia, ele, também, autografou camisas da Seleção. E não se esqueceu de afagar o ego do meia Rivaldo, que havia cobrado dele a sua falta de apoio, antes da Copa.

POLÍTICOS– Se 2002 era um ano eleitoral, nada de anormal que os políticos se assanhassem com a chegada dos pentacampeões mundiais. Por exemplo, a candidata a vice-presidente da república (na chapa encabeçada por José Serra, apoiado pelo presidente Fernando Henrique), a deputada Rita Camata (PSDB-ES) foi para o meio do povão, em frente ao Palácio do Planalto, quando a Seleção chegava. De sua parte, o deputado Tarcísio Perondi (PMDB-RS), irmão de Emílio, presidente da Federação Gaúcha de Futebol, lutou para chegar perto dos atletas. E conseguiu, levando alguns colegas à reboque. Joaquim Roriz, o governador do DF, no máximo, conseguiu ficar na última fila da arquibancada onde estavam os jogadores, que foram vistos de longe pelos políticos e ministros dentro do Palácio do Planalto.
No lado direito do salão da recepção estava a família de Kaká, que foi até a turma. No serviço médico do Palácio do Planalto, pelo menos, 15 crianças foram atendidas, devido pisões e mal-estar, por estarem com fome. Quando a multidão rompeu o cordão de isolamento e a casa virou um pandemônio, os políticos se mandaram. Enquanto os jogadores estavam no parlatório, o presidente da Câmara, deputado Aécio Neves (PSDB-MG), fugia com a filha Gabriela, de 8 anos, para o terceiro andar, território do presidente FHC. O líder do governo na Câmara, deputado Arthur Virgílio (PSDB-AM) também não conseguiu chegar ao parlatório. E outros e outros mais, dentre eles o senador alagoano Renan Calheiros, futuro presidente do Senado.
José Sarney reproduzido de www. josesarney.org

À SAÍDA dos atletas do parlatório, a segurança distribuiu empurrões e safanões. Até os bombeiros tiveram de ajudar a conter a histeria coletiva dos caçadores de autógrafos e de fotografias ao lado do campeão. Seguramente, quem se deu melhor foi o chefe da delegação na Copa do Mundo, Weber Magalhães, de 44 anos e presidente da Federação Metropolitana de Futebol. Homem de confiança do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, ele era candidato a deputado, pelo PFL. 
Além de subir ao trio elétrico que levou a Seleção, da Base Aérea até o Palácio do Planalto, empunhando a bandeira nacional e caindo no samba, foi o primeiro a descer do carro, para as homenagens palacianas. Depois, ainda acompanhou o grupo ao Rio e a São Paulo pegando carona em tudo o que rolava ao lado dos atletas. Mesmo assim, não se elegeu.
Na Câmara e no Senado, os servidores correram em busca de TVs, para acompanhar a festa. Os corredores por onde passavam, diariamente, cerca de 20 mil pessoas, estavam vazios e a maioria dos gabinetes fechados. Nos comitês de imprensa das suas casas, nenhum jornalista. No Senado, apenas três senadores diziam presente: José Sarney (PMDB-AP), Nabor Júnior (PMDB-AC) e Ney Suassuna(PMDB-PB).
Para aquele dia, estava marcada, para as 15h, uma sessão conjunta do Congresso, quando deputados e senadores discutiriam a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Mas teve de ser adiada, para as 17h, e só aconteceu à noite.
Menos sorte tivera uma comitiva liderada pelo ministro da economia e comércio exterior da Líbia, Shukri Ghanin. Com visita agendada com bastante antecedência, foi comparecer ao Congresso, exatamente, às 14 horas de um dia em que os pentacampeões mundiais estavam chegando. Naquele instante, o presidente do Senado, Ramez Tebet estava do outro lado da rua, no Palácio do Planalto, sem querer perder a festa do penta. Ninguém queria ficar fora dessa!

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