É
difícil encontar rapaziada que goste tanto de uma sacanagem como a brasileira. Tem
patota que faz até estatística das “sacas”, ficando com créditos para desconto
quando apronta alguma. Se o carinha cobra: “Porra! Puta sacanagem você fez
comigo, hem?” O outro responde: “Você, ainda, me deve duas”. E fica tudo em
casa, isto é, na mesa do boteco.
As três “sacas’
que você vai ler a seguir, são, realmente, “super-sacas-ducarvalho”. Confira:
PIMENTA
NA GARRAFA – A cantora gaúcha Eli Regina havia chegado ao Rio de Janeiro para
tentar alavancar a carreira. Arrumou um trampo para fazer contraponto, cantando
uma duas, três músicas, enquanto Iris Lettieri, com aquela sua voz
deslumbrante, recitava poemas, na boate Bottles,
no Beco das Garrafas.
Encerrada a temporada de Iris, sem programação
imediata para substituí-la, a casa propôs a Elis fazer um show solo. E ela foi à luta, com
acompanhamento de Otavinho Bayle, Luís
Carlos Vinhas e Roni Mesquita, feras do Jazz e da Bossa Nova. Emplacou.
Deslumbrou o Rio de Janeiro. A Bootles
lotava para ouvi-la, ao ponto de gente sentar-se no chão para não perder o show
da gauchinha.
Em começo de careira, Elis gravou até uns roquinhos |
De repente, Elis começou a faltar às
sextas-feiras e aos sábados. O público ameaçava quebrar a boate e o
proprietário, Alberico Campana, ficava desesperado, só ouvindo desaforos.
Quando Elis aparecia, dizia ter faltado por ter ficado rouca, completamente
afônica, pelo desgaste das cordas vocais nos dias anteriores.
Num desses dias em que Elis não apareceu, um
cara que foi à Bootles, por acaso,
depois do show, falou para o diretor do espetáculo que ele precisava conhecer
uma garota que ele vira cantando em Curitiba. E encheu-lhe a bola, sugerindo
mandar busca-la. O homem pediu informações à turma das noitadas curitibanas e
descobriu que a cantora era quem? E a demitiu
- que “saca” com a Boltles,
hem? Sem Elis, a casa ficava às moscas.
A CONDESSA DE
ARAQUE – Maysa cantava muito e adorava, ainda mais, passar trotes na rapaziada.
Aprontava horrores. Certa vez, ele encomendou, a uma casa chique de São Paulo,
o envio de dezenas de pizzas e galetos, e deu o endereço da mansão do seu
ex-marido e ricaço André Matarazzo.
Uma 'condessa' com dois olhos não pacíficos |
Bem pior, muito, muto mais, Maysa fez com o
multimídia Ronaldo Bôscoli, que dirigira shows dela pelo Chile, Uruguai e
Argentina. Por sinal, nesse país, a imprensa a chamava por “Condessa Cantante”,
em alusão ao seu sobrenome, o do conde Francisco Matarazzo.
De sacanagem, Ronaldo dizia ser Maysa uma
“condessa de araque”. Por conta disso,
ela preparou-lhe duas terríveis sacanagem. Telefonou para os jornais brasileiros,
dizendo pretender fazer uma “revelação bomba” logo após a sua chegada. E deixou
Bôscoli de queixo caído, ao declarar que ficara noiva e iria casar-se com ele,
que era noivo de Nara Leão. Tempos depois, o convidou para dirigir um show dela,
em São Paulo, dizendo que seria o último no Brasil, pois estava de mudança para
a Espanha. Mandou o cara pegar em um
taxi, por conta dela, seguir,
imediatamente, para “Sampa”, e não se preocupar com o cachê,que garantia ser
bom.
Bôscoli fez o que ela mandou e se mandou. Ao
chegar à casa de Maysa, encontrou um bilhete, dizendo: “A condessa de araque
partiu para sempre. Adeus, Maysa”.
REI EM
REPETECO – O diretor de TV, Augusto César Vanucci, levou uma equipe da Globo
para gravar um clip com Roberto Carlos, em Cachoeiro do Itapemirim, a terra
deste, no Espírito Santo. E considerou ter ficado muito bom, com o cara sentado
em uma cadeira, cantando e olhando, pela janela de um trem as paisagens que
curtira em seus tempos de garoto.
Vanucci considerou o resultado final muito
bom. E a rapaziada comemorou com Roberto. Quando eles iam entrar no carro para
irem embora, o cara lembrou-se de ter esquecido da capa do seu violão dentro do
vagão. Voltou para apanha-lo e, o que aconteceu, não dá para acreditar: Roberto
viu o que procurava em cima da cadeira de numero 13, onde sentara-se para
gravar. Obrigou a produção a refazer tudo, porque era superticioso – também,
não passava por debaixo de escada, não usava roupa marrom e não saía por porta
que não fosse a que entrara, ente outas superstições.
Pobre Vancci! Teve que passar mais quatro
horas repetindo tudo o que fora gravado.
JUDEU
MALANDRO - O fotógrafo Gervásio Batista vivia pedindo
aumento salarial ao patrão Adolpo Bloch,
em sua época de revista Manchete. O
homem o enrolava, enrolava, pedindo-o passar depois em sua sala, de
onde ele sempre mandava a secretária dizer que estava em uma ligação telefônica,
resolvendo problemas com os bancos, e que iria demorar.
Em foto da EBC, Gervásio quando fotografou a guerra no Vietnam, durante a década-1960 |
Passado alguns dias, Gervásio voltou a encher
o saco do Bloch. E, de tanto encher o saco, este chamou-lhe no cantão e o
indagou: “Quando você quer de aumento?” Gervásio pediu Cr$ 100 cruzeiros, e o
homem ofereceu-lhe Cr$ 50; Gervásio abaixou a pedida para R$ 90, e ouviu a
contraproposta de Cr$ 45. Quando pediu Cr$ 80, o Bloch ofereceu a metade.
Gervásio respondeu-lhe que iria embora, procurar um outro emprego. E ouviu:
“Gervásio, quem é o judeu aqui, eu ou você?” – e terminou aceitando as Cr$ 40
merrecas que, segundo ele, nunca pingaram em seu salário.
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