Até a década-1970, havia uma lei mandando
delegações culturais e desportivas brasileiras que viajassem ao exterior
levarem juntas um jornalista. Por conta daquilo, o Ministério da Educação
convidou-me a acompanhar uma estudantada
que iria à Europa. Para aproveitar a passagem de ida e volta que o Governo me
forneceria, negociei férias vencidas, com o Edgar Tavares, o Editor Executivo
do Jornal de Brasília, começando assim
que o meu serviço terminasse no “Velho Mundo”. E lá fui eu. Era 6 de agosto de
1978, quando o Papa Paulo VI - Giovanni
Battista Enrico Antonio Maria Montini – resolveu morrer - e me sacanear. Tive
de parar com os muitos passeios que fazia, junto com a moçada estudantil, tendo
cinco horas adiante no meu relógio ponteirizado no horário de Brasília.
REPRODUÇÃO DE JORNAL DE WWW.BRASILIA.COM.BR
Com o Papa “partindo desta para uma melhor”, fui para
uma outra luta, pois sabia que o Jornal
de Brasília não me perdoaria se eu, estando na “boca do fato do ato”, não
enterrasse a Sua Santidade. Então, Papa despachado, o novo barato era esperar
pela fumaça eleitoral do sucessor, ouvir a tadicional frase “habemus papam”. Mas, como o fumacê celestial demorava a poluir o Céu, nós
jornalistas terminávamos as noites enchendo a cara, evidentemente, longe do
Vaticano. Até que elegeram Albino Luciani, filho de uma família pobretona de
Forno di Canale, distante mais de 500 quilômetros de sua futura residência. E
fomos decifrar o que seria onovo papado.
Após o meu último telex enviado (meio mais
moderno de comunicação jornalística da época) acertei com o chefe Edgar Tavares
o ressarcimento das despesas que eu tivera por conta dos assucedidos na Santa
Madre Igreja Católica Apostólica Romana. Entramos em acordo e a minha próxima
parada foi a região do Rio Tauber, na então Alemanha Ocidental, onde residia o
amigo Manfred Locken, que trabalhara em Brasília e fora consultor do programa
de Educação Físia do MEC. Depois de vários passeio por cidadezinhas como Bad
Mergentheim, Ingersheim e outras das quais nem me lembro mais dos nomes, fui
para Stuttgart, cidade grande e capital do estado de Baden-Württemberg. Foi
quando anunciou-se que Brigitte Mohnhaupt,
recentemente saída da prisão,
não desistiria de tentar o resgate de Andreas Baader, um
dos fundadores do seu grupo terrorista (juntamente com Ulrike Meinhof), que
cumpria pena de prisão perpétua, em Stammheim. Também, a ela, se atribuíam
participação nos recentes execuções de Jürgen Ponto,
presidente do Dresdner Bank; de Hanns-Martin Schleyer,
presidente da Federação dos Empregadores da Alemanha; e de Siegfried
Buback, procurador-geral da República alemã.
REPRODUÇÃO DE CARTAZ CINEMATOGRÁFICO
Informado de que o chanceler Willy Brandt
concederia entrevista coletiva à imprensa, me mandei pra cobri-la, muito mais
interessado em fazer cobertura no idioma alemão que eu estudava, há cinco
temporadas, no Instituto Brasil-Alemanha, de Brasília, do que propriamente no
“fato do ato”. Depois, rodei mais e, por último, fui para Portugal, querendo
conhecer a vida artística do Casino de Estoril. Encontrei vários músicos brasileiros
na casa e ofereci matéria ao JBr, que não interessou-se pelo tema. Em todo o
caso, caso mudassem de ideia, precisando da tradicional “matéria fria” para final de semana, deixei o telefone do Hotel
Estoril Sol, onde hospedei-me, pertinho do Casino.
Quando o Edgar Tavares me ligou, após uma
noite em que eu passaraem divertimentos do Casino, ele ordenou-me:
-Volte para o Vaticano,
imediatamente! O Papa morreu.
- De novo? – questionei, espantado.
- Não foi o Papa que você
enterrou. Foi o sucessor – explicou-me.
E lá fui eu, outra vez, enterrar um novo Papa.
Parecia que eu já tinha visto aquele filme
antes. Enquanto o novo sucessosr de São Pedro não era anunciado, nos
jornalistas bebíamos vinho à noite, após a assessoria de imprensa vaticana
informar que nada seria informado, ainda. Enfim, um dia, a fumaça branca subiu
aos éus. Pouco depois, nos foi fornecido tudo sobre Karol Józef Wojtyła, o eleito
e que, entre outros detalhes, havia sido ator de teatro e goleiro de futebol,
em sua juventude. Pronto! Mandei a minha
matéria para i JBr com a manchete mais escrota que pude sugerir:
- Zebra! Goleiro polonês é o novo Papa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário