Em 1952, o Brasil era um mundo que cabia
dentro de um rádio. Cantores e jogadores de futebol eram adorados, com seus
feitos, delirantemente, sensibilizando as pessoas. O goleador Ademir Menezes,
do Vasco da Gama, por exemplo, teria mais votos do que o presidente Getúlio
Vargas, em uma eventual eleição disputada pelos dois.
Por causa da força do rádio, superfeitos de superheróis
não anunciados pelos microfones não abalavam multidões. Caso de cinco cinco
homens que partiram do Rio Portengi, em Natal-RN, com destino ao Rio de
Janeiro, navegando durante quatro meses, por uma iole - barco estreito e leve
-, no braço e na raça.
Foi uma tremenda aventura, de 3.704
quilômetros, desenfreada por Ricardo Severiano da Cruz, de 63 de idade e mentor
da aventura; Luiz Enéas dos Santos (52); Antônio de Souza Duarte (51); Oscar
Simões Filho (4) e Waltr Fernandes (27).
Era o dia 30 de março quando eles partiram do
Rio Grande do Norte, levando na bagagem só uma inacreditável coragem. Após um
mês, remando por mar enfurecido, atingiram a divisa de Sergipe com a Bahia, e
viram um vagalhão destruindo a sua nave. Como eram bons nadadores e remavam sempre
juntos, conseguiram fugir dos tubarões e chegar a uma praia.
O
problema não os fez os cinco homens desistirem. Voltaram a Natal e recomeçaram
tudo. Iole refeita, eles foram até o comando da Marinha na capital poltiguar e pediram
uma carona e foram bem arcados em um caça-subamarino que os levou para o mesmo
ponto onde haviam sido contidos pelo vagalhão.
Como não foi possivel uma nova partida do local do acidente, em 18 de
janeiro de 1953 ele “‘releargaram”, mas de Aracaju, a capital sergipana, quando
os primeiros raios de sol clareavamo mar. E foram parar na Baía de
Guanabara.
Não foi fácil concluir o percurso. Os cinco
chegaram a passar 32 horas no mar, sem água doce para beber e nada para se
alimentarem. Normalmente, remavam 10 horas consecutivas, diariamente, e nunca
pernoitavam sobre as águas. Paravam em portos e praias desabitadas. De uma
dessas, caminharam por 42 quilômetros para comprar cigarros e alimentos,
normalmente, sanduíches, em pequena quantidade, o que lhe deixava
subalimentados.
Pena que eles não tiveram recepção apoteótica
no Rio de Janeiro. Mereciam, mas a façanha não rendeu manchete e nem cometários
do povão, que não sabia de nada. Depois, algumas revistas cariocas noticiaram e
publicaram fotos. Muito pouco para o tamanho da intrépida aventura.
Passadas 32 temporadas, o paulista Amir Klik, aos
58 de idade, partia do porto de
Lüderitz, na Namíbia, no 10 de junho de 1984, para atravessar o Oceano
Atlântico, remando, também, por até 10 horas diárias, sozinho, em um pequeno
barco que foi parar na Praia da Espera, na Bahia, em 18 de setembro. Foi a
primeira experiência no gênero.
Os
sete sete mil quilômetros remados por Amir, entre a costa africana e a baiana
Salvador - carregava 275 litros de água potável, alimentos desidratados, poucos
remédios e equipamentos -, renderam o livro “Cem dias entre céu e mar”, que ficou por 31 semanas na lista dos livros mais
vendidos. Ao contrário dos potiguares, ele
tornou-se herói nacional, pois a comunicação midiática de sua época já caçava feitos espetaculares.
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