Certa manhã, em Brasília, a “Comunidade
Solidária, presidida pela socióloga Ruth Cardoso – esposa do então presidente
da República, Fernando Henrique Cardoso –, celebrava, no Palácio do Planalto, comemorações
pelo “Dia Internacional da Mulher”. Eu havia esquecido os meus óculos de lentes
brancas no carro e saído, com os
escuros, sem me atentar.
Rolaram
homenagens, discursos e, na hora da
imprensa atacar, corri para colocar a Primeira Dama, ao vivo, no programa “Bom
Dia Brasília”, da Rádio Nacional, que é do Governo. Espantada pela velocidade
olímpica com que cheguei até ela, Dona Ruth exclamou: “Calma, playboy?” – os
óculos de lentes escuras determinaram a minha classificação, pois estes eram um
símbolo dos antigos playboys “brasucas”.
A partir
dali, passei a só comparecer aos seus eventos com os “óculos de playboy”, já
que ela levava tudo na esportiva e me concedia
entrevistas sorrindo, sempre, me chamando pelo apelido que pegou, até o final
do Governo FHC. Os colegas que cobriam a Presidência da República, de
sacanagem, só me chamavam assim, tendo corroborado para isso eu ter
namorado duas filhas de governadores nordestinos, uma de deputado federal e uma
linda assessora de um senador desquitado que chegou a governador e a chefe da
nação. Sem falar que era figurinha carimbada em todas as festas, bodas e
batizados de Brasília.
DIA DESSSES, dentro de uma livraria brasiliense,
ouvi alguém dizer: “Playboy está fora de moda”. Não peguei o início do enredo,
mas juro que trata-se de “ledo engano”, como diriam arquitetos de língua
portuguesa de antigamente. Eles seguem vigentes, em plena evidência. Da parte
que me toca, por exemplo, os meus óculos escuros estão sempre entrando em campo,
escalados, sobretudo, pelo forte sol do Planalto Central do Pais.
Playboys românticos do passado, como Ali Khan,
Porfírio Rubirosa, Gunter Sachs, Jorguinho Guinle e Baby Piganatari já são personagens
para livros e cinema. As suas s conquistas
de mulheres esplendorosas – no físico, na fama e na conta bancária – e os seus
divórcios escandalosos eram o máximo para os colunistas sociais de jornais e
revistas, até que o próximo casamento os separassem.
NO BRASIL, o playboy ganhou duas versões: a do
tradicional gastador de dinheiro, consumidor voraz de mulheres e bebidas, e os “filhinhos
do papai”, rapazes que ganhavam uma
farta mesada e carrões para se divertirem. Não tinham a carteira tão recheada
como os originais, mas, no quesito caça às prendas, eram tão bons quanto os antecessores.
Passaram depois, a serem chamados “boyzinhos”, citados, por sinal, em uma música
gravada por “Os Mutantes”, com Rita Lee cantando, entre outras frases: “Hei,
hei, boy/O teu cabelo tá bonito/Tua caranga até assusta/Teu pai
já deu tua mesada/A tua mina tá gamada/Mas você nunca fez nada/Teu blusão
importado/Tua pinta de abonado...
Playboy,
quando surgiu o termo, nada tinha a ver com grana, sexo, drogas ou rock-n´roll.
Foi precedido por Don Juan, do dramaturgo espanhol Tirso de Molina; Romeu (o da
Julieta); Lotário, no livro “O Encantador”, de Nicholas Rowe, e até por Filandro,
o devasso filho de Apolo. Nenhum deles, porém, comparável ao real Giacomo
Girolano Casanova, veneziano nascido em 1725 o maior picareta que já passou por este
planeta.
PELO SÉCULO 18, a palavra playboy era usada,
meramente, para se referir aos atores-crianças das peças teatrais. Pelo final
do século seguinte, passou, também, para músicos e jogadores que apostavam
dinheiro. Na Irlanda, virou sinônimo do diabo e afins.
Em 1805, quando por Peter Mark Roget lançou a
primeira edição do “Roget´s Thesaurus” –
dicionário inglês de gírias –, a palavra playboy não aparecia. Foi na comédia “The
Playboy of the Western World”, escrita por JM Synge, em 1907, que ela despontou,
ironicamente, como uma das mais antigas alusões ao pegador de mulheres. A
partir da década-1920, já estava presente em todo dicionário de gíria.
QUEM SE DEU MUITO BEM com o surgimento do
playboy foi o “amante latino” do cinema norte-americano da mesma década-20. O
seu modo de ser, a
sua música e a pegada ardente e libidinosa enlouquecia jovens mulheres, principalmente
da Inglaterra, da Itália e da França. Na real, cobertas por atenções pouco
habituais da parte dos seus patrícios, quando os morenos “cucarachas” pintavam,
assanhadamente, elas sentiam-se mais do que desejáveis. E... – e, de há muito, a
ficção inglesa do dramaturgo William
Shakespeare e do poeta George Gordon Byron já pressentia o tema “fogo nas
cavernas” do norte da Europa. Ainda bem que, no futuro, o “amante latino” seria um bom
bombeiro.
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