Vasco

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domingo, 5 de abril de 2020

O DOMINGO É UMA MULHER BONITA - MÃE BERÉ, A APARADEIRA DE BARREIRENSES

Foto reproduzida de calendário que circulou por Barreiras pela década-1980
  No Brasil de antigamente, muito antes desses tempos pós-modernos, todo menino ou menina que nascia pelo interiorzão onde a Medicina voltava quando faltava duas léguas pra chegar, tinha duas mães: a que pariu e a parteira.
 Uma dessas aparadeiras cheias de filhos - as vezes, elas eram até mais virgens do que a Nossa Senhora engravidada pelo Espírito Santo, segundo a obsessão da anta Madre Igreja Católica Apostólica Romana – era a Mãe Beré.
 - Bença, Mãe Beré! – era sagrado ela ouvir, quando saía pelas ruas de Barreiras, Angical e outras torrões da Bahia–Oeste.
- Deus te abençoe! Você é filho de quem? – ela indagava, pois não tinha como gravar a genealogia de toda a filharada.
 Berenice Marques de Souza, a Mãe Beré, nascera barreirense, em 1914, tinha uma recomendação sagrada para nenhuma recém-mãe ficar buchuda:
 - Pelos próximos oito dias, você só vai comer pirão de galinha. E passar 30 de resguardo - no mais era só esperar pelo sucesso de mais um parto natural.
 - Pegar menino é a profissão mais bonita do mundo - garantia.
  Mãe Beré assistiu tal trabalho, pela primeira vez, em 1930. Malmente terminou de assunta-lo, decidiu-se a ser tão competente no ofício quanto a Mãe Benzin. Passava, de uma semana a um mês, na casa da parideira, e não deixava empregada e nem tia banhar o rebento. Era coisa só dela, até o umbigo cair.
- Beré! Quero ver se você vai ser tão chata, assim, quando parir – cobravam as tias corujas.
 - Isso nunca vai acontecer, pois todo namorado meu me larga, porque largo ele pra cuidar de menino - tinha a resposta na pontas da língua.  
 Verde!  Ficou pra titia, ou melhor, pra mãe torta, como brincava. Acima dela, em seu serviço, em Barreira, só os doutores Herculanito e Samuel, que nunca a repreenderam. Por sinal, quando um outro doutor, o Daniel, tornou-se papai, chamou-a para receber o analfabetinho.
 Mãe Beré estudou – no barreirense Colégio Costa Borges - só até o  hoje definido por primeiro grau. Aposentou-se recebendo uma miséria, queixava-se. Mesmo assim, criava e encaminhava para a vida muitos filhos de mães desajuizadas, que sumiam nesse mundão de Meu Deus, criticava.
 Já velhinha, ela movia-se dentro de casa ajudada por um andador, ou uma cadeira de rodas. De vez em sempre, entrava pela sua sala de visitas um prefeito, ex-prefeito, presidente da câmara de vereadores; deputado estadual, professora, médico, juiz, promotor, advogado, engenheiro, comerciante bem de vida, economista, enfim, representantes desses ofícios modernos, gritando:
- Bença, Mãe Beré! 
- Deus te abençoe, meu filho! 
E olhava pra pessoa e indagava:
-Você é filho de quem mesmo? - a idade já não lhe permitia alembrar de tantos filhos.           

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