Vasco

Vasco

sábado, 30 de abril de 2011

HISTÓRIAS DO FUTEBOL BRASILIENSE. GOLAÇAÇOS DE ODAIR E AÍLTON LIRA


Aílton Lira (atrás), marcou um dos gols mais emocionantes no Serejão

Cobri, para o Jornal de Brasília, em 1976, o primeiro jogo desse Campeonato Brasiliense de Futebol Profissional que está em sua 57ª edição. Desse número, creio ter acompanhado disputas de umas quatro décadas. Assisti ao primeiro clássico – Ceub 1 x 1 Brasília; vi a torcida do Taguatinga EC agitando folhas de bananeiras nas arquibancadas do demolido Pelezão, saudando o ídolo Ernâni Banana; testemunhei o meia Péricles Carvalho comandado vitórias que deram ao Gama o seu primeiro título, em 1979, e muito mais, inclusive o centroavante e presidente do Brazlândia, o glorioso Joãozinho (Joao Jerônimo de Mura), comprovando que pênalti é coisa tão importante que deveria ser cobrado pelo presidente do clube, como prega o folclore futebolístico. No entanto, dois lances seguem vivos no filminho da minha memória. Vamos a eles:

10 de maio de 1978 – Brasília 2 x 1 Santos – o Peixe (apelido santista) chegou animado pelos 3 x 1 Vila Nova, em Goiânia. Tinha um bom time, sobressaindo-see os atacante Juary, Reinaldo e João Paulo, e os meio-campistas Carlos Roberto e Aílton Lira. Aos 25 minutos, Reinaldo abriu o placar. Para os 18.198 pagantes que estavam no Serejão, havia sido aberta a porteira. No entanto, aos 29, o craque do time, o meia Aílton Lira, foi expulso de campo, pelo árbitro Aírton Vieira de Moraes, o Sansão, cearense radicado no futebol carioca.

 Mesmo com um homem a menos, o Santos segurou a vantagem, por mais 52 minutos. Até que o lateral-esquerdo do Brasília, o moderninho Odair Galetti, acertou um chute, de pouco centímetros depois do meio do campo, na gaveta direita da trave defendida pelo visitante. Único chute certo de toda a carreira dele. "Na forquilha!", gritou o narrador Marcelo Ramos, da Rádio Capital. 

Erra terrível, o Odair. Grande sujeito! Sempre alegre, sorridente, adorava explodir o som do toca-fitas do seu carro, que tinha abridores de vidros invocados para a época. Apoiava bem, mas, quando cruzava a bola para a área do adversário só faltava manda-la para a bandeirinha de escanteio. Enfim, faltando cinco minutos para o final da pugna, o ponta-esquerda Lula virou o placar para esta rapaziada: Paulo Victor. Newton, Chavala, Emerson Braga e Odair; Well (Léo Fuminho), Péricles e Raimundinho; Zé Carlos (Edmar), Banana e Lula, treinados por Dicão, o maior retranqueiro que apareceu por aqui.

Wander, em foto do seu álbum futebolístico, ao lado de Nílton Santos  

7 de agosto de 1988 – Guará 1 x 0 Taguatinga – valia uma vaga nas finais do Candangão, que tinha Tiradentes x Gama brigando pela outra glória. Jogo duríssimo, que só faltava matar do coração o presidente guaraense, Wander Abdala. Afinal, ele fizera grandecíssimo esforço para conseguir patrocinadores e trazer jogadores de nome, mesmo já na curva decadente, como o goleador Beijoca e o meia Ailton Lira, o craque mais habilidoso do Santos pós-Pelé e que ja havia até encerrado a carreira - vinha sendo treinador do goiano Itumbiara.

O tempo se esgotava e o Wander Abadala se desesperava. O investimento fora alto e o Lobo da Colina (apelido do Guará) não poderia deixar de morder, ou ser bicado pela Águia (apelido do Taguá). Eram "decorridos 40 minutos do segundo tempo" - narrava Marcelo Ramos -, quando pintou escanteio a favor do Lobo. Ailton  Lira cobrou, fechadíssimo, para o goleiro taguatinguense desviar a pelota quase entrando pela sua gaveta direita. Novo escanteio e o Lira repete o chute e o goleiro a defesa. Terceira cobrança. Finalmente, Aílton Lira bota a bola  na rede, em chute igual aos dois anteriores.

Wander Abdala, emocionadísssimo, de presidente passou a "chefe de torcida", pedindo à sua galera pra incendiar o final da pugna. Assim que o jogo terminou, a rapaziada o carregou nas costas e ele ficou saudando, acenando, sem parar, para quem estava pelas arquibancadas. Lira, sujeito educadíssimo, um "gentleman", craque que defendera Santos (foto) e São Paulo, sempre lembrado, mas nunca convocado pela Seleção Brasileira, o herói daquela tarde domingueira - marcou três gols naquele Candangão - , preferiu ficar quietinho, assistindo a festa para o seu chefe. Depois, que o puseram no gramado, foi o primeiro a cumprimenta-lo. Wander o pegou por uma das mãos e o levou para a trave  a bola entrara – pelo alto. E, dali não parava de acenar, pedir agitos à sua patota. No domingo seguinte, ele decidiria o titulo do futebol candango-1988,   com o Tiradentes – assunto para a próxima coluna. Aguarde-me!

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário