Foi um tempo, também, em que a
construção civil expandiu-se grandemente em cidades de grande e médios portes,
construindo edifícios luxuosos e estádios de futebol, todos com um “ão” ao
final do seu nome popular – Trapichão, Mangueirão, Vivaldão, Machadão, etc,
etc.
Por aqueles tempos, a “burra”
(cofre) do Brasil vivia cheia. O capital estrangeiro entrava aos montes, ao
mesmo tempo em que a nossa dívida
externa subia para US$ 12.5 bilhões de dólares, em 1973. Sem problemas:
o governo estava mais preocupado com obras faraônicas, como a Ponte
Rio-Niterói, a Rodovia Transamazônica, a Hidrelétrica de Itaipu e a Ferrovia do
Aço, principalmente.
Nos tempos das capas de disco em preto-e-branco já vendia bem
A fase do chamado “milagre econômico” brasileiro foi, também, a “era de chumbo” da brutalidade da Ditadura militar “brazuca” contra quem lhe fosse contra. Fazia-se coisas quem nem os nazistas sonharam durante a II Guerra Mundial (setembro de 1939 a setembro de 1945), como colocar a boca de um “subversivo”, (os contra o governo), em tubo de descarga de automóvel e arrastá-lo pelo pátio de um quartel. Mesmo assim, o ditador Garrastazu Médici garantia não haver tortura no país. E aumentava, de 12 para 200 milhas, a soberania marítima do país, ganhando música enaltecendo o fato.
Por falar em música, o populismo de Médici, com o auxílio de setores das
imprensa que mordia belas fatias de publicidade, tornou-o o presidente mais
cantado pelas gargantas nacionais, superando até mesmo um outro ditador,
Getúlio Vargas, que passara 19 temporadas no poder. Mas o Brasil só poderia
cantar e ouvir (pelo rádio) o que fosse favorável ao governo, algo ufanista,
como, por exemplo, a marchinha tipo fanfarra juvenil “Eu te amo meu Brasil”,
gravada pelo antigo grupo de iê-iê-iê “Os Incríveis”, em um dos programas de
Hebe Camargo, na TV. Quem sugerisse à namorada consumir uma pílula
anticoncepcional, como Odair José, não teria
a sua música tocada. Era preciso cantar mais e mais, cada vez mais,
breguices sem críticas sociais e políticas e sociais. Sem quer, por inteiro
acaso, foi por alio que se deu bem o baiano Waldik Soriano.
Corria os inícios de década do milagre econômico e as emissoras de rádios tocavam, bastante, entre outras, as ufanistas “Sou tricampeão” (Marcos e Paulo Sérgio Vale); “País Tropical (Jorge Ben, futuro Benjor); “Você também é responsável” (Don e Ravel; Transamazônica (Luís Vieira) e Sua Excelência, a Independência” (Zé Keti).
Num dos dias daquele 1972, o empresário Winston de Oliveira esperava por
Waldik Soriano no aeroporto de Natal-RJ. Por conta de enorme atraso do voo, na
escala em Recife, quando o cantor desembarcou na capital potiguar, o empresário
saudou-o com um tremendo esporro: “P...,Waldik. Estou aqui há mais de duas
horas lhe esperando. Eu não sou cachorro, não”! – protestou.
Waldik, que conhecia a expressão
popular desde a sua infância em Caitité, no sertão da Bahia, aproveitou o
esporro e compôs um bolero. Lançado em outubro de 1972, fez tremendo sucesso e
mereceu as mais variadas explicações para o título, entre elas a de que seria
uma dor de cotovelo e a confissão do seu sofrimento quando chegara em São
Paulo, como retirante, quando comera o chamado “pão amassado pelo diabo” sendo
engraxate de sapatos, servente de pedreiro e faxineiro.
Eurípedes Waldick Soriano viveu entre 13 de maio de 1933 a 4 de setembro
der 2008. Filho de um sanfoneiro de Caitité, a 645 quilômetros de Salvador, ele
gravou mais de 50 álbuns musicais, entre 1961 e 2000. Chegou-se a falar,
também, que “Eu não sou cachorro, não”, fosse um desabafo dele contra o governo
Médici. Nada disso! Wldick preferia se casar com uma garota da zona prostituta
do Norte do país, do que mexer com a Ditadura. Não tinha politização suficiente
para isso. O seu grande sucesso foi por conta de um esporro do seu empresário.
E ponto final – há meio-século.
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