Jogador de futebol costuma caçoar com o colega que passa tempos tratando de contusão, na enfermaria do clube. Diz que ele foi levado pelo “time do chinelinho”, isto é, trocou as chuteiras por calçado leve. E este tem sido um tem trazedor de muitos dilemas para a Seleção Brasileira, como no recente caso de Neymar e Murilo, que saíram da estreia nesta Copa-2022, em Brasil 2 x 0 Sérvia, com tornozelos inchados e que os deixará, no mínimo, duas rodadas sem jogar.
O primeiro “chinelista” por quem
a torcida brasileira lamentar muito foi o ponta-direita gaúcho Tesourinha, do
Vasco da Gama. Seria o titular absoluto de sua posição durante o Mundial-1950,
em gramados “brazucas”. Pertinho da competição começar, ele sentia
terrível dor em um dos joelhos. Tiraram a radiografia e foi constatado menisco
fraturado. Cortado, cedeu vaga ao corintiano Cláudio, que não jogou. O
treinador Flávo Costa preferiu escalar na vaga do “Tesoura” o lateral vascaíno
Alfredo dos Santos. Depois, o meia, também vascaíno, Maneca, e, por último, o
são-paulino Friaça, que erra centroavante. Nenhum especialista, portanto, na
vaga.
Escritos deixados em revistas e
jornais da época, afirmam que, com o Tesourinha – Osmar Fortes Barcellos -
Barcelos – em campo, dificilmente, o Brasil levaria 1 x 2 Uruguai, dentro do
Maracanã, e perderia a Copa. Todos se lembravam de que ele havia sido o melhor
jogador do time brasileiro campeão sul-americano-1949 e era fera, feríssima –
viveu de 03.061921 a 17.06.1979.
Em 1966, com a Copa na Inglaterra, pela
terceira vez, Pelé foi atingido pelos raios da maldade. Em Brasil 2 x 0 Bulgária,
na estreia, apanhou tanto que não deu para ir ao segundo jogo: 1 x 3 Hungria.
Voltou na terceira partida – Brasil 1 x 3 Portugal – e fizeram dele peteca, o
espanando geral. Se tivesse sido condenado a chibatadas, como nos filmes
antigos, teria apanhado menos, com certeza.
Veio 1970 e um dos mais destacados atacantes,
o ponta-direita Rogério Hetmanek, do Botafogo, foi cortado, igual a Tesourinha,
nas vésperas da Copa. Por um problema muscular que a medicina de hoje curaria
em pouco tempo. Em 1974, a “bruxa” tirou Clodoaldo e Carlos Alberto Torres do
time, duas figuras pesos pesados do time do tri, em 1970, no México. Em 1978, a
bola da vez foi Rivellino, principal jogador do time, que disputou a primeira
partida - Brasil 1 x 1 Suécia “ só pode
voltar na penúltima – Brasil 3 x 1 Polônia e na última – Brasil 2 x 1 Itália,
que só serviu para ele ser “campeão moral”.
Em 1982, com a Copa do Mundo na Espanha, mais
uma vez, na janela do torneio, a “bruxa” pintou. E carregou Careca, o mais
talentoso dos nossos atacantes. Foi substituído por Roberto Dinamite, do Vasco
da Gama e que não ficou nem no banco dos reservas. Em 1986, novamente com um
Mundial no México, o bafejado pelo bruxuleante destino foi Zico, um dos maiores
craques brasileiros de sua geração. Recuperava-se de cirurgia em um dos
joelhos°, ao entrar frio, contra a França, perdeu um pênalti e “ajudou” o
Brasil a ser eliminado. Em, 1990, Romário foi à Copa (segunda) da Itália para
jogar poucos minutos. Passara longo tempo tratando de contusão que não sarava
totalmente.
FOTO REPRODUZIDA DA REVISTA PLACAR - AGRADECIMENTO
Mal, fisicamente, Zico perdeu um pênalti, contra a França, e "ajudou" eliminar o time brasileiro do Mundial México-1986
Em 1994, nos Estados Unidos, perdemos o zagueiro Ricardo Gomes durante treino contra o Canadá, também às vésperas do Mundial. Em 1998, na segunda Copa da França (primeira em 1938) houve o caso da convulsão sofrida por Ronaldo Fenômeno pouco antes da final, contra os anfitriões. O choro pelos 0 x 3 França ficou, mas não deixou de abalar o time que pareceu ter esquecido de muito do que sabia.
Entre 2002 a 2010, enfim, até que a “bruxa”
deu um tempo. Mas não perdoou, em 2014, com a Copa, novamente no Brasil. Por
ali, um zagueiro colombiano quase quebra o espinhaço de Neymar pelo meio. Sem o
seu principal jogador, a rapaziada levou 1 x 7 Alemanha e 0 x 3 Holanda, nos
jogos seguintes. Agora, é com o mesmo Neymar que a história se repete. Como nas
vezes em que Pelé foi o alvo. De coincidência, ambos vestiam a camisa 10.
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