Selo homenageou o grande brasileiro |
Bernardo
Sayão graduara-se em Agronomia, mas do que ele gostava mesmo era de fazer
construções, principalmente de estradas e de pontes. Viver, de terno e gravata,
dentro de uma sala de despachos, era-lhe um suplício.
Eleito
vice-governador de Goiás, devido problema eleitoral que atrasou a posse do
governador, foi na marra que ele sentou-se na cadeira do outro, para ele,
cadeira para um paralíticos. Seu negócio era usar roupa de peão de obra e
colocar o pé no barro poeirento e na lama.
Como vice-governador, Bernardo Sayão tomou
para si a responsabilidade de comandar
melhorias no aeroporto de Goiânia. Não arredava os pés das obras. Certo
final de tade, um casal chegante o viu aproximando-se do seu carro e achou que
ele fosse um chauffeur de taxi.
Pediu-lhe para deixa-los no hotel tal e ele os atendeu. Colocou bagagem no
carro e foi conversando, animadamente, com os visitantes.
Chegado
ao destino, Sayão retirou do carro os
pertences da dupla e levou-os até a
entrada da casa. O homem tirou antigos 20 cruzeiros do bolso e ofereceu-lhe,
dizendo que pagaria mais do que custaria a corrida, porque ele era um motorista
muito simpático, de boa conversa.
Bernardo
Sayão pegou a grana, a colocou num dos bolsos de sua calça jeans empoeirada e
despediu-se dos novos amigos. Antes de ir embora, ainda escutou hoema
perguntar-lhe se ele se interessaria em fazer outras corridas, pois estava em
Goiânia para a sua mulher visitar parentes. Respondeu que não poderia, pois
tinha outros compromissos já assumidos.
Mesmo assim, o homem anotou a placa do carro
e, ao preencher a ficha de hóspede, entregou o papel com o número anotado ao
porteiro, pedindo-o para guarda-la.
- O senhor é
amigo do Vice-Governdor? – indagou o porteiro.
-
Vice-Governador! – exclamou, assustado, o hóspede.
- Sim! Este
homem que lhe trouxe aqui é o Vice-Governador Bernardo Sayão que, até pouco
tempo, esteve respondendo pelo Governo do Estado.
O
homem ficou embabacado, extático. E seguiu para o apartamenteo que lhe
indicaram, incrédulo.
Reprodução do museu do governo do Distrito Federal |
Dias
depois, Bernado Sayão supervisionava a construção de um trecho da BR-14,
ligando Goiânia a Anápolis, quando o carro parou diante da barraca em que ele
se defendia do sol, em determinados momentos.
Do carro, desceu o padre Cleto Caliman, que havia errado o seu rumo e
parara pra pedir ajuda. Foi atendido por um homem alto, forte, aparentando seus
30 de idade e usando camisa com mangas arregaçadas.
Depois
de obter informações e quando se despedia do homem, o padre Cleto perguntou-lhe
pelo nome e, ao ser informado, indagou:
- Doutor
Bernardo Sayão! Li sobre o senhor no livro “Tera Prometida”. É verdade que o
senhor vai abir um aeroporto em Vera Cruz?
- Já está
aberto, reverendo. Não é bem um aeroporto, mas uma pista, de dois mil metros de
comprimento, aberta por poucas máquinas e uns 200 homens.
Vera
Cruz era como os goianos que ouviam falar na construção de uma nova capital
brasileira dentro do território de Goiás chamavam a futura Brasília. A pista
que Sayão construíra fora para receber o então presidente Café Filho, que
levaria um cardeal e alguns religiosos para rezarem uma missa e abençoarem o
terreno da futura capital.
- Reverendo! Até hoje estou esprando esta
missa ser rezada – disse Sayão, no que o padre Cleto rebateu:
- Pois, então,
eu rezo esta missa, amanhã.
Bernardo
Sayão combinou com o padre Cleto para apanha-lo às 7 da manhã do dia seguinte,
na sede do Ateneu Dom Bosco, em Goiânia. Como o padre queria levar alguns
professores junto com elea, arrumaram mais automóveis e se mandaram, pela
BR-14. Descasaram, um pouco, em Corumbá de Goiás. Sayãop dirigia um Jeep que
pulava muito nos buracos, mas ninguém reclamava.
Sayão ente Israel Pinheiro e Ernesto Silva, reproduzidos do museu do GDF |
Chegados, enfim, a Vera Cruz, a missa foi
iniciada, para o Padre Cleto, pelos colegas salesianos Oswaldo Lobo e Ézio
Daer. No momento em que era feita a bênção dos alimentos – todos estavam muito
famintos -, tiraram farnéis com comidas de um dos carros e comeram frango
frito, farofa e tutu mineiro.
De repente, começou a chover. Sayão pegou um
guarda-chuva – como chovia muito na região, na época, todos levaram protetores
– e cobriu o celebrante e o crucifixo de Jesus Cristo. A chuva, no entanto, foi
rápida. Logo, veio um solão de rachar. E debaixo dele, no 23 de fevereiro de
1956, foi rezada a primeira missa na Vera Cruz dos goianos.
Chegado
1957, com Juscelino Kubitschek presidente da república, no 3 de maio, seu
governo convidou o Cardeal de São Paulo, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos
Motra, para celebrar a primeira missa em Brasília. Foi em um local onde havia
(ainda há) um cruzeiro de madeira, doado pelo prefeito da goiana Uruaçu.
Armaram toldos protetores contra sol e chuva e, na presença das mais altas
autoridades do país, o ato foi celebrado.
Encerrada
a missa, Bernardo Sayão conversava com o padre Oswaldo Sérgio Logo, já nomeado,
em 25 de janeiro de 1957, pela Cúria Metropolitana de Goiânia, primeiro vigário
de Brasília.
-
Só que esta primeira missa não é a primeira, mas a segunda, doutor Sayão –
lembrou o padre.
-
Fale baixo, reverendo. O presidente vem se aproximando de nós. Se ele ouvir
isso, estragaremos a festa do Governo.
Antes que o
presidente JK se aproximasse mais, o padre Lobo ainda teve tempo de indagar:
-E como vai
ficar na história aquela nossa missa do ano passado?
Bernardo Sayão
pensou ultrarrápido e a definiu:
Padro Lobo, aquela foi uma missa clandestina.
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