Hino nacional do Carnaval brasileiro teve"sambinha" na Justiça
Não havia ninguém mais “bola murcha”, no janeiro do Rio de Janeiro de 1932, do que Francisco Alves, o cantor mais popular do Brasil. Culpa dele mesmo, que recusara gravar uma marchinha - O teu cabelo não nega - lhe oferecida por Lamartine Babo, preferindo uma outra – Marchinha de Amor – que não foi amada por ninguém.
Já que o Chico não botava fé na composição do Lalá (como amigos apelidavam o Lamartine), estee propôs aos comediantes Castro Barbosa e Jonjoca grava-la. Os caras toparam, o Lalá falou com Pixinguinha, que levou uma galera de velhos amigos para um estúdio, onde ele mesmo conduziu a gravação - Luís Americano e Sousa Aragão (saxofones); Bonfliglio de Oliveira (piston); Donga (banjo); Vantuil de Carvalho (trombone); João Martins (contrabaixo) e Elezar de Carvalho (tuba). Além destes, o Lalá formou um coro que reuniu, ainda, ele, a sua amiga Carmem Miranda, Murilo Caldas e o Jonjoca.
Amigo de diretores futebolísticos cariocas, Lamartine Babo conseguiu, com o Fluminense, autorização para lançar a marchinha em um dos bailes do clube, por aqueles dias em que se aproximava o Carnaval. Chutou pra fora. Os refinados sócios do Flu, indignados com a presença na casa de 18 músicos, alguns negros, se retiraram - sem problema!
O sucesso de “O teu cabelo não nega” não deixava ninguém sentado em um salão de festas. Em Recife, quando ouviram, os irmãos João e Raul Valença se espantaram. Foram à imprensa e garantiram que aquela marcha era deles e se chamava “Mulata”. Mas quem iria dar ouvidos a eles, se Lamartine Babo, que aparecia como o autor era famoso, por dezenas de composições que todos os brasileiros haviam cantado? Os carinhas, porém, resolveram encarar. Explodiram um escândalo no Rio de Janeiro. Como o Lalá poderia fazer aquilo? Era inacreditável - nem tanto!
Sujeito sempre duro, sem dinheiro, Lamartine Babo trabalhava para a gravadora Victor, que recebia centenas de letras para apreciação, e mandava-lhe arrumar as de bom nível. Por gostar de “Mulata”, que tinha apelo totalmente popularzão pernambucano, ele fez uma outra letra, a que inicia com o que todos ainda hoje cantam – O teu cabelo não nega, mulata/Porque és mulata na cor/ Mas como a cor não pega mulata/Mulata eu quero o teu amor. No original dos irmãos nordestinos, os versos começavam assim: Nestas terras do Brasil, aqui/Não precisa mais prantá, qui dá/Feijão muito doutô e giribita/ Muita mulata bonita.
Neste cartaz a gravadora Victor já escreve "adaptação" de Lamartine Babo
Os irmãos Valença foram á Justiça e pediram có-autoria da marcha. Enquanto o barato rolava no barraco da “Dona Justa”, a “mulata” conquistava popularidade avassaladora. O Lalá que ficara sendo “o cara dela", é o mesmo que compôs todos os hinos que a torcida carioca canta hoje em estádios lotados por milhares de torcedores. Não precisava chutar “bola fora”, Lalá! Como o seu amigo Chico Alves.
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