Se um
pássaro - por exemplo, uma garrincha - não fosse mais rápido do que um
equino – digamos, um cavalo -, este chegaria à frente, certamente, do
animalzinho alado, com um corpo de vantagem, em uma imaginária corrida de
bichos.
Prêmio da proeza: o direito de apelidar um demônio. Mas demônio do bem,
da arte, da alegria do povo no futebol - mau só para os marcadores.
O
demônio em questão chamou-se Garrincha, foi ponta-direita e, no auge da
carreira, defendeu o Botafogo (1953 a 1965, por 581 jogos e 232 gols)
e a Seleção Brasileira (16 gols, em 60 partidas, entre 1955 e 1966).
Garrincha
ganhou apelido passaredo, por viver caçando as suas xarás pelas matas de Pau
Grande, distrito de Magé-RJ. Mas, ao fazer os seus primeiros treinos
botafoguenses, andou sendo apelidado por Gualicho, por conta de um cavalo que
vinha sendo o máximo no prado brasileiro. Um animal que ganhara tanta
expressão, chegando a disputar capas de revistas bacanas com as belas
dondocas cariocas.
Gualicho
foi uma lenda surgida nos páreos turfísticos da década-1950, em hipódromos do
Rio de Janeiro e de São Paulo. Travava duelaços, entre outros, com
o francês Fort Napoléon, o argentino El Aragonés e o brasileiro
Quiproquó.
Até hoje é homenageado pelo Jockey Club Brasileiro.Olavo Rosa montava e o 'avião' Gualicho 'voava e recordeava' |
De sua parte, Garrincha
tentou outros clubes cariocas, antes de procurar o Botafogo. Mas não teve vez. Sorte dos alvinegros, que nada gastaram para tê-lo, ao contrário de João Adhemar de Almeida Prado, que comprou o Gualicho, em leilão, na
Argentina, por caríssimos (para a época) Cr$ 400
mil (cruzeiros), pagos pelo Stud Almeida Prado & Assunção. Sem demora, porém, o cavalo levantou Cr$ 4,6
milhões pelas suas patas voadoras, que lembravam as asas de uma
garrincha.
Foram
grandes os lucros proporcionados por cavalo e atleta. Gualicho, dito pela
imprensa como “o maior espetáculo sobre a pista”, foi aplaudido
por 100 mil torcedores ao vencer o GP Brasil-1953, temporada em que Garrincha
partiu para a glória - 19 de julho de 1953 -, marcando três gols (um de
pênalti) em Botafogo 6 x 3 Bonsucesso, pelo Campeonato Carioca.
Nascido em 22 de outubro de 1948 e criado por Jorge A. Santamarina, o vencedor
Gualicho era filho do inglês The Druid, sempre foi treinado
por Manoel Branco e montado por Olavo Rosa. Em 25 de janeiro 1954, quando era
o franco favorito para vencer o GP do IV Centenário de São Paulo, foi
batido pelo hermano El Aragonés, ficando atrás, ainda,
do brasileiro Quiproquó e do chileno Biriatou. Motivo para Garrincha não ser
Gualicho e ir mais longe em sua carreira de ponta.
Mané Garrincha - era mais um Manoel nesse país muito católico - ajudo o escrete
brasileiro a ganhar as Copa do Mundo de 1958 e de 1962; a Copa
Roca-1960 (contra argentinos); e as Taças Oswaldo Cruz-1958/61/62 (diante de
paraguaios) e O´Higgins-1955/59/61 (encarando chilenos).
Enfim, duas lendas: a cavalar, completamente esquecida, e a atlética, já batendo asas para o esquecimento.
Enfim, duas lendas: a cavalar, completamente esquecida, e a atlética, já batendo asas para o esquecimento.
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