Quando o futebol começou, no Brasil, a maioria dos praticantes eram rapazes de família ilustres, estudantes a caminho de um diploma universitário. Sem muita demora, ao cair no gosto do povão, a modalidade abriu caminho para atletas descendentes de famílias pobres e que não tiveram a chance de estudar. Completamente alienados da realidade, não sabiam de nada do que acontecia no país, além de bola rolando. Pouquíssimas foram as exceções, casos de – graduados, em Medicina – Carvalho Leite e Afonsinho (Botafogo); Marquinhos (Internacional-RS); Tostão (Cruzeiro); Márcio Guerreiro (Flamengo); Sócrates e Marcial (Corinthians); Salomão (Náutico-PE); Engenharia Civil – Samarone (Fluminense) e Marcelo Cunha (Vasco da Gama) – e Advocacia (Heleno de Freitas (Botafogo).
Vários atletas brasileiros são pintados por “lunáticos”, como o Mané
Garrincha, que teria considerado a Copa do Mundo um “torneio mixuruca”, por não
ter returno e não saber quem eram seus adversários, que os identificava por
“time da camisa da cor do América”. De sua parte, o maior de todos, o “Rei”
Pelé, este nunca escondeu a suas alienação, antes de estudar e graduar-se em
Educação Física. Quando apareceu em fotos abraçando o presidente Garrastazu
Médici (considerado o pior da Ditadura-1964/1986), justificou-se dizendo nada saber do que acontecia no país, só de futebol. Durante a década-1980,
“desaslienado”, apoiou a volta das eleições diretas para presidente da
república e desgostou os militares donos do poder.
Uma das histórias mais engraçadas sobre a alienação do futebolista
brasileiro aconteceu em 30 de abril de 1961, quando o escrete canarinho fui ao
estádio Puerto Sanjonia, em Assunção, enfrentar os paraguaios, pela Taça
Oswaldo Cruz, em homenagem a um grande cientista-sanitarista brazuca. Tempos em
que os dirigentes da então Confederação Brasileira de Desportos (atual
CBFutebol), presidida por João Havelange, não estavam nem aí para nada que não
fosse o “ôba-ôba!”
Entraram, então, as duas equipes no gramado, aplaudidas por 25 mil pagantes e recepcionadas pelo árbitro argentino Juan Brozzi. Cantou-se os dois hinos nacionais, com o capitão Bellini hasteando a bandeira brasileira (foto) e, depois, o presidente do país, Alfredo Stroessner, foi anunciado (e saudado, evidentemente) para fazer o pontapé inicial da pugna.
– Compadre! Quem é aquele sujeito (apontando) que estava atrapalhando o
início da partida? Tive vontade de passar uma rasteira nele. Me atrapalhou a
dominar a bola (que o Stroessner chutara durante o pontapé inicial ).
Nunca vai ser provado se esta história (ou lenda) aconteceu, mesmo. Espalhou-se, também, que, na volta da Seleção Brasileira ao Rio de Janeiro, quando o Nílton Santos já teria contado o “caso” pra todo mundo, um cartola, dentro do avião e cheio de uísque, chegou pro Mané Garrincha e o indagou:
– Cara! Você queria passar uma rasteira no presidente?
– O Doutor Paulo veio? Nem vi – teria respondido o Mané, para quem presidente era só o do Botafogo, o doutor Paulo Azeredo.
Quanto à Taça Oswaldo Cruz, a Seleção Brasileira venceu a paraguaia, por 2 x 0 (gols de Coutinho e Pepe, em 30.04.1961) e 3 x 2 (tentos de Coutinho (2) e Quarentinha, em 03.05.1961). Comandada pelo treinador Aymoré Moreira, o time das duas partidas contou com: Gilmar; De Sordi, Bellini, Oreco (Calvet) e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Coutinho, Quarentinha e Pepe. Na segunda partida, assistidas por 20 mil pagantes, Jair Marinho substituiu De Sordi.
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