Vasco

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quarta-feira, 2 de outubro de 2019

PAI SANTANA REZA - ESQUINA DA COLINA

Nestas foto reproduzida de www.netvasco, Santana faz o show
 Pouco depois do início de 1979, o basquetebol do Vasco da Gama colocou um caneco nas prateleiras da Colina. Para o “Pai Santana”, umbandista ligado ao Cruzeiro das Almas, no terreiro Pena Branca, em Coelho da Rocha-RJ – chegado, ainda, ao Seu Carreiro e à Cabocla Jurema, conforme dizia –, simplesmente, era a ordem natural das coisas que acontecia.
 Explicou o Pai Santana que aquele era ano de Obaluiaiê, “sujeito forte e valente, inimigo de exposição ao ridículo”, e que Inaê, amiga de Omulu, também dera uma ajudinha, indicando ao “Almirante” o rumo das águas por onde navegar.
 Babalaô em seu pedaço, o “Pai Santana” gostava de expandir para os ouvintes as glórias de sua fé. “Já amarrei o time do Santos umas três vezes. O Pelé não acertava chute ao gol”. E ia além: “ Em 1969, eu trabalhava para o Fluminense, e a Cabocla Jurema não queria que o homem marcasse o seu milésimo gol em cima da gente. A coisa estava feia pro nosso lado, pois o crioulo havia marcado um monte de gols nos dois jogos anteriores. Ela (Jurema) ordenou-me estender uma toalha felpuda sobre uma mesa do vestiário, com a sua imagem por cima, arrodeada por velas acesas. Obedeci e ela amarrou o cara”.
 Santana e a Cabocla Jurema podem ter amarrado o Pelé, mas não saiu barato. Deni Menezes, então repórter da Rádio Globo, conta que uma das velas caiu sobre a toalha, rolou incêndio no vestiário e Santana teve pagar pelos prejuízos. “Mas a Cabocla Jurema ficou intacta, sem que uma faísca tocasse nela. Mostrou a sua força”, disse ele, ao Jornal de Brasília-JBr.
O jogo em que o “Pai Santana” incendiou o vestiário do Maracanã terminou Flu 0 x 0 Santos, na tarde domingueira de 26 de outubro de 1969, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosas, o Robertão, um dos embriões do atual Brasileirão. “Havia mais de 100 mil torcedores esperando pelo milésimo (gol) do Negão. Ele jogou tão pouco, que o Lula o tirou de campo”, lembra.
Brincando com Edmundo, em foto reproduzida de
 www.bahiaempauta.com.br
 A sumula da partida cita 87.872 pagantes e o treinador que substituiu Pelé (por Luís Carlos Feijão) não foi Lula (Luís Alonso Peres), mas Antoninho.
 De acordo com a agência noticiosa “Sport Press”, da qual o “JBr” comprava o noticiário, Santana pagou Cr$ 300 mil cruzeiros (moeda da época) pelos estragos no vestiário do “Maraca”.
Já o “monte de gols” marcados por Pelé nas duas partidas anteriores foram em Santos 6 x 2 Portuguesas de Desportos (4) e em 3 x 1 Coritiba (2), totalizando seis.
 Em sua jactância pelos poderes da Cabocla Jurema, o “Pai Santana” afirmou mais: “Ela esqueceu de desamarrar o ‘Negão’ (apelido de Pelé) e, do montão de gols que o Santos marcou nas partidas seguintes, nenhum foi dele – foram 11 gols, em 4 x 1 Flamengo: 1 x 4 Corinthians; 1 x 1 São Paulo; 4 x 0 Santa Cruz-PE e 1 x 1 Bahia.         
Nesse ponto, o “Pai Santana” fez uma brincadeira: “Na véspera de Vasco x Santos (19.11.1969, no Maracanã, com 2 x 1 santista), lembrei à cabocla para desamarrar o homem. Deu no que deu. Mas, no ano seguinte, acertei as minhas contas com o Vasco, chamando a minha turma para acabar com o tabu dos 12 anos sem eles ganharem um Campeonato Carioca”  – realmente, aconteceu. Mas, segundo o capitão Bougleux, muito mais pela capacidade do treinador Tim (Elba de Pádua Lima) e pela liderança do atacante Silva (Walter Machado Silva).
  Em 1971, o massagista Eduardo Santana abandonou  o Vasco. “Troquei de casa porque a faixa de campeão deixou a rapaziada muito assanhada. Oxolufan não gostou daquilo e me mandou dar uma ajuda para o ‘Diabo’ – apelido do América-RJ, que fez melhor campanha do que o “Almirante” no Campeonato Nacional – verdade.
 O sucesso com os americanos fez o Santa Cruz tirar o “Pai Santana” das garras do “Diabo” e leva-lo para botar mais veneno na “Cobra Coral” do Recife.  Ele relata: “Rolaram uma grana legam na minha mão e correspondi em dobro. Tive vida melhor do que a de artilheiro em dia de graça. Depois, acho que foi coisa do Cruzeiro da Almas. O assanhamento da turma do Vasco passou e me chamaram pra arrumar a casa, de novo. Daquela vez, demorei mais a descarregar as energias negativas em São Januário. Levamos dois anos para ser campeões – em 1974, o Vasco tornou-se o primeiro time carioca a ganhar o título do Brasileirão.
  Indagado se uma divindade umbandista ajuda mais a uns do que a outros, o “Pai Santana” explicou: “Pesam e medem. Atendem aos que merecem mais ajuda. A umbanda une pensamentos e torna o espírito mais forte. Par cada dia, há um preparo espiritual. Nenhum jogador dribla Omulu, Obaluiaiê, Seu Sete Porteiras. Por sinal, este se liga ainda mais no Vasco. Estou tendo (em 1979) grande força deles. Nem só para o clube, mas, também, para os necessitados nos hospitais e asilos que visito”.   
Santana é o primeiro à esquerda, agachado. Segundo ele, a sua assessoria espiritual derrubou um tabu de falta de faixas 
   Se o “Pai Santana” garantia que ninguém driblava a vontade das divindades umbandistas, como responder à frase atribuída ao comentarista esportivo  João Saldanha, segundo a qual, “se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminaria sempre empatado?”
Pelo “JBr”, de 3 de fevereiro daquele 1979, ele bateu forte: “O João esqueceu-se, se foi ele mesmo quem falou aquilo (muitos dizem que é coisa do Neném Prancha, antigo técnico de time de futebol da praia carioca), que, em 1957, ele me chamou no canto e me pediu uma ajudinha para o seu Botafogo (era o treinador) ser o campeão do futebol carioca. Foi” – assinalou.
 “Pai Santana” fez mais uma revelação: “As divindades que citei ajudam ao Vasco, mas já ajudavam, também, ao Bahia, antes de eu ser vascaíno. Exemplo: em 1959, eu servia à seleção brasileira de amadores e não pude amarrar o time do Santos para o primeiro jogo da decisão da Taça Brasil (espécie de Copa do Brasil da época). Como eles ganharam, Omulu e Oxalá mandaram que eu desse um jeito de voltar para a segunda partida. Armei tudo, bem armadinho, com os meus caboclos, e o Bahia reverteu a desvantagem” – na finalíssima, Bahia 3 x 1, campeão no Maracanã, mas sem Pelé na equipe santista.
Acreditar no que o “Pai Santana” falou é por sua conta. Mas que ele era um grande artista....”

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