Vasco

Vasco

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A CRUZMALTINA RACHEL DE QUEIROZ

Lendo o discurso de posse
A primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras foi uma torcedora do Vasco da Gama: Rachel de Queiroz. Ela, sempre, explicitou a sua simpatia pelo "Almirante", inclusive, escrevendo isso pela revista “O Cruzeiro”. Mas porquê Rachel admirava um clube carioca, se ela era uma cearense?
Rachel no antigo 'Clube do Bolinha'. Mulher não entrava
Aos vinte anos– – viveu entre 17.11.1910 a  04.11.2003 –, a escritora que narrava a luta do seu povo contra a seca e a miséria possuía espírito esportivo. E, associando-o às suas preocupações sociais, foi no caráter dos vascaínos que ela encontrou a similaridades. Afinal, o Vasco não lutara, como os seus nordestinos, contra todos os tipos de preconceitos e discriminações?
Era 4 de novembro de 1977 quando a vascaína Rachel de Queiroz tornou-se imortal. Passavam-se três meses que ela havia vencido  o jurista Pontes de Miranda na disputa pela “Cadeira 5”, antes de Cândido Mota Filho, sob o patronato de Bernardo Guimarães. Recebida por Adonias Filho, passou a ser a quinta ocupante do assento. Fora uma bela noite carioca,  quando os acadêmicos Francisco de Assis Barbosa, Odylo Costa Filho e Otávio de Faria conduziram-na ao salão solene da Casa de Machado de Assis. Todos levantaram-se e aplaudiram-na, até ela sentar-se à poltrona azul, diante da mesa da presidência da Casa de Machado de Assis.
 Como presente pela imortalidade, o Vasco deu a Rachel o título de campeão carioca daquela temporada, abatendo 14 adversários e conquistando os dois turnos de forma incontestável: em 30 refregas, 25 vitórias e quatro empates. Só uma escorregadinha, compensada por 69 marcados e apenas cinco sofridos, o que lhe deixava com o espantoso saldo de 64 bolas na caçapa. Imitou os atos de heroísmo dos livros da primeira acadêmica.  
O abraço da amiga Dinah
  Descendente do escritor naturalista José de Alencar, pelo lado da mãe Clotilde Franklin de Queiroz, a filha, igualmente, de seu Daniel de  Queiroz Lima chegou ao Rio de Janeiro, com a família fugindo da seca, em 1917, quando o time do Vasco disputava a sua segunda temporada no futebol (Segunda Divisão da Liga Metropolitana de Sports Athléticos).  Em 1929, quando o clube reconquistava o título de campeã carioca, já obtido em 1923/1924, passando por ciam de todos os preconceitos das elites da bola, Rachel voltava ao Ceará e começava a colocar as suas maguinhas políticas para fora. Em 1934, com o Vasco, novamente, campeão (pela  Liga Carioca de Football), ela discordava dos colegas de credo politico e muda-se apara São Paulo. Em seguida, rumou para o Norte, por lá ficando até 1939, uma outra temporada em que a “Turma da Colina” carregou o caneco para São Januário. Antes disso, em 1937, ano em que o Vasco também tropeçou na disputa pelo título estadual – ficou em terceiro lugar – ela havia curtido uma cadeia,  acusada de ser comunista. E teve os seus livros queimados. Mas voltou a ser livre para escrever e ver que era no Rio de Janeiro onde ferviam as panelinhas literárias. Voltou e ficou mais perto da Colina. 
Fotos reproduzidas da revista Manchete
Dois livros muito aplaudidos de Rachel de Queiroz tiveram lançamentos coincidindo com temporadas em que o Vasco estraçalhara: “A Beata Maria do Egito”, em 1958, quando foi SuperSuperCampeão carioca e ganhador do Torneio Rio São Paulo, e “Memorial de Maria Moura", em 1992, época de título estadual. Este, por sinala, foi sucesso na TV, com Glória Pires interpretando, em novela da TV Globo, a saga de uma cangaceira nordestina. Encantou o Brasil e foi exportada para Angola, Bolívia, Canadá, Guatemala, Indonésia, Nicarágua, Panamá, Porto Rico, Portugal, Republica Dominicana, Uruguai e Venezuela. Rachel, uma grande cabeça. E cruzmaltina!
Rachel de Queiroz, portanto, tabelava, com o Vasco no jogo do tempo. Tempo de vitórias, que incluem Nossa Senhora das Vitórias, a mãe de Deusa na tradição cristã, o símbolo da vitória do bem sobre o mal, desde  a época das cruzadas. Não é que Rachel entrou para a Academia Cearense de Letras em um 15 de agosto (de 1994)!  Na mesma data, em 1955, estava sendo inaugurada, dentro da sede cruzmaltina, a capela da padroeira do clube, o que começou a nascer juntamente com as consagradoras vitórias do time em sua primeira participação na elite do Campeonato Carioca-1923, quando ela tinha 13 anos, “na idade das imaginações e dos sonhos”, conforme disse em seu  discurso de posse na ABL, quando recitou versos do poeta Raimundo Correia e louvou a Aloysio de Castro, Cândido Mota Filho, Bernardo Guimarães e ao sanitarista Oswaldo Cruz seu “herói angélico, de vida curta e generosa ... contra o inimigo  invisível. Assim foi Rachel,  uma cruzmaltina inteiramente visível.

Um comentário:

  1. encontrei isto na internet
    Heloísa Buarque de Holanda – Estava nos estatutos da Academia, que era coisa para escritores homens. E a entrada da Rachel era a entrada da mulher na literatura brasileira. Essa posse foi uma festa nacional. Tinha torcida – era ela vascaína –, então tinha a torcida vascaína na entrada da academia, toda aos gritos. Eram milhares de pessoas. A cidade parou. Tinha a escola de samba. Era uma coisa literalmente gigantesca.

    ResponderExcluir