Quando um dos
grandes heróis da história moderna, o general francês Charles De Gaulle, que
presidira o seu país, veio ao Brasil, em 1964, o cerimonial do Palácio dos
Bandeirantes, em São Paulo, exigiu a presença da tenista Maria Esther Bueno
durante, a recepção ao visitante, no Jockey Clube paulistano.
Para chegar lá, sem contratempos, a
Estherzinha, como a imprensa a chamava, precisou cobrir-se com um cobertor e esconder-se, agachada,
junto ao banco traseiro do carro. Se a vissem, De Gaulle teria que esperar
muito por ela. Como o presidente brasileiro Juscelino Kubitscheck, que bebera
um chá de cadeira, em 1959, após ela conquistar, pela primeira vez, o inglês
Torneio de Wimbledon, nas disputas individuais (simples).
Por vários anos, Maria Esther Bueno foi a
“rainha do esporte brasileiro”. Sangue azul preparado, desde 1640, para ser
injetado em suas veias. Por aquela época, quando foi restaurado o reino de
Portugal, seu antepassado Amador Bueno teve a coroa de Rei do Brasil lhe
oferecida pelos paulistas, mas a rejeitou.
Quem não conhecer a saga da Estherzinha tem este lançamento para conhece-la |
O reinado de Esther começou em 1958,
quando ela jogou ao lado da norte-americana Althea Gibson e a dupla venceu a
disputa do mais charmoso torneio do planeta, em Londres. Dois anos antes, ela
era tão desconhecida pelos patrícios, que a mais importante revista esportiva
brasileira, a Manchete Esportiva, do Grupo Bloch, a chamava de Maria Bueno,
sobrenome que remontava aos familiares da cidade paulista de Amparo. Mas o seu
chamamento por nome duplo já estava à beira da quadra, para entrar em cena.
DEZ TEMPORADAS - Entre 1958 e 1968, Maria Esther Bueno esteve na lista das 10
melhores do tenistas do mundo, a hoje “top tem”, como a imprensa prefere
chamar, para valorizá-la por uma língua globalizada. Como ela ganhava a
maioria das suas competições, há historiadores que lhe conferem 589 títulos,
dos quais 170 em quadras estrangeiras. Mas, como não se dava muita importância
às estatísticas, antigamente, e a carreira dos astros do passado só são
remontadas, hoje, por meio de pesquisas em jornais e revistas, a Estherzinha
tem em conta, corretamente, vitórias em 19 torneios Grand Slam, três dos quais
em Wimbledon – o circuito passava, ainda, por Roma, Austrália, Estados Unidos e
França, nesta nas quadras de Roland Garros, onde Gustavo Kuerten, o Guga,
venceu três.
Quando a Estherzinha brilhava, não havia os
milionários patrocínios atuais e nem direito de escolha da disputa. Os tenistas
teriam de obedecer ao regulamento e não discutir se a quadra era dura, de
saibro, ou de grama, bem como encarar jogos individuais, em duplas e duplas
mistas. Para ela, até que foi bom, pois teve a oportunidade de jogar ao lado dos
“asrtraços” das década-1950/1960, os australianos Rod Laver e Roy Emerson.
SEM PIEDADE - A dureza dos regulamentos dos tempos de Maria
Esther, certa vez, a deixou cerca de 20 horas dentro de uma quadra. Pior eram
as viagens. Ela chegou a gastar 60 horas para chegar à Austrália, na
déada-1950, pois não havia aviões a jato para todas as partes do planeta. Nas
quadras, não havia bancos para os tenistas descansarem. Um chapéu e um gelo era
o máximo para encarar três “sets”, sem “tie break” – os homens jogavam cinco.
Quando Guga – ganhador de 16 títulos de
ATP-Associação dos Tenistas Profissionais, (três em Roland Garros) e número 1
do ranking mundial ao final de 2000 – ainda era juvenil, não sabia quem era
Maria Esther Bueno. Muito antes dele e por três temporadas, ela já havia
ocupado aquela posição na turma das garotas. Mais? Ganhara verbete na
Enciclopédia Britânica e fora convidada a almoçara com a rainha da Inglaterra.
Além de ter sido recebido por vários outros monarcas, papas e chefes de governo,
entre eles a também inglesa Margareth Tatcher.
A www.sigladesign.com.br produziu esta bela arte com a campeoníssima. Agradecimento do Kike pela reprodução. |
Chamada de “maravilhosa”, pela Duquesa de
Kent, o apreço da família real por Maria Esther Bueno sempre foi tão grande que,
depois que ela não jogava mais como profissional pediram-lhe para dar aulas de tênis para
princesa Diana e os seus filos William e Harry.
Das grandes vitórias de Estherzinha, a que
mais lhe marcou foi na final de Wimbledon-1964. Ela havia passado uma temporada
sem jogar, por conta de uma cirurgia de apendicite. Contanto com a simpatia do
público que a vira vencer naquela quadra, em 1958/1959, ela foi pra cima da
australiana Margareth Court, campeã em 1963, um mulherão de 1m80cm de altura,
malhadíssima em academias de ginástica. Mas ela, com 1m69cm de altura, superou
tudo e ganhou, mais uma vez, a mais charmosa disputas do tênis mundial.
BISTURI - Maria Esther Bueno, que chegou a passar por 15
cirurgias ao longo da carreira, viveu, também, sem projetarr, uma das mais “sexy histories” do tênis. Seguinte:
o estilista Ted Tiling encantou-se pelo seu jeito latino e o estilo de jogo. E
passou a produzir para ela roupas de todos os tipos, jamais deixando-a repetir
um modelo. Em 1958, só se jogava vestido de branco, em Wimbledon. Então, Ted entregou-lhe um saiote todo branco
por fora, com forro rosa-choque. Pronto! Quando ela ia sacar e a galera via
aquela novidade, gritava: “Uuuuuauuuu!”.
E o “shocking pink” emplacou fama para quem havia vencido, pela primeira vez lá
fora, aos 17 anos de idade, em Roma – todos os caminhos da Esterizinha não a
levaram. Partiram de Roma.
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