Em
Brasília não há “índios”, só “caciques”. Mas, se a levarmos para uma viagem
pelo túnel do tempo, ela não será diferente da maioria das paradas onde a
história da elite rolou pelo mesmo raio-luz. Picaretas não faltam,
principalmente nesses tempos recentes, ou pós-modernos.
Nenhum
dos “artistas” que passaram por Brasília, Roma, Grécia, Egito, "Oropa" ou
Bahia foi tão cara-de-pau quanto o português Antônio de Oliveira Salazar. Se
bem que a culpa nem foi tanto dele, mas dos militares que o tiraram do seu
sossegado emprego, de professor de Finanças Públicas, da Universidade de
Coimbra, e levaram-no ao poder.
Salazar,
sujeito que não tinha namorada, noiva e nem mulher – ôpa, não era, não! -,
arrumou as burras pátrias e não perdeu a chance que os burros militares lhe
deram de tornar-se ditador. Foram quatro décadas de sacanagens contra o povo, a
começar pelo presidente da república portuguesa, que ele o engoliu, ao
tornar-se presidente do conselho de ministros.
Reprodução de capa de livro |
Nesse
ponto de mexer com a fé do povo, uma das crianças para as quais Nossa Senhora
(Maria, para os católicos) havia aparecido, a futura freira Lúcia pecou. Disse
ao cardeal Cerejeira, colega de universidade do ditador e avalista católico da
ditadura junto ao Papa Pio 12, que a Virgem Santa Mãe de Jesus lhe insinuara, durante
uma de suas orações, que Salazar havia sido escolhido por Deus para conduzir Portugal à paz e à prosperidade.
Enquanto
Lúcia delirava, ou o Estado Novo delirava em seu nome, Salazar temia que o
ditador espanhol Francisco Franco, simpatizante do nazismo, se juntasse à
patota de Adolfo Hitler, levasse Portugal para a guerra e, de quebra, o tomasse
para a sua glória. Mesmo asssim, ele não saía de cima do muro. Jurava lealdade
aos aliados e vendia volfrâmio aos alemães, matéria essencial à fabricação de metade
dos armamentos que Hitler mandava para a guerra.
Durante
o período guerreiro, Portugal e colônias dependiam e recebiam, sem
interrupções, dos Estados Unidos, trigo, carvão e petróleo. Um bom motivo para
aquele país e a Inglaterra pressionarem-no a entregar-lhe uma base área nos
Açores, a fim de atacarem submarinos alemães no Atlântico Norte., E, também,e
cessar a entraga do volfrâmio a Hitler.
Salazar
enrolava e foi preciso ser avisado de que sofreria embargo de
fornecimento das compras nos Estados Unidos e que os liados iriam ocupar, à
força, a base militar pretendida. Enfim, ele cedeu e deixou os alemães sem
volfrâmio. Em 5 de junho de 1944. Um grande golpe de sorte, que fez o povo
português, com cabeça feita pelo Estado Novo, considera-lo mais e mais ainda um
gênio do estadismo. Salazar poderia mudar de nome e passar a chamar-se
“Salasorte”. No dia seguinte, os aliados desembarcaram na Normandia e
encaminharam, a partir daquele “Dia D”, a vitória sobre o
nazismo.
Em 13 de maio de 1982, a Irmã Lúcia esteve com o Papa João Paulo II, como mostra esta foto reproduzida de www.pt.aleteia.org - Agradecimento |
Se
Getúlio Vargas saiu deste mundo em um agosto, este foi o mesmo mês em que o líder Salazar começou a sair. Levou uma queda de uma cadeira, deixando os médicos
divergindo se sofrera um hematoma intracraniano, ou trombose
cerebral.
Em setembro do mesmo 1968 foi afastado do governo, substituído por
Marcello Caetano. Até seu fim de linha, em 1970, de tão picareta que
tornara-se, recebia visitas fazendo de conta que ainda era o que já não era –
que picaretagem!
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