Vasco

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sábado, 17 de março de 2018

O VENENO DO ESCORPIÃO - O BRASIL DEVE MAIS RESPEITO À FORTE RAÇA NEGRA

           Em 1814, o Império brasileiro recomendou ao governo da Bahia proibir “ajuntamentos de negros durante os batuques”, por vê-los focos de rebeliões. Escravista, por mais de 300 viradas de calendário, o Brasil reúne a maior população negra fora do continente africano e a segunda maior do mundo, atrás da Nigéria, que soma 85 milhões de almas.
 Detentor da vergonhosa conta de 5 milhões de negros africanos trazidos como escravos, o Brasil, só a partir da década-1930 passou a discutir, timidamente,  democracia racial, embora  durante a maior parte do século 20 nada fizesse para combater racismos. A abolição da escravatura, em 1888, nem ajudou tanto, devido  ausência de norma legal definindo desigualdades. Com isso, mesmo com acentuada presença africana na cultura brasileira, o Império desconsiderava  propostas para a inclusão do negro no desenvolvimento nacional. 
Imagem reproduzida de capa de livro
 Os pesquisadores brasileiros poderiam saber muito mais sobre a trajetória dos negros no Brasil, mas ficam prejudicados por conta de um sujeito preconceituoso e pai da nossa inflação, Ruy Barbosa.
 Quando ministro da Fazenda (1889/1891) do primeiro governo republicano, ele ordenou a queima de todos os arquivos sobre a escravidão negra no país, para inviabilizar cálculos indenizatórios que  proprietários de escravos receberiam da República, por terem as suas economias abaladas,  como pedia projeto de lei enviado à Câmara, 11 dias após a Abolição assinada pela Princesa Isabel .

MESMO COM o baiano Ruy Barbosa queimando a história, o maranhense Nina Rodrigues, especialista em  Medicina Legal,  descobriu que mestiços e crioulos brasileiros descendiam de camitas africanos, semitas mestiços muçulmanos, sudaneses da Costa do Ouro, bantus e de escravos. Gente de centenas de nações africanas. Muito mais, porém, deixou de ser pesquisado, como as invasões de reinós que destruíram, em 1867, a República Negra dos Palmares, criada pelos bantus, que se insugiram, novamente, 1813, bem cmo os nagôs; religiosidades do candomblé, da macumba e de outros cultos, e a mitologia gêgê-nagô, que os gerou.
  Estudos antropológicos que escaparam da fogueira do Ruy e juntados a outros da década-1950, mostram que, entre 1872 e a metade do século 20, os negros foram diminuindo no Brasil, de 24,13% da população, para 12,30%. Pelo mesmo período, os brancos, que eram 52,21%, subiram para 69,86%. Em 1818, eles somavam 1.728 negros escravos, contra 1.043.00 brancos. Vale ressaltar que já havia 585 negros e pardos livres, além de 250 mil indígenas.
 Outros estudos pós-Ruy Barbosa informam que os brancos aumentaram bastante no sul brasileiro, por conta da imigração europeia, principalmente, para São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Só na Bahia a relação seguiu quase parelha, com 926.075 pretos e 1.428.685 brancos. Grande discrepância só na ilha de Fernando de Noronha, com 39 pretos e 383 brancos.

DE ACORDO  COM o sociólogo Costa Pinto, um dos grandes intelectuais brasileiros do século passado e autor do aplaudido livro “O Negro no Rio de Janeiro”, mesmo com a queda da população negra, o Brasil seguia, na época, com um dos mais altos índices de natalidade do planeta, superando,  inclusive, Rússia, China e Índia, países de imensas dimensões territoriais. 

Pelé reproduzido da Revista do Esporte
 Passada as terríveis brutalidades da escravidão, o negro brasileiro teve de lutar muito  contra as negativas de uma sociedade que dificultava a sua passagem por portas que o levassem ao magistério, à magistratura, à administração, ou comandos militares, por exemplo, excetuando-se o Exército, que sempre usou a democracia racial – Marinha e Aeronáutica negavam-se a aceita-lo. No que diz respeito à educação escolar, livros didáticos de colégios famosos chegavam a conter frases assim: “Todos os negros são mais ou menos preguiçosos”.
 Para subir na escala social brasileira, o negro teve de valer-se da música, do canto, do teatro, da literatura e do futebol, principalmente, podendo-se citar, entre outros, Pelé, Lima Barreto, Tobias Barreto, Cruz e Sousa, José do Patrocínio, Juliano Moreira, Gonzaga de Campos, Teodoro Sampaio, Evaristo de Morais, André Rebouças, Joaquim Nabuco, Machado de Assis, Grande Otelo, Carolina de Jesus e Ruth de Sousa.

DOS FINALMENTES do século passado para este, a sociedade brasileira passou a olhar  com mais respeito pelos negros, por conta de pressões sociais. Em 1995, por exemplo, o Governo criou o Grupo de Trabalho para a Valorização da População Negra e elegeu a Fundação Cultural Palmares para receber investimentos imediatos e buscar  transformações. Sabia, porém, o presidente-sociólogo Fernando Henrique Cardoso que decreto não  muda contexto social. Só o rompimento de círculos viciosos, orçamentos, leis e programas que ataquem, decididamente, conceitos culturais.
 Muito da memória mais recente dos negros no Brasil era de difícil acesso, com arquivos incompletos, passando longo da diversidade da raça. Ultimamente, negros e pardos representam 54% da população brasileira, mas só 17,2 % deles entram nos 30% dos brasileiros com maior nível de renda, sendo que 40% dos mais pobres recebem apenas 13,3%  do que entra no bolso.



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