A
pesquisa para este texto deixou a impressão de que ricos e mulheres mineiras
dão glamour à reportagem policial. Vejamos:
1 -
Em 25 de junho de 1962, Lurdes Calmon entrou na butique de um hotel
para endinheirados, em Ouro Preto. Pretendia sair de lá mais elegante, para
encontrar-se Fernando Mello Viana, com quem vivia. Lurdes não roubava nada, quando foi
imobilizada e derrubada por Ethel Poni. Sem tempo para reagir, recebeu duas
balas na cabeça, disparadas pela atiradora Edina, irmã de Ethel, e campeã de
tiro.
Edina reproduzida do arquivo de José Goes |
Lurdes
Calmon não servia de alvo. Tornara-se por conta de ser amante do marido da dona
da boa pontaria, que andava separada dele há vários anos. Chocante?
Mais chocante fora a tese que o advogado
Pedro Aleixo, o mais famoso criminalista das Minas Gerais, usou para absolver as
duas belas mulheres, no júri do dia 31 de março de 1964, no mesmo dia em que os
militares jogavam o Brasil em 21 anos de ditadura: crime em defesa da
integridade do lar, que não foi reintegrado.
2 –
A sociedade mineira nem se lembrava mais do crime cometido pelas irmãs Poni,
quando mais duas balas explodiram nas “alterosas”. Corria 1971 e Josefina Souza
Lima Lobato – Jô, para os íntimos –, filha de um ex-prefeito de BH, mãe de cinco
filhos e mantendo esplendorosa beleza, aos 27
anos de idade, desquitou-se do engenheiro Roberto Lobato, no dia 4 de
julho.
Conta a crônica policial mineira que, antes da
separação judicial, o marido tentava recompor o lar desintegrado. Após a última
tentativa, cinco dias após a assinatura da partilha dos bens, Roberto fizera
mais uma tentativa de reatamento, mas esta descambara para uma discussão que
terminara sobrando um tiro no peito e um outro na cabeça de Jô. Porque ela o teria
chamado por “Chifrudo”.
Novamente, na na defesa do réu estava Pedro
Aleixo, que usou a tese da “legítima defesa da honra”. O júri lhe deu vitória,
por 7 x 0.
3 –
Junho de 1973 corria, quando mais três balas zuniram em Belo Horizonte. Às sete
da manhã, horário em que nem todas as socialites estavam acordadas. O
milionário Artur “Tuca “Mendes” matara o
lavador de carros Zé Pretinho.
Motivo
do crime, segundo o matador: o rapaz avançava para o seu quarto de dormir (com
a sua bela mulher Ângela Diniz), com uma faca nas mãos, recusando-se a parar.
Não lhe restara outra alternativa que não fosse descasrregar o seu revólver
sobre o desobediente sujeito, em seu jardim gramado.
Ângela reproduzida de www.memoriasoswaldohernandes |
O
noticiário policial mineiro informou que havia carrapichos de plantas e esperma na
roupa de Zé Pretinho, bem como na cama da socialite.
Segundo o processo, os carrapichos chegaram ao quarto levados pelo vento, enquanto o esperma nos lençois foram desprezados. O que havia na calça do rapaz decorria do seu hábito de maturbar-se, escondidamente, quando via a sua musa.
Tuca não cumpriu um dia sequer de cadeia. Tempos depois, Ângela Diniz foi assassinada, pelo namorado Raul Fernando “Doca” do Amaral Street, tema para um próximo “Domingo é Dia de Mulher Boonita”. Combinado?
Segundo o processo, os carrapichos chegaram ao quarto levados pelo vento, enquanto o esperma nos lençois foram desprezados. O que havia na calça do rapaz decorria do seu hábito de maturbar-se, escondidamente, quando via a sua musa.
Tuca não cumpriu um dia sequer de cadeia. Tempos depois, Ângela Diniz foi assassinada, pelo namorado Raul Fernando “Doca” do Amaral Street, tema para um próximo “Domingo é Dia de Mulher Boonita”. Combinado?
5 – Em 1980, Belo
Horizonte ficou chocado com um outro crime passional envolvendo socialite. Por ciúme, o engenheiro Márcio Stancioli
matou, com cinco tiros, a mulher Eloísa Ballesteros, enquanto ela dormia. Os dois haviam se
conhecido em um sinal fechado de uma avenida da capital mineira. Conversaram,
saíram e rolou namoro. No ano seguinte, ambos com 26 anos de idade, estavam casados. Tiveram dois
filhos
Empresária do
setor de roupas, Eloísa passou a despertar a
desconfiança de Márcio, que passou a espiona-la. Em
julho de 1980, por não encontra-la em casa, ele saiu a
procura-la pela cidade e a encontrou no estacionamento
do BH Shopping, dentro de um carro de um antigo namorado, o empresário Márcio
Augusto Ferreira.
Marcio contou durante
o seu julgamento ter ido para casa e, mais tarde, discutido com Eloísa, que o
deixara falando sozinho e seguido para o quarto do casal. Fora atrás dela, chutado
a porta e descarregado cinco tiros nela, com um revólver Taurus 38 – peritos falaram de sete.
O promotor do
caso, Edmundo Teixeira da Silva, classificou Márcio de “um Doca Street do subúrbio”. Em 5 de agosto de
1980, dez dias após o crime, ele o acusou por homicídio triplamente
qualificado, por motivo fútil, sem possibilitar a defesa da vítima e contra
cônjuge. Márcio Stancioli foi a júri popular, em 12 de maio de 1983, e disse
ter perdido a cabeça devido as idas da mulher a São Paulo e seu relacionamento com
Márcio Augusto Ferreira, “não vendo mais nada”.
Eloísa reproduzido de www.glamurama |
O advogado Ariosvaldo
Campos Pires apelou para “os ventos de libertinagem de nossos dias” e para “família,
lar, filhos, fidelidade: em que pese a crise moral, são conceitos a ser
observados pelos jurados”. Márci foi enquadrado por homicídio culposo (sem
intenção deliberada de matar) e não doloso (com intenção clara) e condenado,
por 4 x 3, a 2,5 anos de prisão. O juiz, porém, concedeu-lhe, por ser
primário e ter bons antecedentes, suspensão condicional da pena.” O promotor
recorreu da sentença e o levou a novo julgamento, em 25 de março de 1988,
elevando o castigo para seis anos.
Ao que parece, pesquisando as fontes, embora não haja notícia a respeito, é provável que o Roberto Lobato feminicida já esteja falecido, embora supostamente seu nome estivesse num evento de construção pesada divulgado por uma revista em 2015. Sua esposa-vítima, Jô Souza Lima, chegou a aparecer como a "sra. Roberto Lobato" numa edição de 1960 de A Cigarra. Ao que parece, pela idade do empreiteiro, é possível que ele já esteja falecido há pelo menos cinco anos. Doca Street (que escondeu um câncer contra o qual lutou durante cerca de três décadas e um Mal de Alzheimer que ele disse ter sido uma "dislexia" - papo parecido da direita chamar Covid-19 de "gripezinha") faleceu em 2020. Nomes como Roberto Lobato Filho e Roberto Lobato Neto parecem ter mais destaque hoje em dia.
ResponderExcluirRoberto Lobato faleceu em 2023
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