Vasco

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sábado, 16 de fevereiro de 2019

O VENENO DO ESCORPIÃO - 'SUPERSACAS'

É difícil encontar rapaziada que goste tanto de uma sacanagem como a brasileira. Tem patota que faz até estatística das “sacas”, ficando com créditos para desconto quando apronta alguma. Se o carinha cobra: “Porra! Puta sacanagem você fez comigo, hem?” O outro responde: “Você, ainda, me deve duas”. E fica tudo em casa, isto é, na mesa do boteco.
As três “sacas’ que você vai ler a seguir, são, realmente, “super-sacas-ducarvalho”. Confira:

PIMENTA NA GARRAFA – A cantora gaúcha Eli Regina havia chegado ao Rio de Janeiro para tentar alavancar a carreira. Arrumou um trampo para fazer contraponto, cantando uma duas, três músicas, enquanto Iris Lettieri, com aquela sua voz deslumbrante, recitava poemas, na boate Bottles, no Beco das Garrafas.
Em começo de careira, Elis gravou até uns roquinhos
 Encerrada a temporada de Iris, sem programação imediata para substituí-la, a casa propôs a Elis   fazer um show solo. E ela foi à luta, com acompanhamento de Otavinho Bayle,  Luís Carlos Vinhas e Roni Mesquita, feras do Jazz e da Bossa Nova. Emplacou. Deslumbrou o Rio de Janeiro. A Bootles lotava para ouvi-la, ao ponto de gente sentar-se no chão para não perder o show da gauchinha.
 De repente, Elis começou a faltar às sextas-feiras e aos sábados. O público ameaçava quebrar a boate e o proprietário, Alberico Campana, ficava desesperado, só ouvindo desaforos. Quando Elis aparecia, dizia ter faltado por ter ficado rouca, completamente afônica, pelo desgaste das cordas vocais nos dias anteriores.
 Num desses dias em que Elis não apareceu, um cara que foi à Bootles, por acaso, depois do show, falou para o diretor do espetáculo que ele precisava conhecer uma garota que ele vira cantando em Curitiba. E encheu-lhe a bola, sugerindo mandar busca-la. O homem pediu informações à turma das noitadas curitibanas e descobriu que a cantora era quem? E a demitiu  - que “saca” com a Boltles, hem? Sem Elis, a casa ficava às moscas.

A CONDESSA DE ARAQUE – Maysa cantava muito e adorava, ainda mais, passar trotes na rapaziada. Aprontava horrores. Certa vez, ele encomendou, a uma casa chique de São Paulo, o envio de dezenas de pizzas e galetos, e deu o endereço da mansão do seu ex-marido e ricaço  André Matarazzo.
Uma 'condessa' com dois olhos não pacíficos
 Quando a encomenda chegou, foi aquela discussão com os entregadores. Um dizia não ter feito o pedido e os outros garantindo que sim. Até que o Matarazzo sacou que aquilo só poderia ter sido sacanagem de Maysa. Pagou a conta e ligou para ela que, na maior cara de pau, respondeu: “Veja se me esquece, cara. Já faz tanto temp que larguei você. Se manca!”
 Bem pior, muito, muto mais, Maysa fez com o multimídia Ronaldo Bôscoli, que dirigira shows dela pelo Chile, Uruguai e Argentina. Por sinal, nesse país, a imprensa a chamava por “Condessa Cantante”, em alusão ao seu sobrenome, o do conde Francisco Matarazzo.
 De sacanagem, Ronaldo dizia ser Maysa uma “condessa de araque”.  Por conta disso, ela preparou-lhe duas terríveis sacanagem. Telefonou para os jornais brasileiros, dizendo pretender fazer uma “revelação bomba” logo após a sua chegada. E deixou Bôscoli de queixo caído, ao declarar que ficara noiva e iria casar-se com ele, que era noivo de Nara Leão. Tempos depois, o convidou para dirigir um show dela, em São Paulo, dizendo que seria o último no Brasil, pois estava de mudança para a Espanha.  Mandou o cara pegar em um taxi, por conta dela,  seguir, imediatamente, para “Sampa”, e não se preocupar com o cachê,que garantia ser bom.
 Bôscoli fez o que ela mandou e se mandou. Ao chegar à casa de Maysa, encontrou um bilhete, dizendo: “A condessa de araque partiu para sempre. Adeus, Maysa”. 

REI EM REPETECO – O diretor de TV, Augusto César Vanucci, levou uma equipe da Globo para gravar um clip com Roberto Carlos, em Cachoeiro do Itapemirim, a terra deste, no Espírito Santo. E considerou ter ficado muito bom, com o cara sentado em uma cadeira, cantando e olhando, pela janela de um trem as paisagens que curtira em seus tempos de garoto.
 Vanucci considerou o resultado final muito bom. E a rapaziada comemorou com Roberto. Quando eles iam entrar no carro para irem embora, o cara lembrou-se de ter esquecido da capa do seu violão dentro do vagão. Voltou para apanha-lo e, o que aconteceu, não dá para acreditar: Roberto viu o que procurava em cima da cadeira de numero 13, onde sentara-se para gravar. Obrigou a produção a refazer tudo, porque era superticioso – também, não passava por debaixo de escada, não usava roupa marrom e não saía por porta que não fosse a que entrara, ente outas superstições.
 Pobre Vancci! Teve que passar mais quatro horas repetindo tudo o que fora gravado.

JUDEU MALANDRO  - O  fotógrafo Gervásio Batista vivia pedindo aumento salarial ao  patrão Adolpo Bloch, em sua época de revista Manchete. O  homem o enrolava, enrolava, pedindo-o passar depois em sua sala, de onde ele sempre mandava a secretária dizer que estava em uma ligação telefônica, resolvendo problemas com os bancos, e que iria demorar.               
Em foto da EBC, Gervásio quando fotografou a
guerra no Vietnam, durante a década-1960
 Gervásio não perdia a esperança de “morder” uma graninha a mais do patrão. Diariamente, mesmo sabendo que iria receber a mesma resposta da secretária, tentava ser recebido.  Um dia, pegou o Bloch chegando à sua sala e achou que, daquela vez, o homem não lhe escaparia. Ao vê-lo, o "Titio Dodô", como Gervásio o apelidava, foi mais rápido. Sapecou: “Gervásio, que bom lhe encontrar. Você tem aí alguma grana pra me emprestar? Se eu não pagar, hoje, uma promissória ao banco, vão me tomar tudo, até as minhas cuecas.
 Passado alguns dias, Gervásio voltou a encher o saco do Bloch. E, de tanto encher o saco, este chamou-lhe no cantão e o indagou: “Quando você quer de aumento?” Gervásio pediu Cr$ 100 cruzeiros, e o homem ofereceu-lhe Cr$ 50; Gervásio abaixou a pedida para R$ 90, e ouviu a contraproposta de Cr$ 45. Quando pediu Cr$ 80, o Bloch ofereceu a metade. Gervásio respondeu-lhe que iria embora, procurar um outro emprego. E ouviu: “Gervásio, quem é o judeu aqui, eu ou você?” – e terminou aceitando as Cr$ 40 merrecas que, segundo ele, nunca pingaram em seu salário.           


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