Vasco

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sábado, 23 de fevereiro de 2019

O VENENO DO ESCORPIÃO - VELHINHOS QUE DOMINARAM O OCEANO ATLÂNTICO

    Em 1952, o Brasil era um mundo que cabia dentro de um rádio. Cantores e jogadores de futebol eram adorados, com seus feitos, delirantemente, sensibilizando as pessoas. O goleador Ademir Menezes, do Vasco da Gama, por exemplo, teria mais votos do que o presidente Getúlio Vargas, em uma eventual eleição disputada pelos dois.

 Por causa da força do rádio, superfeitos de superheróis não anunciados pelos microfones não abalavam multidões. Caso de cinco cinco homens que partiram do Rio Portengi, em Natal-RN, com destino ao Rio de Janeiro, navegando durante quatro meses, por uma iole - barco estreito e leve -, no braço e na raça.
 Foi uma tremenda aventura, de 3.704 quilômetros, desenfreada por Ricardo Severiano da Cruz, de 63 de idade e mentor da aventura; Luiz Enéas dos Santos (52); Antônio de Souza Duarte (51); Oscar Simões Filho (4) e Waltr Fernandes (27).
 Era o dia 30 de março quando eles partiram do Rio Grande do Norte, levando na bagagem só uma inacreditável coragem. Após um mês, remando por mar enfurecido, atingiram a divisa de Sergipe com a Bahia, e viram um vagalhão destruindo a sua nave.  Como eram bons nadadores e remavam sempre juntos, conseguiram fugir dos tubarões e chegar a uma praia.
O problema não os fez os cinco homens desistirem. Voltaram a Natal e recomeçaram tudo. Iole refeita, eles foram até o comando da Marinha na capital poltiguar e pediram uma carona e foram bem arcados em um caça-subamarino que os levou para o mesmo ponto onde haviam sido contidos pelo vagalhão.  Como não foi possivel uma nova partida do local do acidente, em 18 de janeiro de 1953 ele “‘releargaram”, mas de Aracaju, a capital sergipana, quando os primeiros raios de sol clareavamo mar. E foram parar na Baía de Guanabara.     
 Não foi fácil concluir o percurso. Os cinco chegaram a passar 32 horas no mar, sem água doce para beber e nada para se alimentarem. Normalmente, remavam 10 horas consecutivas, diariamente, e nunca pernoitavam sobre as águas. Paravam em portos e praias desabitadas. De uma dessas, caminharam por 42 quilômetros para comprar cigarros e alimentos, normalmente, sanduíches, em pequena quantidade, o que lhe deixava subalimentados. 
 Pena que eles não tiveram recepção apoteótica no Rio de Janeiro. Mereciam, mas a façanha não rendeu manchete e nem cometários do povão, que não sabia de nada. Depois, algumas revistas cariocas noticiaram e publicaram fotos. Muito pouco para o tamanho da intrépida aventura.
 Passadas 32 temporadas, o paulista Amir Klik, aos 58 de idade, partia do porto de  Lüderitz, na Namíbia, no 10 de junho de 1984, para atravessar o Oceano Atlântico, remando, também, por até 10 horas diárias, sozinho, em um pequeno barco que foi parar na Praia da Espera, na Bahia, em 18 de setembro. Foi a primeira experiência no gênero.
Os sete sete mil quilômetros remados por Amir, entre a costa africana e a baiana Salvador - carregava 275 litros de água potável, alimentos desidratados, poucos remédios e equipamentos -, renderam o livro “Cem dias entre céu e marque ficou por 31 semanas na lista dos livros mais vendidos. Ao contrário dos potiguares,  ele tornou-se herói nacional, pois a comunicação midiática de sua época já  caçava feitos espetaculares.

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