Para os historiadores, o homem começou a apostar há uns 10 mil anos, por meio do lançamento de pedras, paus, flechas, lanças, o que pintasse. Há 3 mil anos Antes de Cristo, o Egito criou o dado e jogos de tabuleiro. Durante os séculos XII e XII, os chineses lançaram as cartas de baralho e, mais modernamente, ingleses e franceses se disseram inventores das apostas nos esportes. Os primeiros garantem terem começado tudo, apostando nas patas dos cavalos, mas os rivais juram terem feito primeiro, desde 15 de maio de 1651. E no Brasil?
Torcida do Bahia já apostava desde a época das fotos em PB
Por aqui, apostas rolam desde o século 16, trazidas por europeus que jogavam a sorte em cartas e dados, entre outros. Loteria foi trazida pelo Imperador Dom João VI, em 1784, instalada em Vila Rica (depois, Ouro Preto), capital de Minas Gerais, com promoção a cargo da Igreja Católica. Dom Pedro II regulamentou-a, pelo decreto Nº 357, de 27 de abril de 1844, mas, antes, em 1822, os brasileiros já apostavam em corridas de cavalo, que ficaram muito popular no Rio de Janeiro e geravam receitas para o Governo. Mesmo assim, foram proibidas, bem como outros chamados jogos de azar, em 1831, durando isso até 1854, quando surgiu o Jockey Club do Rio de Janeiro, para apostas das classes média e alta. Em 1892, foi a vez de (barão) João Batista Viana Drummond criar o Jogo do Bicho, para ajuda-lo a manter um zoológico.
Um retrocesso nas apostas veio
durante o governo do presidente Venceslau Braz (1914/1918), com proibição delas
e de criação de casas especializadas no caso. Mas a jogatina rolavamm,
clandestinamente. Em 1917, surgiu a Loteria Federal, que emplacou legal. A
partir da década-1930, o presidente Getúlio Vargas legalizou os jogos e os
cassinos impulsionaram a economia que gerou milhares de empregos. Em 1941,
a Lei de Convenção Criminal derrubou a tal lei, mas o Governo
“relegalizou-a” e o rolo rolou até o decreto-lei 9.215, de 30 de abril de 1946,
do presidente Eurico Dutra, achar tudo “degradante para o ser humano”.
REPRODUÇÃO DO ACERVO DO PALÁCIO DO PLANALTO
Presidente Costa e Sivla canetou a "hora do povo ficar rico"
Por ali, não havia bola pelo meio. A primeira tentativa de uma loteria esportiva no Brasil foi em 9 de maio de 1966, vésperas do Mundial da Inglaterra, quando lançou-se a Lotecopa (Loteria da Copa do Mundo), criada pela Caixa Econômica Federal, em colaboração com a Confederação Brasileira de Desportos-CBD, atual CBF. Mas, pra valer, a Loteria Esportiva brasileira só começou mesmo a partir de 27 de maio de 1969, por canetada do presidente-general Costa e Silva, pelo decreto-lei Nº 594, regulamentado, em 25 de março de 1970, pelo ministro da Fazenda, Delfim Neto, com o primeiro teste, em 19 de abril de 1970, no Rio de Janeiro, com tiragem de 100 mil bilhetes e prêmio de 253.958 cruzeiros novos – equivalentes, hoje, a R$ 394 mil, 388 reais e 43 centavos.
“Chegou a hora do povo ficar
rico” teria dito o presidente Costa e Silva, com um deslize gramatical e
mostrando-se “pé frio”, pois ninguém cravou os 13 pontos exigidos pelos
volantes iniciais – oito apostadores acertaram 12 palpites e cada um levou
NCr$ 10 mil cruzeiros novos (moeda da época). Depois, houve testes
experimentais (3 de maio) no Rio de Janeiro, e (17 de maio), em São Paulo, Belo
Horizonte e Brasília, mas, oficialmente, tudo começa em 7 de junho de 1970,
quando alguém acertou os 13 pontos, pela primeira vez.
Teste nº 5 - 28 de junho de 1970
J | Coluna 1 | x | Coluna 2 | ||
1 | Portuguesa SP | 0 | x | 0 | Palmeiras SP |
2 | Coríntians SP | 1 | x | 1 | Ponte Preta SP |
3 | Botafogo SP | 0 | x | 1 | Santos SP3 |
4 | São Paulo SP | 1 | x | 0 | São Bento SP |
5 | Guarani SP | 3 | x | 0 | Ferroviária SP |
6 | Grêmio Oeste PR | 2 | x | 2 | Coritiba PR |
7 | Ferroviário PR | 2 | x | 0 | Seleto PR |
8 | Sport Recife PE | 0 | x | 0 | Náutico PE |
9 | Central PE | 1 | x | 1 | Santo Amaro PE |
10 | Bahia BA | 0 | x | 0 | Ipiranga BA |
11 | Fluminense BA | 0 | x | 0 | Monte Líbano BA |
12 | Avaí SC | 0 | x | 1 | Almirante Barroso SC |
13 | NOVA IGUAÇU RJ | 0 | x | 0 | NOVA FRIBURGO RJ |
Bem antes de o Brasil ter a
Loteria Esportiva, os baianos já faziam a sua “fezinha”, pelo Bolo Tricolor, lançado pelo Esporte
Clube Bahia, durante a década-1950 e que era a mola mestra de sua engrenagem.
Com o dinheiro apostado pela sua torcida, o Tricolor
de Aço ganhou sede própria; aparelhos para uso medicinal; campos de
treinamentos, piscina para desenvolvimento da natação, enfim construiu
um patrimônio. Do arrecadado das apostas, 60% iam para os esportes
amadores e 40% para o departamento patrimonial, que nada repassava ao futebol
profissional, que se virava com a receita das bilheterias de campeonatos e
de amistosos.
O Bolo Tricolor era formado por sete jogos, pagando-se pelo número de
apostas e só valendo palpite cheio, com placar acertado. Era comandado pelo
malandro Gabriel Saraiva que, quando o prêmio acumulava, ele aumentava as
dificuldades dos prognósticos, colocando até jogos do campeonato
soviético, que só eram do conhecimento de quem ouvia as jornadas
esportivas de rádios cariocas e paulistas. Fechavam-se as apostas nas
sextas-feiras. Pelas noites dos domingo, tinha-se todas as informações, borderô
completo. O trabalho entrava pela madrugada e, lá pelas seis da manhã, era
impresso, para chegar às ruas às oito horas da segunda-feira.
FOTO REPRODUZIDA DE REVISTAS DO BAHIA
O Bahia da época detinha 70% da torcida do seu Estado e reunia quatro mil sócios pagando, direitinho, os seus carnês. Embora já mexesse com apostas 20 temporadas antes da Loteria Esportiva, foi ignorado por esta quando incluiu os primeiros times baianos em seus volantes – Teste Nº 2, Ipiranga 1 x 1 Jequié. Só foi lembrado a partir do Teste Nº 5 – Bahia 0 x 0 Ipiranga - (volante acima), recorde de prêmio para um só ganhador, com 12 pontos, levando Cr$ 209 mil, 494 cruzeiros e 84 centavo.
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