Vasco

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sábado, 12 de janeiro de 2019

O VENENO DO ESCORPIÃO - O POETA QUE VALIA UMA GRANINHA E VIROU ESTÁTUA

O servidor público brasileiro é muito criticado, considerado um vagabundo, por conta de antigo costume (que ainda existe) do empreguismos promovido por políticos “benfeitores” dos seus cabos eleitorais.
  Em Brasília, por exemplo, quem entrar em um ministério fica embasbacado com a quantidade de pessoas que “trabalham” na casa. Falta até cadeira e mesa para a rapaziada fazer que trabalha.
 Os governos do PT-Partido dos Trabalhadores chegarem a ter 29 pastas ministeriais, para acomodar a sua patota. Criou até Ministério da Mulher – porquê não teve, também, o do transexual; do bissexual; do homem; do adolescente, etc? 
 Entre ao maus exemplos de funcionários públicos ficou muito famoso o caso do grande escritor nordestino José Lins do Rego, autor dos belíssimos livros “Menino de Engenho” e “Doidinho”, da época do chamado “ciclo da cana-de-açúcar” na literatura brasileira. Nomeado fiscal do que hoje chama-se Receita Federal, no Rio de Janeiro, ele só comparecia ao "emprego" no dia do pagamento (pelo que não fez).   
 Ao contrário de Lins, houve um outro intelectual servidor público, o poeta Carlos Drummond de Andrade. Chefe de gabinete do ministro da Educação, Gustavo Capanema, por 10 temporadas, raramente deixou de pisar o pé no batente da “repartição” (como falavam).
 Aliás, era uma incoerência ver Drummond servir ao governo do presidente Getúlio Vargas, sendo um simpatizante de ideologias esquerdistas.
 Quando cobrado pelos críticos, ele respondia não se considerar um homem da ditadura Vargas, por entender que assim não poderia ser visto quem só cuidava de preparar discursos para o Gustavo, documentos e  outras burocracias. Além do mais, e só a muito custo fora convencido, pelo seu velho amigo Capanema, para ser o seu chefe de gabinete, por sinal, o mais influente do Estado Novo.
Graciliano Ramos reproduzido de www.todoestudo
 Drummond trabalhava, não era um picareta, como Zé Lins, mas pode ter usado muito do seu tempo ministerial para “afazeres nada públicos”. Pesquisadores de sua obra classificam 1930 a 1960, quando ele era um servidor público, o período mais criativo de sua poesia. Indaga-se? Pensava e escrevia onde? Em casa, entre as sete e 10 da noite, quando deitava-se para dormir?
 Como servidor público, Carlos Drummond de Andrade - viveu entre 1902 a 1987 - não deixou, também, de praticar o “tradicional jeitinho brasileiro”,  dando uma “forcinha” aos amigos.
 Arrumou emprego para o escritor paraibano Graciliano Ramos, autor da belíssima “Vidas Secas”, e para um outro intelectual  nordestino João Cabral de Melo Neto, autor de “Morte e Vida Severina”. 
 Drummond, também, entre outros “jeitinhos”, arrumou verba, a pedido do escritor baiano Jorge Amado, para um hospital em Sergipe; transferência para um primo do escritor gaúcho Érico Veríssimo e grana para pagar professores que trabalhavam para o maestro Heitor Villa-Lobos – até pouco, do ponto de vista dos “jeitinhos” desses tempos pós-modernos.
Zé, reproduzido do Museu José Lins do Rego-João Pessoa-PB
 Em 1945, Drummond deixou o Ministério da Educação. Comandou um jornal comunista, a pedido de Luís Carlos Prestes, mas demorou-s pouco como jornalista. Voltou ao serviço público. A convite de Rodrigo de Meolo Franco - fundador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico - foi para aquela casa e, por lá, passou mais 17 temporadas servindo ao Estado.
 Dos 85 invernos, verões, outonos e primaveras do grande poeta, 58 foram passadas dentro de prédios públicos. Quando punha os pés fora da “repartição”, usava o pouco do tempo livre da burocracia estatal para torcer pelo glorioso Club de Regatas Vasco da Gama. Foi o que escreveu no livro “Quando é Dia de Futebol”  – pode até não ter servido tanto ao serviço público nacional, mas a torcida vascaína não tem do que reclamar do seu engrosso às suas hostes.            
              

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