Vasco

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sábado, 24 de fevereiro de 2018

63 - O VENENO DO ESCORPIÃO - UM MUNDO PORTUGUÊS D´ALÉM MAR NO RIO ANTIGO

Quando o presidente português Craveiro Lopes visitou o Brasil, entre final de maio e parte de junho de 1957, no Rio de Janeiro, foi como se ele estivesse em uma extensão da porta de sua casa.
 O Rio conservava marcas deixadas pelos primeiros portugueses que por aqui se instalaram, deixando no visitante a impressão de que o seu Portugal era, também, uma “terrinha d´aquém mar”, do outro lado do Atlântico.
 Inúmeras seriam as opções que o Craveiro poderia escolher fora de sua agenda oficial, para  sentir-se em Portugal. Por exemplo, haveria à sua disposição 36 instituições portuguesas de cunho cultural, beneficentes, folclóricas ou comerciais.
 Entre tais instituições, havias, dedicadas a danças regionais lusitanas, como as Casas das Beiras; dos Açores; dos Poveiros; do Minho; da Vida da Feira e da Terra de Santa Maria. Se preferisse distrair os ouvidos, teria ao seu dispor o coro do Orfeão de Portugal (com 34 anos de presença na cidade), o Orfeão Português e o som da Banda Lusitana.
Se Craveiro Lopes quisesse sentir-se no meio de muita gente, a opção seria ir a um jogo do Club de Regatas Vasco da Gama, em São Januário, onde a presença seria muito mais de patrícios do que de brasileiros. 
 No caso de selecionar um ambiente particularmente familiar, haveriam os cunhados José e Antônio, a mulher deste e a filha, na casa de nº 267 do suburbano Braz de Pina, à Rua Paraíba, onde vivia o segundo citado,  irmão de Dona Berta, a primeira dama portuguesa – José morava em Parada de Lucas, mas visita-lo por lá  não seria possível, devido a sua rua ser inacessível a automóveis.
 O Portugal carioca d´aquém mar” tinha intensa atividade para o seu povo. Entre outras, podiam ser na anotados: Real Gabinete Português de Leitura; Liceu Literário Português; Câmara Portuguesa de Comércio; Banco de Portugal; Obras de Assistência aos Portugueses Desamparados; Centros Alcoforense, Santa Cruzense e Trasmontano; Casas do Porto e de Portugal; Banda Portugal e Caixa de Socorros Don Pedro V.
 Dessas instituições, a mais antiga – incluída no programa oficial de visitas do presidente Craveiro Lopes – era o Real Gabinete Português de Leituras, com  120 de vida carioca e um acervo superior a 12 mil livros, revistas, opúsculos e outras publicações editadas em Portugal.
Primeira instituição fundada depois do Brasil independente – criada em 14 de maio de 1837 – o Gabinete funcionava em prédio de arquitetura manuelina – muitos achavam que fosse uma igreja da Rua Luís de Camões, próximo da Praça Tiradentes – e era mantido, exclusivamente, pela comunidade portuguesa na cidade.      
 VIA NADA FÁCIL – O  imigrante português desembarcante no Rio de Janeiro, quase sempre, empregava-se com o pequeno comerciante patrício que, praticamente, dominava a economia citadina e pagava-lhe o salário mínimo.
A imigração portuguesa sempre foi tema sempre presente na imprensa brasileira
Só em 1955, haviam chegado ao Brasil 21.264 portugueses, dos quais 2.901 trabalhavam no comércio. Dessa turma, 13.360 estavam solteiros; 7.481 casados; 395 viúvos e 28 desquitados, sendo 15.688 alfabetizados, ou semi, e 5.576 analfabetos. Mais: 23.640 naturalizaram-se brasileiros, entre a Proclamação da República (em 1889) e 1955, ou apenas 10% de todas as naturalizações.
Pesquisadores sociais brasileiros constataram que os dois grandes motivos da imigração portuguesa para o Brasil da década-1950 era o pequeno tamanho do território da “terrinha” – 560 quilômetros para abrigar cerca de nove milhões de almas, ou uma densidade demográfica de 98 habitantes por quilômetro quadrado – e a afinidade do idioma. Assim, em 80% de suas famílias, havia sempre alguém que atravessara o Atlântico. 
 Tais portugueses chegavam com os bolsos vazios e gastavam cerca de 10.950 dias para se arrumarem economicamente e formarem famílias com filhos e netos brasileiros. Muitos do que voltavam a Portugal viajavam como comendadores de alguma ordem religiosa, beneméritos de instituições beneficentes e sócios remidos do Vasco da Gama. Na “terrinha”, eram chamados de “brasileiros” e não demoravam a sentir saudade do Brasil.
                                              

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