Não é de hoje que o brasileiro vive clima com ares de coronavírus, a
praga surgida em 1931 e que voltou, no último dia de 2019, pela cidade chinesa
de Ulham.
Em 1943, quando a II Guerra Mundial rolava e navios brazucas eram torpedeados pela Alemanha, os moradores do Rio
de Janeiro foram obrigados a ficar em casa, com luzes apagadas, durante toda a
noite. Não foi ordenada, e nem sugerida, uma quarentena com o a de agora, mas
tinha sentido parecido, pois a policia ia atrás dos desobedientes.
A ventania para aquilo começou na segunda quinzena de janeiro do
1942, quando uma conferência de chanceleres pan-americanos, realizada na Cidade
Maravilhosa, teve o brasileiro Oswaldo Aranha propondo ruptura de relações
diplomáticas, políticas e comerciais com a Alemanha e seus aliados do Eixo.
Ventou forte, com a Alemanha querendo impedir a navegação
brasileira com destino aos Estados Unidos. E a coisa ficou, ainda, mais feia,
quando a nossa aviação atacou submarinos nazistas no mar de Fernando de
Noronha, levando Adolf Hitler a ameaçar bombardear nossas cidades litorâneas,
especialmente o Rio de Janeiro, a capital do país. No entanto, ele preferiu
afundar 36 das nossas embarcações e matar cerca de mil brasileiros, em caçadas
pelo Atlântico Norte, o mar do Caribe e as costas da Bahia e de Sergipe.
Foi o que motivou o governo Getúlio Vargas a encampar companhias
aéreas e navios alemães e italianos ancorados no país, partindo para a guerra.
O povo exigia. Mas enquanto exigia a paranoia de ataques nazistas fazia a
população carioca ouvir sirenes, imaginar aviões e submarinos de Hitler
chegando para atacar a cidade. Imediatamente, começavam-se exercícios de defesa
civil, com uso de máscaras contra gás.
Hoje, em tempos de coronavírus, neste março, o presidente Jair Bolsonaro
decretou o Estado de Calamidade Pública. Em 31 de agosto de 1942, o presidente
Getúlio Vargas canetava o Estado de Guerra.
Como hoje, com o povo recomendado a mudar a sua rotina, ficando
sob quarentena, no Rio-1942 as autoridades determinaram (não pediram) que as
residências – edifícios e casas à beira mar (ainda haviam) tivessem as janelas
trancadas e recebessem cortinas pretas, para impedir qualquer visgo de luz que
pudesse sinalizar vida para submarinos alemães que sairiam das profundezas do
mar, pregavam as autoridades.
A paranoia era até o de manos. De repente, pintava um blecaute total
na Cidade Maravilhosa, que tornava-se "horrorosa". O clima de
histeria por conta da ameaça nazista só trouxe um bem ao povo do Rio de
Janeiro: a demissão do truculento, cruel e detestado Chefe de Polícia, Felinto
Müller, que ameaçava atacar, bater, trucidar grupos de estudantes que
organizassem protestos contra as barbárie dos alemães pelos mares e costas
brasileiras. Só ele era contra, para não ter o seu poder desafiado. Terminou
preso, por ordem do Ministro ds Relações Exteriores, Vasco Leitão da Cunha, sob
a acusação de desacato à sua autoridade. Vargas apoiou a decisão e o povo
ficou livre do homem mau.
Vargas queria ver o povo nas ruas, lhe apoiando. E viu. Sem os
cassetetes de Felinto Müller, houve passeata estudantil, com cartazes e faixas
de apoio ao governo que passara execrar Hitler - antes, flertava com o Eixo e
até lhe entregou Olga Benário, a mulher do líder comunista Luís
Carlos Prestes e que os nazistas a mataram.
O clima paranoico daquele 1942 provocou, ainda, quebra-quebra
de estabelecimento comerciais montados por cidadãos alemãs na capital do país,
e só foi terminar quando a Alemanha se rendeu. Enfim, o Rio pôde acender todas
as suas luzes durante as noites cariocas. Não era mais preciso a polícia de
Felinto Mülller mandar o dono da casa fiar no escuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário