É comum, no Brasil, pessoas com pretensões político-partidário buscarem o futebol pra ficarem conhecidas do povão e chegarem a cargos públicos eletivos. Facilmente, formamos um time, de vereadores a senadores: Danrley (Grêmio-RS); Nelinho (Atlético-MG), Macalé (Goiás), Wilson Piazza (Cruziro) e Delei (Fluminense); Toninho Cerezo (Atlético-MG), Biro-Biro (Corinthians) e Bobô (Bahia); Túlio Maravilha (Botafogo), Bebeto (Flamengo) e Romário (Vasco da Gama).
Na Comissão Técnica, teríamos Athiê Curi (Santos), Márcio Braga (Flamengo), Eurico Miranda (Vasco da Gama), Zezé Perrela (Cuzeiro), Adrés Sanchez (Corinthians), Osório Villas Boas (Bahia), Luís Estevão (Brasiliense) ... e chega! Se bem que nesse time entrariam, ainda, José Maria Marin, Maguito Vilela e Anthony Garotinho e Fernando Collor, este assunto para uma outra coluna.
O primeiro deste grupo cartoleiro foi ponta-direita do São Paulo e vice de Paulo Maluf, assumindo o governo paulista-1982/1983 quando o outro saiu para disputar vaga à Câmara dos Deputados; Maguito foi atleta e dirigente da Jataiense-GO e vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol-CBF. Chegou a senador-1999/2007 e a 72º governador de Goiás-1995/1998. O Garotinho governou o Rio de Janeiro-199/2002, eleito com a grande ajuda da fama conseguida como locutor esportivo.
Fora do Brasil tivemos, também, gente das canchas no lance político. Para citar poucos, o polonês Grzegorz Lato (autor do gol de Polônia 1 x 0 Brasil na Copa do Mundo-1974) tornou-se senador-2001, mesmo cargo conseguido pelo belga Marc Wilmots, que enfrentou o Brasil na Copa do Mundo-2002. Há porém, dois ex-cartolas e um ex-atleta que chegaram ao cargo político máximo em seus países: Silvio Berlusconi, primeiro ministro da Itália, em três oportunidades – 1994/1995; 2001/2006 e 2008/2011 - Maurício Macri, presidente da Argentina e o liberiano George Weah-2014, que governou o seu país, de 2018 ao último 22 de janeiro deste 2024 - único ex-atleta a conseguir tal feito.
Se somarmos os seus nove anos de comando político, Berlusconi foi o italiano a mais tempo permanecer no cargo pós-IIGuerra Mundial, e terceiro com mais tempo desde a unificação da Itália. Só perde para Benito Mussolini e Giovanni Giolitti, liderando políticos de centro-direita, desde 1993. Para isso, ele comandou o clube futebol Milan, por 31 temporadas, levando-o à conquista de 29 troféus e a ser o maior vencedor mundial durate sua gestão. Mais adiante em sua vida política, Berlusconi foi considerado um néo-liberal, por conta de leis polêmicas, como blindar primeiro-ministro, presidente da repúblcia e das duas câmaras parlamentares. Também, enfrentou acusações de ligações com a Máfia e escândalos sexuais. Em 2013, chegou a ser condenado a sete anos de prisão e, em 2015, a mais três. Escapou de todas e, 2023, de mais outra. Pouco depois, foi embora desta vida, estragando a poulararidade que o Milan lhe deu, levando com ele história de populismo antidemocrático, ameaçador da democracia.
Aqui pertinho, na Argentina, um cartola do futebol chegou à presidência da república, mas não brilhu como no comando do Bocas Juniros, que levou à conquista de seis campeonatos nacionais- 1998/1999/2000/2003/2005/2006; de duas recpas Sul-americanas-2005/2005; de duas Copas Sul-Americanas- 2004/2005; de quatro Taças Libertadores das América-2000/2001/2003/2007 e de dois Mundiais Interclubes-2000/2003.
Eleito 50º presidete da Argentina, entre 2015/2019, Maurício Macri deveu muito o seu cargo repulicano à torcida do Boca Juniors, que presidiu, de 1995 e 2007. Com o prestígio por tantos título, em 2007, ele foi eleito prefeito de Buenos Aires, com 61% dos votos no segundo turno. Só não contou com o voto do pai, Franco Macri, um dos homens mais ricos do país e que o considerava péssimo administrador. Tanto que o afastou do cargo que lhe dera em suas empresas. Para ele, o sucesso do Boca Juniors passava pelos assessores do filho, o que não seria difícil de crer, pois, em sua vida parlamentar, o que o Maurício menos fez foi comparecer ao parlamento, para ser considerado sujeito preguiçoso. Mesmo assim, a torcida do Boca o reelegeu prefeito. E, depois, uma coligação de direita o fez presidente dos argentinos, em 2015, quando ele se dizia candidato de centro. Recentemente, de 17 de dezembr de 2023, o atual presidente da Argentina, Javier Millei, foi votar nas eleições do Boca Juiors, que tinha Macri, novamente, querendo cargo na diretoria, desta vez de vice-presidente. Ao vê-lo junto com o Macri, pobre do Milei! Teve de sair correndo, vaiado e xingado pelos torcedores que não apoiavam mais o antigo-presidente Macri, vencido pelo antigo meia Riquelme, com 65% dos votos (1% nulos).
A eleição do Boca que derrotou as chapa Andrés Ibarra-Mauricio Macri contou com o apoio de 43 mil sócios, fazendo dela a segunda maior na história do futebol mundial, perdendo apenas para o pleito à presidência do espanhol Barcelona, em 2010, quando 57 mil sócios-eleitores compareceram às urnas. No Boca, Macri só conseguiu 34% dos votos. Culpa de um goveno presidencial considerado medíocre. Assim não há torcedor que aguente.
Por ser, hoje, 10 de agosto de 2023, este artigo viajou no tempo para ser publicado pelo Jornal de Brasília de 21.07.2024
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