Vasco

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sábado, 2 de novembro de 2019

O VENENO DO ESCORPIÃO – MISSA PIRATA QUANDO BRASÍLIA AINDA ERA VERA CRUZ

Selo homenageou o grande brasileiro
Bernardo Sayão graduara-se em Agronomia, mas do que ele gostava mesmo era de fazer construções, principalmente de estradas e de pontes. Viver, de terno e gravata, dentro de uma sala de despachos, era-lhe um suplício.
Eleito vice-governador de Goiás, devido problema eleitoral que atrasou a posse do governador, foi na marra que ele sentou-se na cadeira do outro, para ele, cadeira para um paralíticos. Seu negócio era usar roupa de peão de obra e colocar o pé no barro poeirento e na lama.
 Como vice-governador, Bernardo Sayão tomou para si a responsabilidade de comandar  melhorias no aeroporto de Goiânia. Não arredava os pés das obras. Certo final de tade, um casal chegante o viu aproximando-se do seu carro e achou que ele fosse um chauffeur de taxi. Pediu-lhe para deixa-los no hotel tal e ele os atendeu. Colocou bagagem no carro e foi conversando, animadamente, com os visitantes.
Chegado ao destino, Sayão retirou do carro  os pertences da dupla e  levou-os até a entrada da casa. O homem tirou antigos 20 cruzeiros do bolso e ofereceu-lhe, dizendo que pagaria mais do que custaria a corrida, porque ele era um motorista muito simpático, de boa conversa.
Bernardo Sayão pegou a grana, a colocou num dos bolsos de sua calça jeans empoeirada e despediu-se dos novos amigos. Antes de ir embora, ainda escutou hoema perguntar-lhe se ele se interessaria em fazer outras corridas, pois estava em Goiânia para a sua mulher visitar parentes. Respondeu que não poderia, pois tinha outros compromissos já assumidos.
 Mesmo assim, o homem anotou a placa do carro e, ao preencher a ficha de hóspede, entregou o papel com o número anotado ao porteiro, pedindo-o para guarda-la.
- O senhor é amigo do Vice-Governdor? – indagou o porteiro.
- Vice-Governador! – exclamou, assustado, o hóspede.
- Sim! Este homem que lhe trouxe aqui é o Vice-Governador Bernardo Sayão que, até pouco tempo, esteve respondendo pelo Governo do Estado.
O homem ficou embabacado, extático. E seguiu para o apartamenteo que lhe indicaram, incrédulo.
Reprodução do museu do governo do Distrito Federal
Dias depois, Bernado Sayão supervisionava a construção de um trecho da BR-14, ligando Goiânia a Anápolis, quando o carro parou diante da barraca em que ele se defendia do sol, em determinados momentos.  Do carro, desceu o padre Cleto Caliman, que havia errado o seu rumo e parara pra pedir ajuda. Foi atendido por um homem alto, forte, aparentando seus 30 de idade e usando camisa com mangas arregaçadas.
Depois de obter informações e quando se despedia do homem, o padre Cleto perguntou-lhe pelo nome e, ao ser informado, indagou:
- Doutor Bernardo Sayão! Li sobre o senhor no livro “Tera Prometida”. É verdade que o senhor vai abir um aeroporto em Vera Cruz?
- Já está aberto, reverendo. Não é bem um aeroporto, mas uma pista, de dois mil metros de comprimento, aberta por poucas máquinas e uns 200 homens.
Vera Cruz era como os goianos que ouviam falar na construção de uma nova capital brasileira dentro do território de Goiás chamavam a futura Brasília. A pista que Sayão construíra fora para receber o então presidente Café Filho, que levaria um cardeal e alguns religiosos para rezarem uma missa e abençoarem o terreno da futura capital.
 - Reverendo! Até hoje estou esprando esta missa ser rezada – disse Sayão, no que o padre Cleto rebateu:
- Pois, então, eu rezo esta missa, amanhã.
Bernardo Sayão combinou com o padre Cleto para apanha-lo às 7 da manhã do dia seguinte, na sede do Ateneu Dom Bosco, em Goiânia. Como o padre queria levar alguns professores junto com elea, arrumaram mais automóveis e se mandaram, pela BR-14. Descasaram, um pouco, em Corumbá de Goiás. Sayãop dirigia um Jeep que pulava muito nos buracos, mas ninguém reclamava.
Sayão ente Israel Pinheiro e Ernesto Silva, reproduzidos do museu do GDF
 Chegados, enfim, a Vera Cruz, a missa foi iniciada, para o Padre Cleto, pelos colegas salesianos Oswaldo Lobo e Ézio Daer. No momento em que era feita a bênção dos alimentos – todos estavam muito famintos -, tiraram farnéis com comidas de um dos carros e comeram frango frito, farofa e tutu mineiro.
 De repente, começou a chover. Sayão pegou um guarda-chuva – como chovia muito na região, na época, todos levaram protetores – e cobriu o celebrante e o crucifixo de Jesus Cristo. A chuva, no entanto, foi rápida. Logo, veio um solão de rachar. E debaixo dele, no 23 de fevereiro de 1956, foi rezada a primeira missa na Vera Cruz dos goianos.
Chegado 1957, com Juscelino Kubitschek presidente da república, no 3 de maio, seu governo convidou o Cardeal de São Paulo, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motra, para celebrar a primeira missa em Brasília. Foi em um local onde havia (ainda há) um cruzeiro de madeira, doado pelo prefeito da goiana Uruaçu. Armaram toldos protetores contra sol e chuva e, na presença das mais altas autoridades do país, o ato foi celebrado.
Encerrada a missa, Bernardo Sayão conversava com o padre Oswaldo Sérgio Logo, já nomeado, em 25 de janeiro de 1957, pela Cúria Metropolitana de Goiânia, primeiro vigário de Brasília.
- Só que esta primeira missa não é a primeira, mas a segunda, doutor Sayão – lembrou o padre.
- Fale baixo, reverendo. O presidente vem se aproximando de nós. Se ele ouvir isso, estragaremos a festa do Governo.
Antes que o presidente JK se aproximasse mais, o padre Lobo ainda teve tempo de indagar:
-E como vai ficar na história aquela nossa missa do ano passado?
Bernardo Sayão pensou ultrarrápido e a definiu:
 Padro Lobo, aquela foi uma missa clandestina.



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