Vasco

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quinta-feira, 3 de julho de 2014

HISTÓRIAS DO KIKE - MANÉ CACHAÇA

  O treino recreativo vascaínos terminara. Os jogadores foram para o chuveiro e, em seguida, embarcaram no ônibus que os levaria para a concentração no Hotel das Paineiras, a fim de descansarem para o prélio, contra o Fluminense, no sábado, no Maracanã, pela Taça Guanabara. O juvenil Ézio, que morava na Ilha do Governador, e geralmente descolava uma carona com Brito ou Oldair, naquele dia ficara sem e perguntou ao enfermeiro Jorginho se ele sabia de mais alguém que iria pra seus lados.

– O Mané Garrincha mora pa lá – respondeu o Jorginho - e o garoto
Ézio descolou a carona com o velho astro que tentava se levantar.

 Embarcaram no imponente Impala do Garrincha e seguiram sem trocar uma palavra, pois o Ézio não tinha coragem de tentar um diálogo com uma lenda do futebol brasileiro. Ao atravessar a ponte para a Ilha, o Mané Garrincha indagou:

– Topa beber um caju amigo?

Ézio respondeu sim, sem saber o que era o caju amigo.

No Jardim Guanabara, Garrincha conduziu o carro lentamente, margeando a praia. Viu uma vaga de estacionamento e freou, abruptamente. Em vez parar, fazer ar ré e balizar o carro, ficou calculando a possibilidade de colocá-lo de frente. Indeciso, provocou um imenso congestionamento e um terrivel buzinaço.

Foto (colorizada) do álbum de Valadir Appel

Alertados pelos passantes, dois guardas de trânsito foram ao local e, ao reconhecerem o Garrincha, sinalizaram para os carros que estavam atrás pararem. Depois, ajudaram o Torto a estacionar, sacaram seus bloquinhos de multa e pediram autógrafos ao bicampeão mundial-1058/1962, que assinou Manuel dos Santos, seu verdadeiro nome.

Depois da bagunça, Garrincha, atravessou a rua, com o Ézio, levou-o para um barzinho, levou-o para perto do balcão e pediu dois caju amigo. O dono do bar levou dois pratos com três pequenos cajus, sal e uma dose reforçada de pinga. Garrincha salgou a suas frut e desceu a branquinha pelo pescoço (por dentro). Como o Ézio só olhou, o Mané, então, perguntou:

– E aí garoto, não vai nessa, não?

– Pode ser uma cervejinha, seu Garrincha? – indagou o rapaz.
– Pode? – admitiu, o Torto.

Mané Garrincha, então, trocou seu copo vazio pelo cheio do Ézio e repetiu a mesma jogada (pra dentro do pescoço). Próximo lance: pagou a conta e tocou seu carro direto para o prédio onde morava, no Dendê e convidou o acompanhante a subir com ele ao seu apartamento, surpreendendo Elza Soares (sua companheira) que estava com bobs (rolinhos) nos cabelos. Garrincha apresentou o visitante e contou ser um juvenil do Vasco da Gama, a quem dera carona. Elza o indagou:

– Você não deu bebida pra ele, né?

Garrincha negou cachaça no guri e, quando ele ia embora, desejou-lhe boa sorte na carreira, o que o fez sair sorrindo para para uma boa caminhada até a sua distante casa.
Segundo o antigo goleiro vascaíno Valdir Appel, que me contou esta história, Garrincha só ficou sabendo do nome do juvenil quando jogou do lado do Ézio, em suas única partida pelo Vasco da Gama, amistosamente, contra a Seleção de Cordeiro-RJ – em 20 de julho de 1967..

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