Vasco

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sábado, 18 de abril de 2020

O CORONAVÍRUS ALEMÃO


Não é de hoje que o brasileiro vive clima com ares de coronavírus, a praga surgida em 1931 e que voltou, no último dia de 2019, pela cidade chinesa de Ulham.
 Em 1943, quando a II Guerra Mundial rolava e navios brazucas eram torpedeados pela Alemanha, os moradores do Rio de Janeiro foram obrigados a ficar em casa, com luzes apagadas, durante toda a noite. Não foi ordenada, e nem sugerida, uma quarentena com o a de agora, mas tinha sentido parecido, pois a policia ia atrás dos desobedientes.
 A ventania para aquilo começou na segunda quinzena de janeiro do 1942, quando uma conferência de chanceleres pan-americanos, realizada na Cidade Maravilhosa, teve o brasileiro Oswaldo Aranha propondo ruptura de relações diplomáticas, políticas e comerciais com a Alemanha e seus aliados do Eixo.
Ventou forte, com a Alemanha querendo impedir a navegação brasileira  com destino aos Estados Unidos. E a coisa ficou, ainda, mais feia, quando a nossa aviação atacou submarinos nazistas no mar de Fernando de Noronha, levando Adolf Hitler a ameaçar bombardear nossas cidades litorâneas, especialmente o Rio de Janeiro, a capital do país. No entanto, ele preferiu afundar 36 das nossas embarcações e matar cerca de mil brasileiros, em caçadas pelo Atlântico Norte, o mar do Caribe e as costas da Bahia e de Sergipe.
 Foi o que motivou o governo Getúlio Vargas a encampar companhias aéreas e navios alemães e italianos ancorados no país, partindo para a guerra. O povo exigia. Mas enquanto exigia a paranoia de ataques nazistas fazia a população carioca ouvir sirenes, imaginar aviões e submarinos de Hitler chegando para atacar a cidade. Imediatamente, começavam-se exercícios de defesa civil, com uso de máscaras contra gás.
Hoje, em tempos de coronavírus, neste março, o presidente Jair Bolsonaro decretou o Estado de Calamidade Pública. Em 31 de agosto de 1942, o presidente Getúlio Vargas canetava o Estado de Guerra.
 Como hoje, com o povo recomendado a mudar a sua rotina, ficando sob quarentena, no Rio-1942 as autoridades determinaram (não pediram) que as residências – edifícios e casas à beira mar (ainda haviam) tivessem as janelas trancadas e recebessem cortinas pretas, para impedir qualquer visgo de luz que pudesse sinalizar vida para submarinos alemães que sairiam das profundezas do mar, pregavam as autoridades.
A paranoia era até o de manos. De repente, pintava um blecaute total na Cidade Maravilhosa, que tornava-se "horrorosa". O clima de histeria por conta da ameaça nazista só trouxe um  bem ao povo do Rio de Janeiro: a demissão do truculento, cruel e detestado Chefe de Polícia, Felinto Müller, que ameaçava atacar, bater, trucidar grupos de estudantes que organizassem protestos contra as barbárie dos alemães pelos mares e costas brasileiras. Só ele era contra, para não ter o seu poder desafiado. Terminou preso, por ordem do Ministro ds Relações Exteriores, Vasco Leitão da Cunha, sob a acusação  de desacato à sua autoridade. Vargas apoiou a decisão e o povo ficou livre do homem mau.
Vargas queria ver o povo nas ruas, lhe apoiando. E viu. Sem os cassetetes de Felinto Müller, houve passeata estudantil, com cartazes e faixas de apoio ao governo que passara execrar Hitler - antes, flertava com o Eixo e até lhe entregou Olga Benário, a mulher do líder comunista Luís Carlos Prestes e que os nazistas a mataram.
 O clima paranoico daquele 1942 provocou, ainda, quebra-quebra de estabelecimento comerciais montados por cidadãos alemãs na capital do país, e só foi terminar quando a Alemanha se rendeu. Enfim, o Rio pôde acender todas as suas luzes durante as noites cariocas. Não era mais preciso a polícia de Felinto Mülller mandar o dono da casa fiar no escuro.

        

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