Vasco

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sexta-feira, 29 de setembro de 2023

HISTÓRIAS DO KIKE - BOLO TRICOLOR

    Para os historiadores, o homem começou a apostar há uns 10 mil anos, por meio do lançamento de pedras, paus, flechas, lanças, o que pintasse. Há 3 mil anos Antes de Cristo, o Egito criou o dado e jogos de tabuleiro. Durante os séculos XII e XII, os chineses lançaram as cartas de baralho e, mais modernamente, ingleses e franceses se disseram inventores das apostas nos esportes. Os primeiros garantem terem começado tudo, apostando nas patas dos cavalos, mas os rivais juram terem feito primeiro, desde 15 de maio de 1651. E no Brasil?

Torcida do Bahia já apostava desde a época das fotos em PB

Por aqui, apostas rolam desde o século 16, trazidas por europeus que jogavam a sorte em cartas e dados, entre outros. Loteria foi trazida pelo Imperador Dom João VI, em 1784, instalada em Vila Rica (depois, Ouro Preto), capital de Minas Gerais, com promoção a cargo da Igreja Católica. Dom Pedro II regulamentou-a, pelo decreto Nº 357, de 27 de abril de 1844, mas, antes, em 1822, os brasileiros já apostavam em corridas de cavalo, que ficaram muito popular no Rio de Janeiro e geravam receitas para o Governo. Mesmo assim, foram proibidas, bem como outros chamados jogos de azar, em 1831, durando isso até 1854, quando surgiu o Jockey Club do Rio de Janeiro, para apostas das classes média e alta. Em 1892, foi a vez de (barão) João Batista Viana Drummond criar o Jogo do Bicho, para ajuda-lo a manter um zoológico.

Um retrocesso nas apostas veio durante o governo do presidente Venceslau Braz (1914/1918), com proibição delas e de criação de casas especializadas no caso. Mas a jogatina rolavamm, clandestinamente. Em 1917, surgiu a Loteria Federal, que emplacou legal. A partir da década-1930, o presidente Getúlio Vargas legalizou os jogos e os cassinos impulsionaram a economia que gerou milhares de empregos. Em 1941, a Lei de Convenção Criminal derrubou a tal lei, mas o Governo “relegalizou-a” e o rolo rolou até o decreto-lei 9.215, de 30 de abril de 1946, do presidente Eurico Dutra, achar tudo “degradante para o ser humano”.

           REPRODUÇÃO DO ACERVO DO PALÁCIO DO PLANALTO

Presidente Costa e Sivla canetou a "hora do povo ficar rico"  

Por ali, não havia bola pelo meio. A primeira tentativa de uma loteria esportiva no Brasil foi em 9 de maio de 1966, vésperas do Mundial da Inglaterra, quando lançou-se a Lotecopa (Loteria da Copa do Mundo), criada pela Caixa Econômica Federal, em colaboração com a Confederação Brasileira de Desportos-CBD, atual CBF. Mas, pra valer, a Loteria Esportiva brasileira só começou mesmo a partir de 27 de maio de 1969, por canetada do presidente-general Costa e Silva, pelo decreto-lei Nº 594, regulamentado, em 25 de março de 1970, pelo ministro da Fazenda, Delfim Neto, com o primeiro teste, em 19 de abril de 1970, no Rio de Janeiro, com tiragem de 100 mil bilhetes e prêmio de 253.958 cruzeiros novos – equivalentes, hoje, a R$ 394 mil, 388 reais e 43 centavos.

“Chegou a hora do povo ficar rico” teria dito o presidente Costa e Silva, com um deslize gramatical e mostrando-se “pé frio”, pois ninguém cravou os 13 pontos exigidos pelos volantes iniciais – oito apostadores acertaram 12 palpites e cada um levou NCr$ 10 mil cruzeiros novos (moeda da época). Depois, houve testes experimentais (3 de maio) no Rio de Janeiro, e (17 de maio), em São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, mas, oficialmente, tudo começa em 7 de junho de 1970, quando alguém acertou os 13 pontos, pela primeira vez.

                     Teste nº 5 - 28 de junho de 1970

JColuna 1xColuna 2
1Portuguesa SP0x0Palmeiras SP
2Coríntians SP1x1Ponte Preta SP
3Botafogo SP0x1Santos SP3
4São Paulo SP1x0São Bento SP
5Guarani SP3x0Ferroviária SP
6Grêmio Oeste PR2x2Coritiba PR
7Ferroviário PR2x0Seleto PR
8Sport Recife PE0x0Náutico PE
9Central PE1x1Santo Amaro PE
10Bahia BA0x0Ipiranga BA
11Fluminense BA0x0Monte Líbano BA
12Avaí SC0x1Almirante Barroso SC
13NOVA IGUAÇU RJ0x0NOVA FRIBURGO RJ

Bem antes de o Brasil ter a Loteria Esportiva, os baianos já faziam a sua “fezinha”, pelo Bolo Tricolor, lançado pelo Esporte Clube Bahia, durante a década-1950 e que era a mola mestra de sua engrenagem. Com o dinheiro apostado pela sua torcida, o Tricolor de Aço ganhou sede própria; aparelhos para uso medicinal; campos de treinamentos, piscina para desenvolvimento da natação, enfim construiu um patrimônio. Do arrecadado das apostas, 60% iam para os esportes amadores e 40% para o departamento patrimonial, que nada repassava ao futebol profissional, que se virava com a receita das bilheterias de campeonatos e de amistosos.

O Bolo Tricolor era formado por sete jogos, pagando-se pelo número de apostas e só valendo palpite cheio, com placar acertado. Era comandado pelo malandro Gabriel Saraiva que, quando o prêmio acumulava, ele aumentava as dificuldades dos prognósticos, colocando até jogos do campeonato soviético,  que só eram do conhecimento de quem ouvia as jornadas esportivas de rádios cariocas e paulistas. Fechavam-se as apostas nas sextas-feiras. Pelas noites dos domingo, tinha-se todas as informações, borderô completo. O trabalho entrava pela madrugada e, lá pelas seis da manhã, era impresso, para chegar às ruas às oito horas da segunda-feira.

                              FOTO REPRODUZIDA DE REVISTAS DO BAHIA

Fase do Bolo Tricolor rendia uma boa grana na boca do cofre e vitórias em campo

 O Bahia da época detinha 70% da torcida do seu Estado e reunia quatro mil sócios pagando, direitinho, os seus carnês. Embora já mexesse com apostas 20 temporadas antes da Loteria Esportiva, foi ignorado por esta quando incluiu os primeiros times baianos em seus volantes –  Teste Nº 2, Ipiranga 1 x 1 Jequié. Só foi lembrado a partir do Teste Nº 5 – Bahia 0 x 0 Ipiranga - (volante acima), recorde de prêmio para um só ganhador, com 12 pontos, levando Cr$ 209 mil, 494 cruzeiros e 84 centavo.

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