As fotonovelas italianas vendiam bem no mercado brasileiro. Mas eram muito caras. Então, o “Titio” Adolpho Bloch – como os empregados da Editor Bloch o chamavam – resolveu produzir as dele. Nos meios de papos com a sua galera do departamento financeiro, alguém sugeriu-lhe falar com o amigo Roberto Marinho e contratar atores menos famosos da TV Globo a preços mais baratos, para não deixar a revista Sétimo Céu parar com as fotonovelas. O Doutor Roberto, liberou campo livre e a galera de menos fama, pra morder uma graninha por fora, levava até as roupas usadas nas gravações globais.
– Adolpho! É até um favor que você me faz. Esta moçada vive me chamando pão-duro, reclamando da holerite. Não posso lhes pagar o que ganham Tarciso Meira e Regina Duarte, que levantam minha audiência, me rendem muita publicidade. Acerte com eles – respondeu o “Doutor” Roberto Marinho, que havia sido repórter de jornal e conhecia bem todos as choradeiras de quem vivia reclamando do salário.
Irma Alvarez era uma morenaça argentina que apaixonara-se pelo Rio de Janeiro e naturalizara-se brasileña. Sonhada, paquerada por dez em cada nove cavalheiros brazucas, causava pânico quando desfilava de biquíni, em 1959, durante programações do Hotel Copacabana Palace. Era paparicadíssima pelo maior diretor de shows cariocas – Carlos Machado – e pelos grandes diretores cinematográficos da década-1960 – Paulo César Saraceni, Domingos de Oliveira, Jece Valadão, Bruno Barreto e Roberto Farias -, tendo, com Gláuber Rocha, atuado em sua obra prima, Terra em transe, de 1967. Antes, em 1962, trabalhando em Porto das Caixas, fora eleita melhor atriz do ano - na TV, brilhou desde 1963.
Foi, então, a moçada para o
fechamento da produção. Os fotógrafos encheram a cara da atriz de um sangue
composto por anilina, glicerina e chocolate, para obtenção de melhor qualidade
nas fotos do acidente, e rolou fotografagem. Rapidão, o local ficou repleto
de curiosos, não demorando até mesmo a aparecer uma ambulância do Hospital Souza
Aguiar, que passava por perto e foi chamada pela moçada que curtia o trabalho da rapaziada do "Titio".
Até ali, nada de menos, ou de mais. Só que, ao saber do que se travava, a moçada da ambulância ficou uma fera, achou ter sido feita de palhaço e partiu para o maior bate-boca com a turma da fotonovela. Nisso, a bela Irma Alvarez vai se levantando do chão, deixando as coxas, generosamente, ao deleite da galera, que ficou estática, com os olhos pregados em sua calcinha. Ameaças e xingamentos cessados, pelo lance da peça íntima da hermana, o fotógrafo Gervásio Baptista falou pra moça:
E entre dentes, calcinhas e indecências, em pé de guerra, ainda deu pra fotografar o final da fotonovela, com um beijo entre a atriz famosa e o modelo Jefferson Dantas (ator principal da trama).
OBS: ESTA HISTÓRIA ME FOI CONTADA POR GERVÁSIO BAPTISTA
Texto publiado pelo Jornal de Brasília de 04.05.2025 e trazido para cá pelo Túnel do Tempo.
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