Era setembro de 1933, quando o governador de Minas Gerais, Olegário Maciel, “subiu ao andar de cima”, deixando, “aqui em baixo” vários indicados ao seu “status de vivo”, pois o vice-governador, Pedro Marques, renunciara para “prefeitar” Juiz de Fora. Era a hora de o presidente/ditador Getúlio Vargas escolher um novo chefe para Minas.
Gaúcho malandro, para não ficar mal com os caciques do eleitorado mineiro, o homem inaugurou a "zebra na política brazuca”, nomeando o pouco falado deputado federal Benedito Valadares, que só tinha na manga do colete a carta informativa de que já fora prefeito da atrasadinha Pará de Minas, a sua terra, lá onde "o Judas havia perdido opente e o espelhinho”, como garantiam moradores de cidades próximas. Portanto, nada que justificasse recomendações para o pouco glorioso Bené (para os chegados) tornar-se um “eleito” do grande ditador.
Pois bom! Minas havia passado 97 dias sem um “comandante oficial” quando, no 12 de dezembro daquele 1933, seus políticos e o povo começaram a indagar: “Será o Benedito?” Pois era! O tal tornou-se interventor do Governo Provisório das Minas Gerais, para Getúlio não perder o apoio de políticos importantes como, por exemplo, Osvaldo Aranha e Afrânio de Melo Franco, que não aceitavam a oficialização do interino Secretário do Interior, Gustavo Capanema na governadoria das alterosas. Passada a crise, chega 1935, com Benedito Valadares eleito, pela Assembleia Legislativa estadual, governador das Minas Gerais. Passa mais um “tiquim de tempo”, como falava o caboclinho mineiro, e vem o Estado Novo, do ditador Vargas, que colocou mais uma “zebra política” no laço. Em 1937, ao nomear interventores em todos os Estados, só não mexeu com o sortudo do Bené que, malandramente, mostrava fidelidade canina ao “home”, como falava o povão.
Benedito Valadares mandou em Minas Gerais durante 12 viradas de calendário. Nenhum mineiro ficou tanto tempo no poder quanto ele – ainda bem, para os brasilienses, que nem existiam, ainda. Como? Foi ele quem “inventou” o político Juscelino Kubitscheck, tirando-o da Medicina para ser o chefe da Casa Civil do seu governo, em 1940. Na verdade, já eram amigos há oito temporadas, quando o futuro chamado por JK atou como médico durante a Revolução Constitucionalista de 1932 e andou receitando umas Cibalenas, Melhoral e Aspirinas para seus chegados - e uns lances esquisitos para o terrível Bené curar sobras de incursões a camas de vagabundas desassestidas. .
Bendito Valadares nomeou o JK prefeito de BHGrande lance! O JK atuou na vida urbana de BH como um furacão, abrindo caminho para sentar-se na cadeira do protetor e, depois, da Presidência da República, para construir Brasília. Logo, indiretamente, se não fosse o Bené, você não estaria aqui, agora, lendo o Jornal de Brasília, pois desde 1823, quando José Bonifácio de Andrada e Silva propôs a criação de uma nova capital brasileira no interior do país, nenhum mandatário político foi na sua onda. Se bem que sobra nessa história um pouco de glória para o servidor público goiano Toniquinho, que pegou o JK no contrapé, indagando, durante o seu primeiro comício presidencial, em Jataí-GO, se ele cumpriria a constituição e construiria uma nova capital para o país – não dava para o JK começar campanha com negativas. Tremeu nas bases e teve que prometer e cumprir.
Benedito Valadares Ribeiro, que viveu entre 4 de dezembro de 1892 a 2 de março de 1973, é hoje um homem esquecido. Enquanto Brasília decide a nossa vida, ele só é lembrado pelo nome que emprestou a uma cidade do interior mineiro, Governador Valadares, desde 17 de dezembro de 1938. Foi fundador e primeiro presidente do PSD-Partido Social Democcático, que levou o JK à presidência da República.
Quando já estava no ostracismo, escreveu dois livros – Esperidião, em 1951, sobre a vida política do interior mineiro, e A Lua Caiu, em 1953, abordando antigos costumes das sociedades paulista e carioca. E não foi que os seus adversários político negaram-lhe a autoria? Disseram que ele não tinha capacidade para escrever um livro, a menos que lhe fosse ditado pelo espírito de Getúlio Vargas. Nada difícil, pois há um livro – está na capa – “ditado pelo espírito de Eça de Queirós” sobre a vida de Getúlio Vargas no além. Mais? Quando o Jornal de Brasília me escalou para cobrir Congresso Nacional, em 1977, o primeiro repórter com quem fiz amizade e me ensinou todos os atalhos da Casa chamava-se Benedito Valadares. Cobria a política nossa de cada dia para o jornal Estado de Minas – Pois é! Será o Benedito?