O treino recreativo vascaínos terminara. Os jogadores foram para o chuveiro e, em seguida, embarcaram no ônibus que os levaria para a concentração no Hotel das Paineiras, a fim de descansarem para o prélio, contra o Fluminense, no sábado, no Maracanã, pela Taça Guanabara. O juvenil Ézio, que morava na Ilha do Governador, e geralmente descolava uma carona com Brito ou Oldair, naquele dia ficara sem e perguntou ao enfermeiro Jorginho se ele sabia de mais alguém que iria pra seus lados.
– O Mané Garrincha
mora pa lá – respondeu o Jorginho - e o garoto
Ézio descolou a carona com o velho astro que tentava se levantar.
Embarcaram no imponente Impala do Garrincha e
seguiram sem trocar uma palavra, pois o Ézio não tinha coragem de tentar um
diálogo com uma lenda do futebol brasileiro. Ao atravessar a ponte para a Ilha,
o Mané Garrincha indagou:
– Topa beber um caju
amigo?
Ézio respondeu sim,
sem saber o que era o caju amigo.
No Jardim
Guanabara, Garrincha conduziu o carro lentamente, margeando a praia. Viu uma
vaga de estacionamento e freou, abruptamente. Em vez parar, fazer ar ré e
balizar o carro, ficou calculando a possibilidade de colocá-lo de frente.
Indeciso, provocou um imenso congestionamento e um terrivel buzinaço.
Alertados pelos passantes, dois guardas de trânsito
foram ao local e, ao reconhecerem o Garrincha, sinalizaram para os carros que
estavam atrás pararem. Depois, ajudaram o Torto a estacionar, sacaram seus
bloquinhos de multa e pediram autógrafos ao bicampeão mundial-1058/1962, que
assinou Manuel dos Santos, seu verdadeiro nome.
Depois da bagunça,
Garrincha, atravessou a rua, com o Ézio, levou-o para um barzinho, levou-o para
perto do balcão e pediu dois caju amigo.
O dono do bar levou dois pratos com três pequenos cajus, sal e uma dose
reforçada de pinga. Garrincha salgou a suas frut e desceu a branquinha pelo pescoço (por dentro). Como
o Ézio só olhou, o Mané, então, perguntou:
– E aí garoto, não
vai nessa, não?
– Pode ser uma
cervejinha, seu Garrincha? – indagou o rapaz.
– Pode? – admitiu, o Torto.
Mané Garrincha,
então, trocou seu copo vazio pelo cheio do Ézio e repetiu a mesma jogada (pra
dentro do pescoço). Próximo lance: pagou a conta e tocou seu carro direto para
o prédio onde morava, no Dendê e convidou o acompanhante a subir com ele ao seu
apartamento, surpreendendo Elza Soares (sua companheira) que estava com bobs
(rolinhos) nos cabelos. Garrincha apresentou o visitante e contou ser um
juvenil do Vasco da Gama, a quem dera carona. Elza o indagou:
– Você não deu
bebida pra ele, né?
Garrincha negou
cachaça no guri e, quando ele ia embora, desejou-lhe boa sorte na carreira, o
que o fez sair sorrindo para para uma boa caminhada até a sua distante casa.
Segundo o antigo goleiro vascaíno Valdir Appel, que me contou esta história,
Garrincha só ficou sabendo do nome do juvenil quando jogou do lado do Ézio, em
suas única partida pelo Vasco da Gama, amistosamente, contra a Seleção de
Cordeiro-RJ – em 20 de julho de 1967..
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