Vasco

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domingo, 21 de julho de 2019

O DOMINGO É UMA MULHER BONITA - A NOIVINHA DA PAVUNA (HISTÓRIA DA TV)

O caso comoveu o auditório da TV Tupi – e todo o Rio de Janeiro – e até mesmo o apresentador do programa. A candidata a ganhar um premio em dinheiro, na última pergunta, esqueceu da resposta, que ela sabia. Veio um branco em seu cérebro naquele instante.
Era 1968 e Leni Orsida, de 22 de idade, sonhava casar-se com Silvério Varela, de 27. Ela tralhava para a fábrica de autopeça Aeroquib e ele enrolava bobinas para a Standard Eletric.
A caminhada de Leni ficou pelo meio da estrada
 O problema era que a grana dos dois não dava para se casarem. Nem mesmo com ela e as irmãs Marlene e Cleide tirando a noite para fazerem bolsas que Dona Heliana, a mãe, saía vendendo para colocar um feijãozinho a mais na mesa. 
Pra piorar o nível de renda familiar, o pai, seu Olavo, sofrera um acidente e passara quatro temporadas sem poder trabalhar par a FNM-Fábrica Nacional de Motores, onde era fichado.
  Os problemas financeiros eram evidentes, mas, mesmo assim, a família Orsida dizia não se interessar pela vida material, só pela espiritual. Era frequentadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia, na Pavuna, e, quando Leni pensou um jeito de ganhar a grana que lhe permitiria casar-se, não agradou, desejando participar de programa televiso.
O programa chamava-se Show sem Limite, dominava o seu horário, era apresentado por J.Silvestre e Leni inscrevera-se para responder perguntas sobre o escritor português Guerra Junqueira, do qual jamais ouvira falar, até 1965, quando lhe pediram para declamar a poesia A Caridade e a Justiça, durante uma das festinhas semanais da igreja.
 Assim que lembrou-se do fato, Leni concluiu que ir a um auditório de TV não seria contra os princípios adventistas. E a partir de novembro de 1968, passava até 15 horas diárias – as vezes, varava a madrugada - estudando a vida e a obra do homem. Nem mais aos saraus do seu templo comparecia.
Considerando-se pronta para encarar as perguntas da TV, Leni foi à Tupí e teve dificuldades para entrar. Entrou na marra e invadiu o programa de J. Silvestre. Em vz e lhe tirarem, do mesmo jeito e lhe mandarem embora, ela foi aceita para responder sobre o português.
Guerra Junqueira levou Leni  à TV
 Residente à Rua Sargento Noraldino Nº 61, na Pavuna, Leni habitava uma casa onde só havia quatro cadeiras na sala. Em compensação àquela pobreza, sobravam livros – 52 sobre Guerra Junqueira, além de um busto e cópias de documentos lhe enviados pelo Real Gabinete Português de Leitura. E lá se foi ela responder na TV sobre o escritor. Venceu bem as 10 primeiras etapas e a alegria em casamento com a irmã Jane ficando noiva e  o pai recuperado e voltando a trabalhar, agora na General Eletric.
Indenizado pela FNM, Seu Olavo comprou uma casinha que os noivos de suas filhas – Ntalino e Silvério – foram reformando e pintando. Mais: as bolsas vendidas pela mãe estavam tendo boas saídas e, a cada programa, Leni recebia presentes, como toalhas, vestido, sapatos – além da admiração dos telespectadores.
 Como ia bem no programa da TV, Leni sonhava comprar a casa de Nº 83 da Alameda dos Beija-Flores, em Nova Pavuna, loteamento distantes 500 metros de seus pais. No mais, só os móveis essenciais. Tímida, balançava a cabeça e os cabelos compridos quando ia responder ao apresentador.  Encantou o proprietário de uma empresas de turismo que ofereceu-lhe uma viagem de lua-de-mel por oito países europeus.
No dia 28 de julho, Leni foi para a penúltima prova. Quando o carro que a TV mandou busca-la entrou em uma curva em frente à casa, uma porá se abriu, ela quase caiu fora, mas alguém que estava na fila para entrar e assistir o programa a segurou. Ficou nervosa e chorou.  Foi preciso o produtor do programa, Oswaldo Miranda, acalma-la. Mas, na última pergunta – citar 38 nomes constantes da obra do escritor nascido em Freixos-de-Espada-a-Cinta -, lhe veio um branco no último nome. Foi eliminada. Agora, casamento, casa, lua-de-mel deveriam ser adiados, pois não teria da TV o dinheiro que cotava para realizar o sonho.
O sonho ficou pela casa da
 Rua Sargento Noraldino
 Chocada, Leni foi levada para o pronto socorro do Hospital das Clínicas Brasil-Portugal, em Cascadura, onde o Doutor Marcelo atestou tê-la atendido “sob forte crise emocional”. A TV Tupi não deu-lhe uma nova chance, para não abrir precedentes no programa que liderava a audiência no horário, mesmo sabendo que A Noivinha da Pavuna subira o IBOPE do Show sem Limite
 Revoltado, Jota Silvestre,  garantia de boa audiência, lembrou do perdão a uma outra candidata que errara uma pergunta, mas pôde continuar, pediu demissão, acompanhado por seu produtor Oswaldo Miranda. Agora, casamento, casa, lua-de-mel deveriam ser adiados, pois Leni não teria o dinheiro que contava para realizar o seu sonho.

FOTOS REPRODUZIDAS DA REVISTA FATOS & FOTOS  446, DE 21.08.1969.

6 comentários:

  1. Gostaria de ver fotos antigas e atuais da noivinha da Pavuna.

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  2. Respostas
    1. Olá que bom saber que a história de pessoas como a minha mãe a Novinha da Pavuna ainda não caiu no esquecimento, ela está viva sim e gozando de boa saúde e não para de fazer história, obrigado Kike da bola por levantar está bandeira, levando as novas memórias a viajar

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    2. Eu me lembro dela no programa, inclusive veio passar a lua de mel em minha cidade, Sao Lourenço, MG.

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  3. Tive uma vaga lembrança da época , mas pensava ser sobre o escritor brasileiro Machado de Assis.

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  4. Eu assisti à época, e tinha muita curioridade de saber como está a noivinha da Pavuna!

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