Osvaldo Vasconcelos da Cruz era chamado
só por Osvaldo, até Seu Joaquim Manuel contratar Osvaldo Fernandes da Silva,
para trabalhar, também, no atendimento aos clientes da Padaria Lusitana, o seu estabelecimento, que ficava ao lado das
bilheterias do Estádio Club de Regatas Vasco da Gama, mais precisamente, em
frente à Rua General Almério de Moura.
- Pôiz, pôiz, ó mnininos! Com dois
Osvaldo aqui vou fazêire muita confusão. Então, tu ficas sendo
Vasconcelos.(apontando para o Osvaldo mais antigo de casa) e tu (apontando para
o outro) continuas sendo Osvaldo”, avisou o português, fazendo a caixa Regina
Francisca, que ele chamava de Regi Fran, apertar os lábios, para não sorrir.
A nova nomenclatura de Osvaldo
Vasconcelos da Cruz durou pouco. Uma semana foi o bastante para Seu
Joaquim Manuel reduzi-la a um dissílabo
paroxítono.
- Ô Vasco -, gritava ele, sem nenhum
incômodo do empregado, que era torcedor Vasco e até gostou da alcunha.
Osvaldo fazia horário corrido, das nove
às quatro da tarde. Levava a sua marmita de comida, para almoçar nas
arquibancadas do estádio vascaíno, onde ia, diariamente, assistir aos treinos
do time do técnico Jorge Vieira. Mas não ficava tanto tempo sem mastigar alguma
coisa. Regi Fran sempre lhe levava algo do seu almoço, pois comia pouco, para
não engordar. Sujeito agradável, extremamente calmo, Osvaldo tinha entrada
livre na sede do Vasco da Gama. Por ali,. era amigo de todos. Principalmente,
porque a turma da casa estava sempre comprando na Padaria Lusitana, as vezes,
até fiado, o que ele fazia na camaradagem, escondido de Seu Joaquim Manuel,
contando com a complacência de Regi Fran, para quem ele arranjara um bico, como
bilheteira, nos dias de jogos do clube. Ainda bem que ninguém furava com ele,
no dia combinado para pagar.
Se a torcida era o 12º jogador de um
time, seguramente, Osvaldo era o 13º. Ele estava tão bem familiar à rapaziada
do Vasco que era comum os astros cruzmaltinos lhe entregarem listas de compras
para serem entregues um dia antes de iniciarem as concentrações dos finais de
semana. Um encomendava vinho para um cunhado; o outro queria nozes, para a
esposa; fulano já encomendava azeite; beltrano pedia biscoitos, e assim rolava
a coisa. Houve até um lance interessante, em um dos primeiros treinos do
técnico Jorge Vieira. Vendo aquele monte de atletas em volta de uma pessoa, ele
indagou ao seu diretor de futebol:
- Que complô é aquele ali. Já estão
querendo me derrubar?”- Não, Jorge! É a turma das encomendas a uma amigo nosso, ali da padaria.
Em pouco tempo, o homem já engordava a
lista de fregueses de Osvaldo, que passou a ser chamado de Vasco, dentro do
Vasco, depois que o carinha encarregado de manter sempre lustrada a estátua
do Almirante Vasco da Gama escutou Seu Joaquim Manuel chamando-o pela redução
do seu sobrenome. E de tanto Vasco pra´qui,
Vasco pra´li, a turma terminou duplicando a menção nominal do pedaço.
Um dia, quando almoçava na
arquibancada, um dos seus chapas que trabalhavam na secretaria do Vasco,
surpreendeu-lhe, com um chamado
- Vasco! O presidente do Vasco quer
falar contigo?Ele o acompanhou até a sala do presidente Manoel Joaquim Lopes, de quem ouviu:
- O João Silva me contou que você entrega qualquer pedido aqui no clube.
- Sim, senhor! O que tiver na Lusitana, eu trago pro pessoal aqui
- A minha mulher me pediu parta levar
algumas coisas pra casa. Tá tudo anotado aqui – e passou a listas para ele..
- Pode deixar, presidente. Vou
providenciar.
Daquele final de tarde em diante, Vasco
tornou-se amigo, também, do presidente do Vasco. E ficou pensando: É seu Manoel
Joaquim na ponta de uma rua, e seu Joquim Manuel na outra. Estou bem. Melhor não pode!
2
O Vasco havia começado o Campeonato
Carioca de 1962 vencendo o Bonsucesso, por 3 x 0, em São Januário, no dia
primeiro de julho. com dois gols de Saulzinho e um de Laerte, dois gaúchos. Como
estava de fola naquele dia, Vasco foi para a arquibancada do estádio torcer por
seu time. Quando saia de campo, ao vê-lo, Laerte gritou:
- Vasco! – e fez um sinal de que queria
falar-lhe. Vasco aproximou-se do alambrado e o gauchão pediu-lhe:
-Tchê! Providencie-me o melhor vinho que
tu tens lá no armazém de seu Joaquim Manuel. Depois desse gol que marquei,
tenho que comemorar com a patroa, no jantar.
- Tô de folga hoje, mas segura´i que
vou ver lá – e foi e levou um vinho tinto seco de safra gaúcha para o amigo.
No domingo seguinte, o Vasco voltou a
mandar 3 x 0, Daquela vez, na Portuguesa. Laerte, batendo pênalti, fez um dos
gols sobre o time da Ilha do Governador, no jogo disputado no estádio do
Bonsucesso, na Rua Teixeira de Castro. Vasco, que tinha ouvido a narração de
José Cabral, pela Rádio Globo, assim que a partida terminou, tratou logo de
apanhar o vinho que Laerte gostou e o separou. Na terça-feira, o entregou,
dizendo:
- Gaúcho, você não encomendou, mas eu
trouxe, mesmo assim. Bateu de novo na rede!
- Fizeste muito bem, tchê!. Só tens uma
coisa: lhe pago depois que o bicho sair. Hoje, tô mais duro do que sapato
molhado – avisou Laerte, com a concordância do amigo, que ouviu Saulzinho, que
ia passando, dizer: - Também sou gaúcho,
tchê! Me inclua nesse vinho, aí também.
Na terceira rodada, em 15 de julho, o Vasco
perdera, por 1 x 0, do Olaria. Na segunda-feira, Seu Joaquim Manuel, ao vê-lo
chegar para o trabalho, o indagou:
- Oh Vasco! Fostes à Rua Bariri, ontem.- Fui, seu Joaquim
- Pois viste um tremendo castigo. Este
Valdemar que fez o gol no Basco, foi mandado embora pelo Basco. O gajo fez o
passe para o Roberto Pinto marcar ao gol do título do SuperSuper, em 1958.
Tremendo castigo, oh minino
- E o pior é que o centroavante deles,
o Rodarte, foi expulso de campo. Perdemos para um time pequeno, com um jogador
a mais – chorou Vasco, que assistiu, na terça-feira da reapresentação, uma
tremenda bronca do Jorge Vieira em sua rapaziada. Sem falar que repetira a dose
mesmo depois da recuperação, no Maracanã, no dia 21, com 1 x o sobre o Bangu.
- Mas não se empolgue muito, não,
Vasco. O Bangu jogou o segundo tempo com dez. Peguei no rádio que o Bianchini
sofreu uma entorse no joelho esquerdo e não voltou a campo, depois do intervalo
- comentou com ele o colega Osvaldo.
Pelos jogos seguintes, o Vasco venceu o
Botafogo, por 1 x 0; empatou, com o Madureira, por 0 x 0; goleou o Canto do Rio por 4 x 0; mandou 3 x 1
no São Cristóvão; 2 x 1 pra cima do América e 1 x 0 diante do Fluminense. Em
seguida, caiu ante o maior rival, o Flamengo, por 2 x 0, mas descontou com 7 x
0 nos costados do Campo Grande. Ao final do primeiro turno, só com duas
derrotas, a torcida acreditava que poderia melhorar no returno e brigar pelo
título. De sua parte, Vasco não se empolgava tanto com o Vasco. Para ele, time
que quer ser campeão não pode perder do Flamengo. Do Olaria, vá lá, fora uma
zebra, achava.
Veio o returno e o Vasco venceu o Bonsucesso, pro 1
x 0, e repetiu os 3 x 0 do turno em cima da
Portuguesa. Na terceira rodada, o adversário seria o Olaria. Jorge
Vieira estava cabreiro com o time da Rua Bariri. Por isso, após o primeiro
treino da semana, chamou Vasco no canto, entregou-lhe a sua lista de compra e
fez-lhe uma proposta:
- Estou precisando de um espião. Um cara para
ir aos treinos do Olaria, durante toda esta semana, e me dar ao serviço. Não dá pra você fazer isso pra gente, não?
- O problema, seu Jorge, é que no horário que
eles estarão treinando, eu estarei trabalhando. Seu Joaquim Manuel não vai me
liberar do batente.
- E se eu falar
com seu Manoel Joaquim, para ele falar com seu Joaquim Manuel?- Aí é com vocês. Se vocês acertarem tudo, da minha parte tudo bem.
No dia seguinte, o
presidente Manoel Joaquim Lopes foi à Padaria Lusitana e conversou com Seu
Joaquim Manuel, que, em nome da sua paixão pelo Basco, concordou em emprestar o
seu balconista ao departamento de futebol do Vasco, pela semana toda.
Todos os dias da semana da partida, entre nove e 13 de outubro, Vasco
fazia um relatoria a Jorge Vieira, sobre o que vira no treino do Olaria. No
sábado pela manhã, antes do recreativo, reafirmou o que previra:
- O Duque armou um esquema em que o
Valdemar vai encher o Jaburu de bolas. Rodarte vai tentar puxar um zagueiro da
área, para lhe acompanhar. O Romeu
tentará prender o Paulinho, enquanto o Nélson e o Haroldo estão
orientados a colarem em Saulzinho e no Vevé.
Se conseguirem fazer isso, darão trabalho pra gente. Nos treinos, saiu
tudo certinho.
Não deu outra. Saiu tudo como o Vasco avisara. Jaburu marcou três gols e o
Olaria mandou 3 x 1 no Vasco, dentro de São Januário. O Vasco perdera, mas
Vasco se deu bem. Jorge Vieira pediu a sua contratação, como espião do time.
Com os bichos das vitórias sobre o
Bangu (3 x 2); o Madureira (5 x 1); o Canto do Rio (5 x 0); o América (2 x 0) e
os empates com o Botafogo (1 x 1), Flamengo (1 x 1 São Cristóvão (1 x 1) e
Campo Grande (3 x 3), Vasco ganhou mais do que todo o tempo em que trabalhava
na padaria Lusitana. Mas, no ano
seguinte, não topou renovar contrato com o Vasco. Preferiu pegar a grana e
montar um restaurante, em Campo Grande, onde morava.
DOZE ANOS DEPOIS
Encerrada temporada do futebol carioca
em 1962, com o Vasco em quarto lugar, atrás de Botafogo, Flamengo e Fluminense,
o presidente Manoel Joaquim Lopes reuniu-se com o técnico Jorge Vieira, para
analisar a decepcionante classificação do clube. Vieira chamou para a ele a
responsabilidade sobre as derrotas para a dupla Fla-Flu, bem como os dois
tropeços diante do Olaria.
- O meu cargo está à sua disposição
presidente. O Vasco foi preciso em suas
informações. Eu é que as desprezei por ocasião daquelas partidas. Se o tivesse
ouvido, poderíamos ter disputado o título – considerou o treinador.
- Mas não é caso de demissão, meu
amigo. O seu trabalho foi bom. As duas derrotas para o Olaria foi que nos
derrubaram. Foram duas zebras sem tamanho, coisas que acontecem de cem em cem
anos. Os quatro pontos que perdemos foi a nossa diferença para o Botafogo. Com
eles, estaríamos na frente do demais. Iríamos para uma melhor de três. Por
isso, não dispenso os seus trabalhos.
- E nem eu dispenso os do Vasco.
Por favor presidente, renove o contrato
dele.
Vasco, no entanto,
preferiu não renovar. Tinha um outro plano: tornar-se sócio de um amigo em um
restaurante. Até fez curso de garçom e
mudou de vida. E nela passou dez anos. No meio desse tempo, comprou a
parte do amigo, que decidiu mudar de ramo. Em 1974, quando seus oito irmãos já
estavam todos com mais de 20 anos, ele os reuniu e decidiu passar-lhes, de presente,
o estabelecimento que a sua amiga Regi Fran lhe ajudara a tocar. Não suportava
mais sustentar tanta gente. Era hora de se virarem. Ele se via em condições de
recomeçar tudo do zero. Só exigia que os irmãos mantivessem o emprego da amigas
Regi Fran, que era uma espécie de gerente informal.
Por meio de Regi
Fran, que tinha um amigo "maitre" em um restaurante da Santa Teresa, ela obteve
dele a promessa de emprego para Vasco, no caso de um garçon cearense sair, já
que desejava voltar e montar um negocinho em sua terra. E o cara saiu e o amigo
de Regi Fran empregou Vasco, para trabalhar das 10 às 17 horas. As vezes, quando um colegas precisasse, ele
trocava de turno e trabalhava à noite.
Vasco saía de casa
já vestido em seu impecável terno branco de garçon. Descia do bonde e caminhava uns 20 metros para chegar a
“El Torreon del Mar”, o nome do restaurante especializado em peixaria. Em uma
das noites em que ele havia trocado de turno para atender a um colega, o maitre
mandou-o servir uma mesa onde estavam dois jogadores vascaínos, Carlos Alberto
Zanata e Roberto Dinamite. Indagado sobre o que sugeria para o jantar, ele
recomendou um bacalhau com natas, acompanhado de um vinho tinto seco, já que
estavam de folga. A recomendação e o sabor do cardápio foi o bastante para
ficar amigo dos dois atletas, que passaram a ser mais assíduos nas folgas e na
consultas de cardápios.
Zanata, certa vez,
achou o Vasco parecendo um agente secreto de filmes de espionagem, com aquele
seu uniforme e a gravata borboleta. Da observação, o Dinamite fez uma
brincadeira.
- O seu Mário
Travaglini já tem autorização da diretoria para contratar um espião para o
Campeonato Brasileiro. E virando-se para o Vasco, o amigo garçon, o indagou:- Você entende de futebol, Vasco?
- Já fui espião do Vasco, meu caro!
- Sério? – cobrou Zanata.
- Seríssimo! – garantiu
-Então, vamos trazer o Seu Mario aqui pra conversar contigo – avisou Roberto Dinamite.
3
Era uma noite de
folga do time, como sempre, quando Roberto Dinamite e Carlos Alberto Zanata
levaram Mário Tavaglini para jantar em Santa Teresa. Apresentado a Vasco, ele
aceitou a sugestão de um chopinho, enquanto folheria o cardápio. Nesse meio terno, Travaglini expôs as suas
necessidades ao novo amigo.
- Primeiramente,
preciso que você me arrume informações sobre times que podem complicar, aqueles
que estão longe da gente e não sabemos nada sobre eles, como Desportiva
Ferroviária, do Espírito Santo; os paraenses Remo e Paysandu; o Itabaiana, de
Sergipe; Sampaio Corrêa, do Maranhão;
Nacional, de Manaus: Avaí, de Santa Catarina, e os baianos Vitória e
Bahia. Aí são 30 pontos em jogo. Não posso chutar pra fora, por desinformação.
Como o Olaria é daqui mesmo, este a gente trata na semana da partida. Já os
grandes temos que espionar umas duas semanas antes.
- Tudo bem, seu
Mário. O senhor sabe: pra fazer isso, tenho que pedir demissão na casa. Então,
o Vasco tem que me arrumar um contato e pagar todas as despesas de viagem.- Quanto a isso não se preocupe. Já tenho esta verba garantida pelo presidente.
Tudo acertado,
Vasco foi à luta, pelo Vasco e previu dificuldades diante dos pequenos
paraenses, maranhenses e baianos, principalmente, além do América carioca e
dos grandes Fluminense e Grêmio-RS. Na
véspera da partida contra o Internacional, Mário Travaglini estava nervoso,
pois Vasco não aparecia. Tivera dificuldades em encontrar voo, no sábado, após
espionar o time colorado pelos dois dias anteriores. Só embarcou no domingo,
com escala em São Paulo. Chegou ao Rio, exatamente, quando o treinador já
estava com a rapaziada nos vestiários. Mas ainda deu para um conversa. Contou a
Travaglini:
- Achei a dupla de
zaga do Inter lenta demais. Foi assim em todos os treinos que assisti. O Falcão
está exuberante, no meio-de campo, e o ataque rápido e insinuante. Eles devem
vir com quatro fechando o meio e o ponta-esquerda aberto.
Travaglini chamou
a turma , apressadamente, e ordenou:
- Quero o Fidélis
e o Alfinete, apoiando, sempre e sempre, o ataque, e cruzando bolas o meio das
zaga deles. Roberto fica na expectativa e ganhar dos zagueiros. O meio-de-campo
deles vira fechado, mas tem gente lenta. Então, quando Zanata tiver bola
dominada e der para lançar, procure o Roberto lá na frente. Não quero que você
recue, nunca. Fique sempre à espera de uma sobra, um rebote, uma falha. Use o
seu talento em cima da zaga deles. Você tem a mesma estatura deles. Se tiver que
trombar, vá firme na bola – pediu o treinador ao Dinamite.
O Vasco segurou
todo o ímpeto do Internacional, nos minutos iniciais. Mostrava-se calculista,
fazendo tudo o que seu treinador pedira. Aos 27 minutos, saiu o primeiro lance
planejado. Roberto mandou na rede: 1 x 0. Dali até os 42, foi mais time, mas só
conseguiu furar o bloqueio gaúcho aos 43,, de novo, Roberto sacudiu o barbante:
2 x 0.
- Roberto
Dinamite! 10 é a camisa dele. Indivíduo competente, o Roberto. Explodiu a
pedreira colorada. Tem peixe na rede do Rio
Guaíba...!” – ouvia Vasco , a narração de Valdir Amaral, pela rádio Globo.
Guaíba...!” – ouvia Vasco , a narração de Valdir Amaral, pela rádio Globo.
O técnico colorado, Rubens Minelli, ficou
preocupado. Via sinais de uma goleada, se na tomasse providências com a sua
zaga, no segundo tempo. Mas o Vasco seguiu mais animado nos primeiros minutos
da nova etapa. Tanto que, aos 12 minutos, em novo lance fabricado para o
Dinamite, ele cravou 3 x 0.
Minelli levou as
mãos à cabeça. Estava indo à loucura. Ordenou aos laterais Cláudio Duarte e
Edson Madureira para não subirem tanto. Teriam, a partir de então, se
concentrarem em impedir que Fidelis e Alfinete subissem e cruzassem para o
Dinamite. Além daquilo, Tovar deveria recuar e dar mais proteção a Pontes e a
Cedenir. E trocou João Ribeiro, por Sérgio Lima, mandando este também ajudar na
marcação. Quando nada, deu para segurar o Vasco pelo restante da partida, e ainda
marcar um, na única chance criada.
- Vasco, Vasco, Vasco! Gritavam os jogadores
vascaínos quando entravam no vestiário. Em seguida, pegaram o espião por um dos
braços e o atiraram debaixo de um chuveiro. Travaglini sorria, tapando a boca
com uma das mãos, para não rir mais. Terminada a sacanagem, o massagistas
Santana chegou com um agasalho do time para o espião trocar a roupa molhada.
- Estou lhe
devendo esta – disse Travaglini para Vasco.- Desculpe o atraso, chefe! – brincou ele.
SEGUNDA FASE
O Vasco foi para uma nova etapa do Brasileirão com moral alto, com aquela grande vitória sobre o
Internacional, uma das melhores equipes da disputa. Sua diretoria considerou os
resultados da fase anterior mais ou menos dentro do previsto:
09.03 - 2 x 0 Coritiba;
13.03 – 0 x 0 Desportiva-ES; 17.03 – 1 x 1 Flamengo; 20.03 – 1 x 2 Remo; 20.03
– 0 x 0 Paysandu; 30.03 – 0 x 0 Botafogo. 03.04 – 0 x 0 Bahia; 13.04 – 0 x 0
Vitória; 21.04 – 1 x 2 Fluminense; 27.04 – 3 x 2 América-RN; 04.05 – 3 x 0
Itabaiana; 08.05 – 1 x 0 Olaria; 15.05 – 1 x 0 Tiradentes-PI; 18.05 – 0 x 2
Sampaio Corrêa; 26.05 – 0 x 1 América-RJ;
29.05 – 1 x 0 Avaí-SC; 02.06 – 0 x 1 Grêmio; 09.06 – 1 x 1
Atlético-PR; 13.06 – 3 x 1
Internacional.
Na estreia na nova
fase (29;06) , uma nova grande vitória: 3 x 0 sobre o Operário de Campo
Grande-MS, seguido de um meio-tropeço (03.07), um 0 x 0, como amazonense
Nacional. Mas a recuperação veio com vitória (10.07) fora de casa: 2 x 0 pra
cima do Atlético-MG. Pra completar, repetição do placar (14.07) diante do
Corinthians. No dia 18 de julho, decidiria a passagem à terceira etapa, contra o
Vitória da Bahia.
Daquela vez, Vasco
não chegou atrasado com o seu relatório. Entregou a Tavaglini:
- A Fonte Nova vai
estar lotadíssima, vai ser um caldeirão de pressão pra cima da gente. Toda a
Bahia espera a classificação do Vitória. Eles virão com tudo pra cima. Tem um
baixinho, um tal de Osni, que vai dar muito trabalho, e um centroavante, o
André Catimba, que o próprio nome já avisa do que teremos pela frente. Mas, se
bobear com ele. O cérebro do time é o Mário Sérgio. Faz o que quer com a bola.
O veterano Natal, não é mais o mesmo dos tempo do Cruzeiro, mas ainda incomoda.
Vai encher o saco do nosso lateral-esquerdo.
Travaglini armou
os eu time, daquela vez, mais cauteloso. Os baianos cantaram muito. Fizeram
muita batucadas nas arquibancadas gritaram, empurraram o Leão da Barra pra
cima, mas o Vasco se segurou. Saiu de campo, com
um 0 x 0 com gosto de vitória.
Estava na terceira fase do Brasileiro.
ÚLTIMO DUELO COM O
REI
O Maracanã sempre foi o palco
predileto do “Rei Pelé”, como ele mesmo revelou, porque jogava em um time muito
ofensivo, cuja patota queria um campo bem grande, que provocasse a explosão de
toda a sua adrenalina. E era naquele Maracanã que Pele enfrentaria o Vasco, em
21 de julho de 1974.Vasco fora espirar um dos seus treinos e avisado de que ele
ainda sabia das coisas.
No ‘Maraca”, Pelé
começou a ganhar o primeiro título de sua carreira. Exatamente, pelo
Combinado Vasco-Santos, em 1957. Lá, estreou na Seleção Brasileira, já mandando
bola no filó, no mesmo ano. Criou o do “gol de placa”, em 1961; chegou ao
milésimo gol, em 1969, e se despediu do time canarinho, em 1971, sem falar de
muitas outras diabruras aprontadas.
Lá estava o
Vasco, novamente, diante do “Rei do
Futebol”. Quem vencesse, ficaria mais
perto da decisão do título. E o Vasco foi ficando. Aos 15 minutos, Luís
Carlos Lemos balançou a rede. E ficou pro aquilo no primeiro tempo. No
segundo, bem que Vaco havia avisado. A rapaziada bobeou, e Pelé empatou, aos
30 minutos. Mas, faltando duas voltas do ponteiro do relógio do juiz gaúcho
Agomar Martins para o final da pugna, Roberto Dinamite desempatou, para os
cruzmaltinos, em um belíssimo tento que mereceu elogios do camisa 10
santista. “Este garoto vai ser um craque”, previu Pelé, para o repórter Deni
Menezes, da Rádio Globo, escutado por Vasco, lá da arquibancada, de onde não
tirava o seu radinho à pilha dos ouvidos.
Aquela
seria a última partida de Pelé no Maracanã. Fora assistida por 97.696
pagantes, que deixaram no borderô a renda de Cr$ 1.168.789,00. A bola que ele
mandou à rede teve aquele endereço pela 1.214ª vez, em
1.242 compromissos. Coincidentemente, o seu comandante em seu último jogo no
Maracanã era Tim, o treinador que tentou levá-lo para o Bangu, quando ele
tinha 15 anos e defendia o Baquinho, de Bauru.
Pela Rádio Glçobo, Valdir Amaral contava: - O Vasco, de Mario Travaglini, venceu o “Deus do Estádio”, Pelé, o Camisa 10, o Reio do Futebol” formando com: Andrada; Fidélis, Joel Santana, Miguel e Alfinete; Alcir, Zanata e Peres; Luis Carlos, Roberto Dinamite e Jaílson, depois Jorginho Carvoeiro. O Santos, dirigido por Elba de Pádua Lima, o Tim, foi: Carlos; Hermes, Vicente, Bianchi , depois Oberdan e Zé Carlos; Clodoaldo e Brecha; Fernandinho, Nenê, depois Cláudio Adão, Pelé e Mazinho. Quatro dia depois, o Vasco estava em Belo Horizonte, para enfrentar o Cruzeiro, no Mineirão. No início da tarde, Vasco ia saindo do hotel, quando o massagista Eduardo Santana gritou-lhe. Parou, olhou e escutou o companheiro pedir um favor: passar em uma padaria e lhe comprar uma dúzia de ovos. Sem problemas. Intuiu que Santana iria preparar algum omelete, para o jantar, pois gostava daquilo. Quando o time se preparava para o aquecimento, no vestiário do estádio, Vasco viu Peres tropeçando na ovalada que ele comprara e se estalando no chão. Jamais imaginara que fora para algum trabalho do Pai Santana. Resultado: Peres se machucou naquela Não aguentou o jogo todo, e foi substituído por Ademir. O Vasco, porem, saiu de campo segurando um duro 1 x 1, correndo atrás do empate, no segundo tempo. Vasco seguiu, de H, direto par Porto Alegre, para espionar, novamente, o Internacional. O jogo seria no dia 27 de julho, no Maracanã. O empate bastava para o Vasco ir à final e seus chapas Zanaga e Roberto Dinamite, que lhe arrumaram aquele emprego, marcaram os gols. Com 2 x 2, a patota do Travaglini estava bem pertinho de beber no caneco. A decisão foi em 1º de agosto, novamente, diante do Cruzeiro, no Maracanã. Armando Marques tinha o apito com ele. Na casa, 112.993 pagantes esperavam pelo seu trilo. A festa da galera cruzmaltina começou aos 14 minutos, quando Ademir, o substituto do “ovalado” Peres, abriu o placar. Nelinho empatou, aos 1i9 do segundo tempo. O jogo parecia que terminaria empatado. Os dois times faziam uma paria muito equilibrada. Até que, aos 33 minutos, Jorginho Carvoeiro marcou o gol do título vascaíno, de Andrada, Fidélis, Miguel, Moisés, Alfinete, Alcir, Zanata, Ademir, Jorginho Carvoeiro, Roberto Dinamite e Luís Carlos Lemos, a rapaziada que foi pra luta, contra Vítor, Nelinho, Perfumo, Darci Menezes, Vanderlei, Wilson Piazza, Zé Carlos, Dirceu Lopes, Roberto Batata, Palhinha (Joãozinho) e Eduardo (Baiano), dirigidos pelo técnico Hílton Chaves. MEDALHA COMEMORATIVA A diretoria do Vasco marcou para um final de tarde, a entrega da medalha comemorativa do primeiro título do Brasileiro. Seria em um encontro íntimo, apenas com a participação da diretoria, jogadores e comissão técnica, que incluía o espião Vasco. Após a festinha, Vasco saiu caminhando em direção à Padaria Lusitana, que já era comandada pelos netos de Seu Joaquim Manoel, que voltara para Portugal no início de 1970. Cumprimentou a rapaziada, admirou-se de ainda ver Osvaldo trabalhando por lá, e saiu na direção de uns botequinhos por perto. Sentou-se em uma das mesas e pediu uma cerveja. Ele ia levantando o primeiro copo, quando viu uma morena caminhando em sua direção. Usava um short jens curtinho, exibia pernas apetitosas e um tremendo jeito de menina de programa. Ele quase derramou a cerveja, quando a moça parou diante dele. Era Regi Fran. - Meu Deus do Céu! O que aconteceu contigo!- indagou. - Quer ouvir? - Claro! Puxe a cadeira, sente e me conte. - Os seus irmãos me demitiram do restaurante, há cerca de uns oito meses. Por sua causa, não fui à Justiça. A minha grana acabou. Então, uma menina com quem eu dividia o aluguel, e nem sabia que ela era garota de programa, me trouxe pra isso. Era o único jeito de eu sobreviver. Não arrumei nada nesse tempo. - Não acredito. Vou tomar as minhas providências. - Não senhor! De jeito nenhum. Se fosse par isso, eu já teria tomado as providências eu deveria. Não quero que você brigue com a sua família, por minha causa. Somos apenas velhos amigos. Você não tem nenhuma obrigação comigo. - Muito bem! Então, venha comigo e saia dessa, imediatamente. - Só aceito a sua ajuda, com uma condição: de não procurar os seus irmãos para tratar desse assunto. Aliás, acho que não posso ir. Preciso trabalhar. Não posso voltar para casa sem dinheiro. É o meu acordo com a minha amiga. - Quanto você está tirando por saída? - Depende! Não tem valor certo. Tem dia que pode ser mais, dia que é menos. É assim. O Vasco ainda não havia recebido o prêmio pelo título que o Vasco havia conquistado. Naquele instante, tinha pouca grana no bolso. O que tinha, não ária para cobrir o que Regi Fran tirar naquela noite. De repente, lhe ocorreu uma ideia. Foi à Padaria Lusitana e pediu ao velho amigo Osvaldo para lhe emprestar Cr$ 600,00, ficando com a sua medalha comemorativa como garantia, até ele resgatar a dívida. Osvaldo conseguiu que Manoel Joaquim Neto, que lhe devia muitos favores, lhe emprestasse o dinheiro, que o repassou. Então, Vasco deu todo ele a Regi Fran, que consentiu acompanhá-lo. - Onde tem um orelhão aqui por perto? Não me lembro mais – indagou Vasco. - Eu usei onde tem um. Venha comigo. Foram, e Vasco telefonou para a redação do jornal “O Dia”, pedindo para falar com Pedrosa. - Cachorrão! Preciso de uma ajuda sua. Se possível, gostaria de falar contigo, ainda hoje. - Devo sair pro volta das 21 horas. Passe ai. Osvaldo passou, com Regi Fran, e contou o problema ao Pedrosa. Este ouviu tudo e imaginou: quem pode quebrar esta pra gente é o Deni Menezes. Ele está fazendo uma assessoria de imprensa para a Francisco Xavier Imóveis. O homem lá gosta muito dele. O Cachorrão telefonou e contou o problema ao Deni, que prontificou-se a ajudar. Só pedia para aguardar um pouco. Ficasse ligado, que ele telefonaria. E não demorou a ligar. Pediu para o Cachorrão mandar o Vasco com a garota procurá-lo, por volta das 11 horas da manhã do dia seguinte. Vasco chegou com Regi Fran, ao local combinado. Lá estava o Deni, com Seu Francisco Xavier, Pelé e uma modelo para fazerem um comercial de TV para a empresa. - Que moça bonita - exclamou Pelé, ao ver Regi Fran. - É a sua futura secretária, Pelé. Você não me falou que estava sem secretária? avisou Deni. FINAL O Vasco não foi bem na Taça Libertadores. No meio da crise pela eliminação precoce no certame, muitas coisas mudaram no clube. Vasco pediu demissão. Ao sair de São Januário, caminhou, lentamente, em direção à Padaria Lusitana, pensando em resgatar a sua medalha, com Osvaldo. Mas Osvaldo não trabalhava mais lá. |
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