Vasco

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sábado, 26 de outubro de 2019

O VENENO DO ESCORPIÃO - CABRAS MACHOS QUE DESAFIARAM O MAR


Ricardo Cruz, o idealizador
Em 1952, o Brasil cabia dentro de um rádio. Cantores e jogadores de futebol eram adorados, com seus feitos, sempremente e delirantemente, sensibilizando as pessoas. 
O goleador Ademir Menezes, do Vasco da Gama, por exemplo, teria mais votos do que o presidente Getúlio Vargas, em uma eventual eleição disputada pelos dois.
 Por causa da força do rádio, feitos de heróis anônimos não abalavam multidões. Caso de cinco cinco homens que partiram do Rio Portengi, em Natal-RN, com destino ao Rio de Janeiro, navegando durante quatro meses, por uma iole - barco estreito e leve -, no braço e na raça.
 Foi uma tremenda aventura, de 2.000 mil milhas náuticas, desenfreada por Ricardo Severiano da Cruz, de 63 de idade e mentor da aventura; Luiz Enéas dos Santos (52); Antônio de Souza Duarte (51); Oscar Simões Filho (4) e Walter Fernandes (27).
 O dia era o 30 de março, quando eles partiram, levando na bagagem só uma inacreditável coragem. Após um mês remando por mares nada amistosos, uma onda enfurecido quis atrapalhar, pela divisa de Sergipe com a Bahia. Um vagalhão malvado destruiu quase que toda a iole.
 Como os cinco homens eram bons nadadores e remavam sempre juntos, conseguiram fugir dos tubarões e chegar a uma praia. O problema, no entanto, não os fez desistir. Regreassaram a Natal e construíram um outro barco idêntico.
 Iole refeita, os cinco foram até o comando da Marinha na capital potiguar, solicitaram a permissão do Ministério da Marinha e foram levados, com a embarcação, por um caça-subamarino que os deixou no mesmo ponto onde haviam sido contidos pelo vagalhão.  
Despedida dos amigos no Rio Potengi, em Natal-RN
 O calendário marcava 18 de janeiro de 1953, quando os intrépidos remadores recomeçaram tudo. Como não foi possível uma nova partida do local do acidente, eles largaram de Aracaju, a capital sergipana, com os primeiros raios de sol clareando o mar - e foram parar na Baía de Guanabara.     
 Não foi fácil, porém, concluir o percurso. A turma contou à revista semanária carioca “O Cruzeiro” ter chegado a passar 32 horas no mar sem água doce para beber e nenhum alimento. Normalmente, remavam 10 horas consecutivas, diariamente, e nunca pernoitavam sobre as águas, pernoitando em portos e praias desabitadas. De uma dessas, caminharam por 42 quilômetros para comprar cigarro e alimentos, normalmente sanduíches, o que não poderia ser em grande quantidade, mesmo deixando-os subalimentados. 
 Pena que eles não tiveram recepção de heróis no Rio de Janeiro. Bem que mereciam, mas a tremenda façanha não fora noticiada pelo rádio.
A solidariedade brasileira ajudando a tirar 180 quilos do mar
 Passadas 32 temporadas, o paulista Amir Klink (58 de idade), partia do porto de  Lüderitz, na Namíbia, no 10 de junho de 1984, para atravessar o Oceano Atlântico, remando por até 10 horas diárias, sozinho, em um pequeno barco que foi parar na Praia da Espera, na Bahia, em 18 de setembro.
Foi a primeira experiência no gênero  e os sete sete mil quilômetros remados por ele, entre a costa africana e a baiana Salvador - carregava 275 litros de água potável, alimentos desidratados, poucos remédios e equipamentos -, rendeu o livro “Cem dias entre céu e mar”, que permaneceu 31 semanas na lista dos livros mais vendidos. Ao contrário dos potiguares,  tornou-se herói nacional, pois a comunicação midiática de sua época já  caçava feitos espetaculares.

OBS: como se observa, as fotos contendo anotações são de álbuns  de recordação dos participantes da aventura. Além da revista O Cruzeiro, uma outra carioca, a Careta, noticiou o fato, ambas com rica ilustração de imagens.





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