O Rio de
Janeiro dos tempos em que a maioria interiorana do país o conhecia (isto é, ouvia
falar), pelas ondas da Rádio Nacional e o visitava lendo as reportagens da
revista O Cruzeiro, era um autêntico lindo sonho deslumbrante. Principalmente,
os seus cartões postais.
Era uma festa, lá em minha casa, na Bahia-Oeste, quando
o meu pai e os seus amigos recebiam os exemplares da semanária dos Diários e
Emissoras Associadas, que aviões Douglas da VARIG levavam para assinantes e os entregavam
no aeroporto de Barreiras.
Depois de O
Cruzeiro, chegou por lá a Manchete, da família Adolpho Bloch,
reforçando a imaginação sertaneja sobre personagens da vida social
carioca, como, por exemplo, o trepidante Didu Souza Campos, um dos mais
badalados.
Ouvia-se
falar – e lia-se nas colunas sociais - que Didu havia passado pelos chamados Anos Dourados – a década-1950 – residindo
(totalizara 25 temporadas) em uma mansão de cinco andares, em Copacabana, o
bairro que os interioranos imaginavam ser igual ao Céu ensinado pela Igreja Católica
Apostólica Romana.
Quando
aquele tempo passou e o Rio de Janeiro ficou
mais perto do Brasil, Didu já descera de tantos andares e já morava em um
modesto apartamento, de 85 metros quadrados, no chamado Corte de Cantagalo, de
onde as suas lágrimas engrossavam o volume das águas do mar de Ipanema,
saudoso dos gloriosos tempos da sua pleiboyzisse. O antes encantador, galanteador Príncipe de Copacabana já não fazia mais a barba no elegante Country Clube e nem jantava no
restaurante Fiorentino. Muito menos, esticava noitadas até a boate Hipopotamus.
Por aquelas
trocas de calendários, quando passava por uma curva da Logoa Rodrigo de Freitas,
perto da sua dourada Copacabana, Didu dirigia um classe média Passat (carro de
relativo sucesso durante a década-1980), acidentou-se e só foi se dar
conta de que ainda pertencia à população de uma Cidade Maravilhosa ao acordar
em um pronto-socorro. Quando nada, os estragos em seu rosto sedutor puderam
(ainda) ser tratados em clínica top de
linha da Zona Sul carioca e em Houston, nos Estados Unidos. Perdera, porém, 90% da visão esquerda que vivia pregado nas estonteantes loiras, ruivas e morenaças cariocas.
Didi e Carmem Souza Campos reproduzido da revista semanária carioca O Cruzeiro |
Um dia,
Didu viu-se aposentado, por invalidez, pela segurança social verde-e-amarela, e passou a viver com pensão inimaginável
para um enfant gâté de décadas nem tão distantes.
Passou a precisar de ajuda familiar e dos amigos. Dizia andar sempre devendo aos bancos.
Quem poderia imaginar aquilo, vindo de quem promovia várias festas diárias, só para
alegrar a mulher? - a bela Carmen de Souza Campos, uma das socialites mais divulgadas
pela imprensa e com quem ele passara 15 festivas temporadas.
Didu
podia torrar grana, sem preocupações. Herdeiro do título de Conde da Graça, concedido, pelo Rei de
Portugal, ao seu tataravô, ele havia sido criado entre o Gávea Golf Club, jogando
pólo, e o Country Club, que lhe proporcionava grandes tardes para se divertir
com a sinuca e o tênis. Saudosos tempos setentistas, de papos interminávais com
os bacanas nos almoço e à beira de piscinas; de tantas badalações nas boates Le
Bateau, Girau e Zum Zum.
Em 1972, pintaram as primeiras
dificuldades financeiras do bon vivent, devido a separação dos seus pais, que venderam posses. O
futuro, no entanto, ensinou-lhe a se adaptar aos novos tempos, a conviver até
com passageiros do transporte por ônibus populares do povão. Lá de dentro, ele os observava e ficava imaginando a vida que levavam. Com certeza, bem diferente da
que tinha se acostumado.
Não muito depois estar parando em pontos de ônibus,
vivendo a rotina de um pobretão, separado de Carmem, que tornava-se princesa (título simbólico recebido pelo casamento dela, em 1990, com o Dom João Nepomuceno Maria
Felipe Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orleans e Bragança), Didu não encontrava mais as velhas magazines cariocas pra escrever e fotografar ex-playboy – e, se alguma moderna
falasse, os novos leitores não dispensariam atenção. Os antigos granfinos
carioca já eram.
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