Ela comparecia em todos os jogos dominicais do Vasco da Gama, com uma amiga, colega de trabalho. Em um desses domingos, pegou uma bandeira do clube e a transformou em vestido, com o qual agitou a turma no meio da torcida cruzmaltina, em São Januário. Surpreendeu e agradou a todos nos degraus próximos, todos lhe fazendo o sinal de positivo.
Na
estreia daquele vestido invocado, durante o intervalo da, ela precisou sair, um
pouquinho, pra s aliviar, como
brincava a moçada com alguém precisava fazer xixi. No caminho para os
sanitários, um torcedor falou pra ela:
- Vascaína,
você ficou bonitinha com este vestido.
Na
volta, ela sorriu para o cara e este, pelos inícios do segundo tempo, foi bater
onde ela estava. Rolou empatia, durante
Vasco 3 x 1 Americano, de Campos-RJ, trocaram abraços e, de repente, beijinhos.
Saíram do estádio de mãos dadas, formando um novo par de namorados.12h43
19h46
– Kayna Clarte Rosa, a moça, parecia mesmo uma manga rosa, quando o sol a lhe
queimava forte durante os jogos vascaínos iniciados mais cedo. Trabalhava em
uma loja de departamentos, na seção de roupas femininas, e o namoro que
arranjara era trapezista de um circo carioca, filho de um francês que estava há
mais de três décadas pelo Brasil, mas nunca perdia o sotaque de sua terra. Por
conta daquilo, chamava o filho, nascido nestas pagas, por Pérricles, o que o
escrivão do cartório de registros civis mandou ver como ouvira: Pérricles Lostô
da Gama, filho, também, de mãe portuguesa.
O namoro de Kayna com o Pérricles evoluiu para noivado, dezesseis meses depois, quando trocaram alianças. O casamento eles queriam sendo no centro do gramado de São Januário, antes de uma partidas vascaína. Pediram apoio a chefes de torcidas organizadas e estas abriram conversações com os cartolas do clube e da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro que, por sinal, não se opuseram e, até, acharam que promoveria o Campeonato Carioca, ganhando espaço na TV e nos jornais.
Arte: Renato Aparecida - www.desenhosrosart@gmail.comVeio, então, o último compromisso vascaíno da temporada e Kayna e Pérricles, o trapezista com grafia estranha, não só casaram-se no centro do gramado, como atiçaram o ponta pé inicial da pugna. Após os cumprimentos dos dois times, dos árbitros e dos cartolas, ela atirou o ramo de flores para o meio dos futeboleiros, tendo o tal caindo, exatamente, em cima da bandeirinha escalada para a partida, única representante feminina no quadro da arbitragem daquela tarde – soube-se tempos depois, que a moça recebera pedido de casamento do árbitro daquele prélio, sujeito que já vinha lhe paquerando, há tempinhos.
Casamento rolado, Kayna e Pérricles foram
para o meio da galera – ela, sem tirar o vestido de noiva e ele mantendo-se
elegantemente dentro do terno e da gravatas lhe presenteadas pelo patrão, o dono
do circo – e vibraram tanto naquela tarde, não sabendo se era pelo casório, ou
pela goleadas mandada pelo time deles.
Jogo encerrado, torcida indo embora, Kayna
despediu-se da velha parceira de torcida e colega de trabalho, Mára (com acento
mesmo) Rubiataba, a sua madrinha de casamento, e Pérricles fez o mesmo com o
seu padrinho e colega (também) trapezista Renê Cisnêros. Caminharam até o lado
norte das arquibancadas, rumo à curva da ferradura
(desenho do projeto) onde trocaram sorrisos e descobriram a suas respectivas
existências e, por ali, se sentaram, abraçados, como dois ainda namorados. Ela
tirou a sua certidão de casamento da bolsa, a sacudiu no ar e brincou com o
marido:
-
Sabe com quem você está falando?
-
Imagino que com a noiva mais bonita que já pintou por este estádio – ele
respondeu.
-
Nem só! Anote aí: você está diante de uma vascaína total. Afinal, por esta
certidão, sou a senhora Kayna Vasco da Gama.
Realmente, ao irem ao
cartório casamenteiro, ela
dispensou o Clarete Rosa do seu sobrenome e o trocou pelo do seu marido (
Pérricles Lostô), Vasco da Gama. Enquanto namoravam já em lua-de-mel, as luzes
do estádio se apagaram e os responsáveis pela iluminação se esqueceram deles.
- Sem problemas. Eu trouxe a minha lanterna –
avisou o Pérricles.
- Super-româtico! Eu
sempre pensei passar a noite da minha lua-de-mel dentro deste estádio – ela disse, tirando o vestido de noiva e o
estendendo pelo degrau cimentado. Quando estava completamente nua, fez um sinal
para o parceiro, que entendeu tudo e encaçapou o lance. Kayna queria o seu
primeiro filho gerado nas arquibancadas de São Januário.
AGUARDE O TEMPLÁRIO SABARÁ
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