No Brasil de antigamente, muito antes desses
tempos pós-modernos, todo menino ou menina que nascia pelo interiorzão onde a
Medicina voltava quando faltava duas léguas pra chegar, tinha duas mães: a que
pariu e a parteira.
Uma dessas aparadeiras cheias de filhos - as
vezes, elas eram até mais virgens do que a Nossa Senhora engravidada pelo
Espírito Santo, segundo a obsessão da anta Madre Igreja Católica Apostólica Romana – era a Mãe Beré.
- Bença, Mãe Beré! – era sagrado ela ouvir,
quando saía pelas ruas de Barreiras, Angical e outras torrões da Bahia–Oeste.
-
Deus te abençoe! Você é filho de quem? – ela indagava, pois não tinha como gravar
a genealogia de toda a filharada.
Berenice Marques de Souza, a Mãe Beré, nascera
barreirense, em 1914, tinha uma recomendação sagrada para nenhuma recém-mãe ficar buchuda:
- Pelos próximos oito dias, você só vai comer
pirão de galinha. E passar 30 de resguardo - no mais era só esperar pelo sucesso
de mais um parto natural.
- Pegar menino é a profissão mais bonita do
mundo - garantia.
Mãe Beré assistiu
tal trabalho, pela primeira vez, em 1930. Malmente terminou de assunta-lo, decidiu-se a ser tão competente no ofício quanto a Mãe Benzin. Passava, de uma semana a um mês, na
casa da parideira, e não deixava empregada e nem tia banhar o rebento. Era coisa só dela, até o umbigo cair.
-
Beré! Quero ver se você vai ser tão chata, assim, quando parir – cobravam as
tias corujas.
-
Isso nunca vai acontecer, pois todo namorado meu me larga, porque largo ele pra
cuidar de menino - tinha a resposta na pontas da língua.
Verde!
Ficou pra titia, ou melhor, pra mãe torta, como brincava. Acima dela, em
seu serviço, em Barreira, só os doutores Herculanito e Samuel, que nunca a repreenderam. Por sinal, quando um outro doutor, o Daniel, tornou-se papai, chamou-a para receber o analfabetinho.
Mãe Beré estudou – no barreirense Colégio
Costa Borges - só até o hoje definido por
primeiro grau. Aposentou-se recebendo uma miséria, queixava-se. Mesmo assim,
criava e encaminhava para a vida muitos filhos de mães desajuizadas, que sumiam nesse mundão de Meu Deus, criticava.
Já velhinha, ela movia-se dentro de casa ajudada por um andador, ou uma cadeira de rodas. De vez em sempre, entrava pela sua sala de visitas um prefeito, ex-prefeito, presidente da câmara de vereadores; deputado estadual, professora, médico, juiz, promotor, advogado, engenheiro, comerciante bem de vida, economista, enfim, representantes desses ofícios modernos, gritando:
Já velhinha, ela movia-se dentro de casa ajudada por um andador, ou uma cadeira de rodas. De vez em sempre, entrava pela sua sala de visitas um prefeito, ex-prefeito, presidente da câmara de vereadores; deputado estadual, professora, médico, juiz, promotor, advogado, engenheiro, comerciante bem de vida, economista, enfim, representantes desses ofícios modernos, gritando:
-
Bença, Mãe Beré!
- Deus te abençoe, meu filho!
E olhava pra pessoa e indagava:
-Você é filho de quem mesmo? - a idade já não lhe permitia alembrar de tantos filhos.
- Deus te abençoe, meu filho!
E olhava pra pessoa e indagava:
-Você é filho de quem mesmo? - a idade já não lhe permitia alembrar de tantos filhos.
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