O zagueirão que virou ginásio de esportes em subúrbio da Bahia
Quando eu tinha por volta dos meus 14 de iade e só havia visto em campo atletas da Bahia, pra mim, não poderia haver defensor melhor do que o Nélson Cazumbá, do Leônico, de Salvador. Nunca chegava atrasado em um lance, era dificílimo de ser vencido em disputas diretas por bola e parecia ter molas nas chuteiras, pela suas impressionante impulsão. Por causa daquilo, o Bahia o contratou para ser zagueiro de área.
Os torcedores baianos achavam que
Cazumbá fosse o apelido da fera, mas era nome de família mesmo, de descendentes
que mantiveram o sobrenome familiar mesmo durante o período escravista, um
etnônimo vindo da região central da África, do grupo etimolinguístico Cazumbi,
Zimbi, Nzumbi, originário do Kibundo Nzumbi.
Defensor regularíssimo,
principalmente como lateral-direito, Nélson Cazumbá nunca era badalado pela
imprensa baiana. Para mim, fora um absurdo ele não ser convocado para a Seleção
Brasileira que iria tentar o tri na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. E
posso garantir que, se ele tivesse naqueles Brasil 1 x 3 Portugal, que
eliminaram o time canarinho, a coisa seria diferente. Alertado por seus
espiões, o técnico brasileiro do selecionado português, Oto Glória, armou esquema
para a sua rapaziada explorar as deficiências do lateral-direito brazuca Fidélis, que estava mal
fisicamente. E não deu outra. Por ali rolou o vexame canarinho. Duvido que
tivesse acontecido se a camisa dois amarelinha estivesse nos costados de Nélson
Cazumbá.
Me senti vingado da injustiça da
CBD, não levando Nélson Cazumbá para a Copa-66, quando ele foi a superfera da
defesa do Leônico na conquista do título de campeão baiano daquela temporada,
vencendo, em melhor de três, o campeão baiano de 1965, o “grande” Vitória, por
2 x 1, em 17 de abril de 1967 (campeonato atrasou-se), na Fonte Nova, com gols
(2) de Zé Reis, diante de 20.313
pagantes – Gomes; Nélson Cazumbá, Bel,
Biguá e Petrônio; Bolinha e Careca; Gagé, Armandinho, Zé Reis e Geraldo foi o
time que, nas 10 vitórias e dois empates (só uma queda, na melhor de três) teve
o Nelsão por peça fundamental.
Em 1969, mais uma vez, o Vitória ficou pra trás diante da raça de Nélson
Cazumbá, com o Leônico campeão do Torneio Cidade de Feira de Santana, com as participações,
ainda, de Fluminense Bahia locais. Em 1971, o Esporte Clube Bahia queria o
bicampeonato estadual, e o técnico Sylvio Pirilo (lançou Pelé na Seleão
Brasileira) pediu reforço para a lateral-direita, onde só contava com Zé Oto.
Foram atrás de Nélson Cazumbá, que ganhou o seu segundo título estadual - Aguiar, Zé Oto (Nelson Cazumbá), Roberto Rebouças e Souza; Baiaco e
Elizeu; Adilson, Sanfilippo, Amorim (Zé Eduardo) e Carlinhos (Nilo) foi o
time-base.
Campeão, em 1972, do primeiro
Torneio Incentivo disputado na Bahia (criado pela Confederação Brasileira de
Desportos-CBD para não deixar clubes parados), o Leônico queria mais e achou que, para voltar a vencer a disputa,
precisaria da energia de Nélson Cazumbá em sua defensiva. O repatriou e ele o ajudou a carregar os
canecos de 1975/1976/1977/1978 - França;
Robson, Nelson Cazumbá, Santos e Florisvaldo; Roberto Oliveira (Newton) e Luís
Ferreira; Vando, Jair, Piolho (Ventilador) e Chiquinho foi o time-base das
última conquista.
Em 1977, o Leônico deixou
Salvador e instalou-se no município de Simões Filho, a 20 km da capital. Por
ali, Nelson Cazumbá conquistou o título do Torneio Prefeito Jonga Simões, com as participações,
ainda, do Bahia e das seleções da cidade e de Lauro de Freitas. Também, pelo
novo endreço, sagrou-se, simbolicamente, tetracampeão
baiano-1978/1979/1980/1981- do interior,
tendo, na derradeira destas temporadas vivido o seu último Leônico, como
atleta, por este time-base: Iberê; Bira, Ademir, Silveira e Zé Maria (Nélson
Cazumbá); Renato, Douglas e Luiz Ferreira; Joãozinho, Chiquinho (Hamilton) e
Sabino.
Em 1982, ao 39 de idade, veteraníssimo, Nélson Cazumba foi convidado pelo presidente do Leônico, João Guimarães, para ser o auxiliar-técnico do treinador Pinguela (João Paulo de Oliveira), ex- jogador do Fluminense, Bangu e Bahia, entre outros. Em 29 de março de 2012, três meses após ele se tornar uma pessoa espiritual, o Governo da Bahia prestou-lhe a homeangtem que a imprensa esportiva baiana sempre lhe negoue, inaugurando ginásio com o nome dele, no bairro Nova Brasília de Valéria, equipado com quadra poliesportiva, vestuário, palco e arquibancada para 400 pessoas, dentro das festividades de comemorações das 463 viradas de calendário de Salvador – muito merecida.
https://jornaldebrasilia.com.br/blogs-e-colunas/historias-da-bola/nelson-cazumba/
Publicado pelo Jornal de Brasília de 02.03.20-25 e trazido para cá pelo Túnel do tmepo
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