A maricota
rolava, há 23 minutos, pelo green
da Colina quando, de repente, um alambrado caiu, a bagunça deixou 168 pessoas
feridas e o rebu tocou para mais de 30 mil almas que conferiam a final do
Campeonato Brasileiro – daquela vez, batizado por Copa João Havelange -, entre
Vasco da Gama e o surpreendente paulista São Caetano-SP.
Faltavam
dois dias para o final do Século 20 e a pugna vinha sendo transmitida, pela TV
Globo, para 17 milhões de brasucas e
gente de outros 26 países. Rápido, apareceu na telinha helicópteros voando
sobre as quatro linhas do gramado e
ambulância circulando por onde era a bola que deveria rolar. Pra completar, o
presidente vascaíno Eurico Miranda invadiu o pedaço e apareceu mais do que todos
os artistas, expulsando da cena quem estivesse por ali, para recomeçar a
partida.
Era
impossível. Não havia clima. Tanto que o governador do Estado do
Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, mandou fechar o circo, no que Eurico Miranda o chamou de “incompetente e frouxo”.
Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, mandou fechar o circo, no que Eurico Miranda o chamou de “incompetente e frouxo”.
Governador xingado – e prometendo processar
Eurico -, pintou abertura para os políticos aparecerem. O senador, Antônio
Carlos Magalhães, presidente do Senado, classificou Eurico por ‘louco,
desvairado”, e defendeu a quebra de sua imunidade parlamentar.
Um outro
senador, Álvaro Dias, presidindo Comissão Parlamentar de Inquérito-CPI que
anunciava levantar bandalheiras no futebol brasileiro, acusou Eurico de comportamento “criminoso” e
defendeu castigo para o vascaíno. De sua parte, Eurico o acusou de ter
”um grave problema sexual”.
”um grave problema sexual”.
Enquanto
isso, o presidente das Câmara, deputado Michel Temer (futuro presidente da
República, devido ao impeachment da
presidente Dilma Roussef, quando ele era o vice), enviou à Corregedoria queixa
da CPI contra Eurico, acusando-o por quebra de decoro parlamentar. E mandou
dizer que, se houvesse pedido de quebra de imunidade parlamentar,
imediatamente, o processaria.
Para
Eurico Miranda ser processado, o Supremo Tribunal Federal deveria pedir
autorização e a Câmara dos Deputados concedê-la. No lance: nesse jogo, o
corporativismo sempre foi ativo. Mais? A
Bancada da Bola – deputados
oriundos do futebol - fechou com o
cartola vascaíno,sem falar que os donos do poder na Casa não poderiam dispensar
os votos dos deputados do Partido Progressistas Brasileiro-PPB, a legenda de
Eurico.
Resultado: CPI do Futebol, ameaças de quebra de imunidade parlamentar
e de processos, queixas à PM-RJ, contra o Vasco da Gama, por parte de
torcedores pagantes naquela tarde do 30 de dezembro de 1999, nada disso
funcionou. Após o Vasco a Gama a cartolagem vascaína brigar muito na Justiça Comum e o clube ficar
presidido por seu antigo goleador Roberto Dinamite – 2008 a 2014 - , o cartolão
Eurico Miranda, carioca nascido em 7 de junho de 1944, voltou e mandou no clube
até o seu último dia de vida – 12 de março de 2019.
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