Celeste
Augusta Rodrigues Menezes não gostava de futebol. Mas a sua irmã Alci estava a
fim de entender do riscado. Em um domingo, ela encheu o seu saco da maninha,
para acompanhá-la até o Maracanã, onde o seu namorado, o “xerifão” vascaíno
Rafagnelli, estaria jogando, contra o Botafogo. Celeste fez de tudo para não
ir, mas não escapou.
Chegando ao estádio, quando rolava a
preliminar dos aspirantes, já não havia mais cadeiras disponíveis. Ao ver
aquela mocinha em pé, desolada, um cavalheiro ofereceu-lhe o assento. Falaram-se
e ele contou-lhe da sua graça, dizendo-se chamar Ademir Marques de Menezes. Quem?
Celeste não tinha a mínima ideia de quem seria. E muito menos de que a maioria de
todo aquele povão estaria ali por causa dele. Sem falar que achou o seu queixo muito
esquisito.
Pouco
depois, despediram-se. Quando o jogo principal rolou, Celeste viu um sujeito
fazendo misérias com a bola. Não era aquele rapaz que, há pouco, lhe oferecera
a sua cadeira? Pois era!
LENDAS: 1 - Ademir, ao marcar o único gol da partida, correra
pra diante do setor das cadeiras de pista, acenando e oferecendo o tento a
Celeste, que gostara da homenagem; 2 - Rafagnelli saíra de campo contundido, e a
sua namorada fora ao vestiário do Vasco, visitá-lo, levando Celeste, que ali
conhecera Ademir. Depois do jogo, o “Queixada” conseguira, com Rafagnelli, o
telefone da moça, um brotinho de, apenas, 16 anos e que trabalhava como
datilógrafa. Falaram-se à noite e marcaram um encontro.
Tempos de noivado |
DETALHE:
em 1945, o Vasco não venceu o Botafogo, por 1 x 0, com gol de Ademir, mas de
Djalma. Por aquele tempo, era pouco provável que os cartolas ou o treinador
vascaíno, o uruguaio Ondino Vieira, permitissem a entrada de duas mocinhas em
um vestiário machista.
Lendas à parte, o certo foi que o namoro
evoluiu para noivado e troca de alianças, na igreja da Candelária, em 23 de
abril de 1948. Acostumado a marcar gols – até aquela data, já contabilizava 85,
como profissional –, quando adentrava ao templo, rumo ao altar, o artilheiro
ouviu os presentes gritarem: “Gol! Gol de Ademir!” Torcida que ele nem
convidara: “Foi uma dificuldade chegar ao altar. A cerimônia esteve
interrompida, por várias vezes”, o que fez o vigário jurar que, a partir
daquele dia, naquela paróquia, só casariam reservas de Bonsucesso, Olaria,
Madureira e São Cristóvão. E olhe lá! “Quase não recebi cumprimentos”, contou
Ademir à revista “O Cruzeiro”, sobre a confusão.
Mais
do que amarradão, Ademir passou as primeiras 24 horas do seu novo estado civil,
no Hotel Serrador. No dia seguinte, o casal viajou à mineira Cambuquira, onde
um cinegrafista indiscreto não lhes dava sossego. O que já o fizera, dentro da
Candelária, o fotógrafo da revista “Vida do Crack”, que flagrou esta imagem dos
noivos genuflexos.
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