O cara, realmente, lutou pelo Brasil. Mas não
foi por amor as armas. Tiveram que botar uma boa grana na mão dele. Chamava-se
Thomas Cochrane e teve a sorte de o imperador francês Napoleão Bonaparte querer
dominar a Inglaterra (também). Quando aquele terrível sujeito bom na parte da guerra – de 1803 a 1815, venceu mais de 60 batalhas
– saiu na porrada com os ingleses, Cochrane já era almirante e aprisionou mais
de 50 navios dos coligados franceses e espanhóis. E ficou famoso, é claro!
Cochrane reproduzido de www.nationalgalleries.org |
Fama na praça, Cochrane aproveitou a chance, caiu de pára-quedas
na Câmara dos Comuns e foi pra lá propor combate à corrupção. Evidentemente,
isso não valeria para ele. Acusado por fraudes na Bolsa de Valores de Londres,
foi expulso do Parlamento e da marinha
de Sua Majestade. Era 1814 e ele foi parar na cadeia.
Um dia, Cochrane saiu do xadrez e,
desempregado, arrumou emprego com os revoltosos chilenos, para ajudar a
libertar o país do domínio espanhol. Rolava 1818 e ele levou junto alguns
chegados, companheiros de escaramuças contra a napoleonada. Mercenário velho de guerra, pediu alto pelo serviço,
muito mais interessado no que tiraria dos navios capturados.
Com
pouco mais de duas temporadas no projeto, Thomas Cochrane independeu o Chile e foi morder mais uma graninha com os peruanos,
ajudando el reneral San Martín a
mandar o jugo espanhol para a pêquêpê.
Beleza! A história do sucesso cucaracha cochriano chegou ao
conhecimento do brasileiro (marechal) Felisberto
Caldeira Brant Pontes de Oliveira Horta, que vivia em Londres, com podres lhe
concedidos, pelo Patriarca da
Independência, José Bonifácio de Andrada, para atuar como diplomata
e em missões políticas e burocráticas.
Caldeira acendeu, rapidão, a ideia de que seria de um cabra macho como Cochrane que o Brasil precisaria para mandar Portugal pro mesmo lugar que Chile e Peru mandaram a Espanha. Afinal, dirigido pelas Cortes-Gerais, os portuguinhas não aceitariam a independência brasileira nem que mulher mijasse na parede. E não deu outra!
Caldeira acendeu, rapidão, a ideia de que seria de um cabra macho como Cochrane que o Brasil precisaria para mandar Portugal pro mesmo lugar que Chile e Peru mandaram a Espanha. Afinal, dirigido pelas Cortes-Gerais, os portuguinhas não aceitariam a independência brasileira nem que mulher mijasse na parede. E não deu outra!
Caldeira Brant, reproduzido de funag.gov.br indicou o almirante Thomas Cochrane... |
Para o marechal, o jeito seria pedir
um grana ao Zé Bonifácio, para comprar navios e contratar comandantes e marujos
mercenários na Inglaterra. Além de sugeri-lo levar um papo com Cochrane, o que
foi feito por intermédio do agente brasileiro na Argentina, Correia da Câmara.
Thomas Cochrane
respondeu ao Zé de uma forma em que este não entendeu nada, ficando sem saber
se o carinha topava, ou não. Lhe pareceu estar em cima do muro. No entanto,
pintou pelo Rio de Janeiro, em março de 1823, trazendo consigo os cinco
chegados que estiveram do seu lado no Chile e no Peru.
Sem muita conversa, o
Brasil topou pagar ao Cochrane a mesma grana que ele mordera dos chilenos.
Acertos feitos, ele assumiu o comando da esquadra - nau Pedro I; fragatas Carolina, Piranga,
Niterói e Paraguaçu; corvetas Liberal e Maria da Glória, e os brigues Rio da
Prata, Cacique, Caboclo e Real Pedro – e, de quebra, conseguiu a contratação,
também, dos seus chegados – Jaime Sheperd, Thomas Crosbie, Estevão Clewley e
John Pescoe Grenfell. Pra variar, viu navios repletos de problemas técnicos e
soldados e marinheiros sem nenhuma disciplina. Pra piorar, Caldeira Brant
escrevia a Zé Bonifácio, alertando-o de que só ficaria tranquilo quando os
marinheiros ingleses fossem misturados aos portugueses.
Primeira missão de Cochrane: expulsar da Bahia a forte
esquadra comandada pelo brigadeiro português Inácio Madeira de Melo. Partiu do
Rio de Janeiro no 1 de abril e, sem mentiras, fez o que tinha sido pago para, mesmo encarando a sabotagem da portugada, que tudo fez para que os seus
canhões não funcionassem. Mas não
adiantou. O 2 de julho virou o maior carnaval na Bahia, com Madeira de Melo e
mais de 80 navios fugindo pra
Portugal. A independência brazuca,
porém, ainda não estava consolidada. Pará, Piauí e Maranhão ainda eram cartas
fora do baralho.
... ao Zé Bonifácio, o homem que virou selo |
Ao Maranhão, quando a patota de Cochrane chegou, a maranhada
já havia botado a portugada pra
correr. Só duas semanas depois soube-se que chegara. Libertou mesmo só a ilha
de São Luís e a vila de Alcântara, o que ficou provado, tempão depois, por
documentos pesquisados pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
De sua
parte, o historiador Hermínio Conde o chamou por falso libertador, por tentar passar pelo tal, também, no
Pará. Na verdade, comprovou Conde, o sujeito mandara pra lá o seu chegado
Grenfell, pra espalhar a fakenews de que uma tremenda força naval estava a
caminho de Belém. Assustada, a junta
lusitana governativa virou a casaca, imediatamente.
O Lorde Cochrane ajudou, é verdade, a aniquilar a Confederação do
Equador, quiprocó contra o Império, nascida
em Pernambuco e espalhada pelo Nordeste. Mas, ao voltar ao Maranhão e ser Comandante
em Chefe Militar da Província, praticou várias arbitrariedades, depôs o
governador Manuel Inácio Bruce, tentou arrancar altas granas do poder público maranhenses e emplacou um amigo no comando
dos navios imperiais. Insatisfeito, roubou a melhor fragata brasileira, a
Piranga, e se mandou pra Inglaterra.
O
Brasil até o perdoava, caso ele devolvesse o seu melhor navio. Como não o fez,
demitiu, em 1827, o Primeiro Almirante da Armada Nacional e Imperial, e Marquês
do Maranhão, este título ofertado “pelos grandes serviços prestados ao país” –
serviço melhor fizeram os seus descendentes, que cobraram do Império brasileiro
grana altíssima, alegando soldos atrasados e comissões por presas de guerra.
Pelo decreto 5.828, de 22.11.1874, não foi que o Imperador mandou pagar?
O Brasil imperial era tão bonzinho! Ou o Imperador não anotava nada na caderneta.
O Brasil imperial era tão bonzinho! Ou o Imperador não anotava nada na caderneta.
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