Vasco

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domingo, 28 de janeiro de 2018

OS ARQUEIROS DAS COLINA - JAGUARÉ-6

Por volta de 1926, quando já havia conquistado dois campeonatos na elite do futebol carioca – 1923/1924 –, o Vasco da Gama ainda costumava garimpar jogadores pelos times dos subúrbios do Rio de Janeiro. E foi assim que descobriu um goleiro jovem, de seus 20 energéticos de idade. Levou-o para a sua equipe.
 Chamava-se Jaguaré Bezerra de Vasconcelos o rapaz, bom “keeper” e melhor ainda no seu jeito alegre de ser. Era excêntrico até quando estava em campo, defendendo a honra vascaína, o que não demorou a chamar a atenção da imprensa.
 Chegou 1929 e o time vascaíno alinhou uma escalação que passou a ser conhecida até pelas criancinhas –  Jaguaré, Espanhol e Itália; Tinoco, Fausto e Mola; Pascoal, Carlos Paes, Russinho, Mário Matos e Santana – que os pais levavam aos estádios para verem o terceiro titulo estadual ser conquistado. E as excentricidades de Jaguaré, como defender um chute e, para tripudiar do chutador, girar a bola, com uma das mãos, e equilibra-la sobre a ponta de um dedo. Valia gargalhadas do torcedor, contam as revistas antigas.
 COM TANTA POPULARIDADE, Jaguaré foi convocado para a equipe carioca que disputou o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, quando ficou vice, mas defendeu um pênalti na final (2 x 4) contra os paulistas. Jogou, também, por um combinado Rio-São Paulo para jogos internacionais daquele 1929.   
Jaguaré (C) acaricia o caneco por um titulo francês, em foto
reproduzida da revista carioca "Esporte Ilustrado"
Duas temporadas depois, o Vasco da Gama saía para a primeira excursão de um clube carioca à Europa. Dos jogos na Espanha e em Portugal, o “cara” foi Jaguaré. Por conta daquilo, o colega de giro Fernando Giudicelli o encorajou (bem como a Fausto dos Santos), a ficar pela Espanha.
 Jaguaré topou, jogou em time espanhol e português e, em 1934, estava de volta ao Brasil. Tentou entrar em algum grande clube carioca, mas foi dado como decadente. Nem o Vasco o quis.  O jeito foi tentar em São Paulo.
JAGUARÉ ARRUMOU emprego no Corinthians e até mostrou regularidade, mas sem impressionar mais. Como gostava de aventuras, voltou à Europa, para defender o francês Olimpic, de Marselha.
 A glória voltou a sorrir para Jaguaré, em 1938, tornando-o campeão da Taça da França. Comentava-se que ele era um dos atletas mais bem pagos do país.
Pelo mesmo ano, quando a Seleção Brasileira foi disputar a Copa do Mundo promovida, pela primeira vez,  pelos franceses (a segunda em 1998), Jaguaré foi visitar os velhos amigos que, em 15 de junho, enfrentariam a Itália, em Marselha. Divertiu toda a rapaziada contando as suas peripécias nos gramados franceses, principalmente por usar uma linguagem que ninguém entendia, misturando o francês macarrônico com gírias cariocas.
 DEDPOIS DAQUILO – os brasileiros foram eliminados pelos italianos – , pouco se soube sobre Jaguaré. Ele reapareceu no noticiário esportivo após o início da II Guerra Mundial, em 1945, quando voltou ao Brasil contando que guardas fronteiriços franceses roubaram todo o seu dinheiro, para deixa-lo escapar.
 A nova tentativa de Jaguará de voltar a jogar no Brasil falhou. Já veterano, não interessou a nenhum clube grande. E nem aos pequenos do interior paulista, onde ofereceu-se, também, como treinador.  Conseguiu com o time da cidade de Álvares Machado. Tempos depois, voltou à capital paulista, em dificuldades financeiras.
 Jaguaré levava vida irregular, de boêmio, não conseguir arrumar mais nenhum emprego. Um dia, apareceu no hospital de Franco da Rocha, onde entrou e saiu só como lenda das “histori&lendas” do Vasco da Gama e do futebol brasileiro.    

     

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