Vasco

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sexta-feira, 23 de setembro de 2022

O VENENO DO ESCORPIÃO - O ÚLTIMO PLAYBOY (1) PISOTEIA VELHO MUNDO

 Até a década-1970, havia uma lei mandando delegações culturais e desportivas brasileiras que viajassem ao exterior levarem juntas um jornalista. Por conta daquilo, o Ministério da Educação convidou-me a  acompanhar uma estudantada que iria à Europa. Para aproveitar a passagem de ida e volta que o Governo me forneceria, negociei férias vencidas, com o Edgar Tavares, o Editor Executivo do Jornal de Brasília, começando assim que o meu serviço terminasse no “Velho Mundo”. E lá fui eu. Era 6 de agosto de 1978,  quando o Papa Paulo VI -  Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini – resolveu morrer - e me sacanear. Tive de parar com os muitos passeios que fazia, junto com a moçada estudantil, tendo cinco horas adiante no meu relógio ponteirizado no horário de Brasília.

       REPRODUÇÃO DE JORNAL DE WWW.BRASILIA.COM.BR 

Com o Papa “partindo desta para uma melhor”, fui para uma outra luta, pois sabia que o Jornal de Brasília não me perdoaria se eu, estando na “boca do fato do ato”, não enterrasse a Sua Santidade. Então, Papa despachado, o novo barato era esperar pela fumaça eleitoral do sucessor, ouvir a tadicional frase “habemus papam”. Mas, como o fumacê celestial demorava a poluir o Céu, nós jornalistas terminávamos as noites enchendo a cara, evidentemente, longe do Vaticano. Até que elegeram Albino Luciani, filho de uma família pobretona de Forno di Canale, distante mais de 500 quilômetros de sua futura residência. E fomos decifrar o que seria onovo papado.

 Após o meu último telex enviado (meio mais moderno de comunicação jornalística da época) acertei com o chefe Edgar Tavares o ressarcimento das despesas que eu tivera por conta dos assucedidos na Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana. Entramos em acordo e a minha próxima parada foi a região do Rio Tauber, na então Alemanha Ocidental, onde residia o amigo Manfred Locken, que trabalhara em Brasília e fora consultor do programa de Educação Físia do MEC. Depois de vários passeio por cidadezinhas como Bad Mergentheim, Ingersheim e outras das quais nem me lembro mais dos nomes, fui para Stuttgart, cidade grande e capital do estado de Baden-Württemberg. Foi quando anunciou-se que Brigitte Mohnhaupt, recentemente saída da  prisão, não desistiria de tentar o resgate de Andreas Baader, um dos fundadores do seu grupo terrorista (juntamente com Ulrike Meinhof), que cumpria pena de prisão perpétua, em Stammheim. Também, a ela, se atribuíam participação nos recentes execuções de Jürgen Ponto, presidente do Dresdner Bank; de Hanns-Martin Schleyer, presidente da Federação dos Empregadores da Alemanha; e de Siegfried Buback, procurador-geral da República alemã.

                     REPRODUÇÃO DE CARTAZ CINEMATOGRÁFICO

 Informado de que o chanceler Willy Brandt concederia entrevista coletiva à imprensa, me mandei pra cobri-la, muito mais interessado em fazer cobertura no idioma alemão que eu estudava, há cinco temporadas, no Instituto Brasil-Alemanha, de Brasília, do que propriamente no “fato do ato”. Depois, rodei mais e, por último, fui para Portugal, querendo conhecer a vida artística do Casino de Estoril. Encontrei vários músicos brasileiros na casa e ofereci matéria ao JBr, que não interessou-se pelo tema. Em todo o caso, caso mudassem de ideia, precisando da tradicional “matéria fria” para final de semana, deixei o telefone do Hotel Estoril Sol, onde hospedei-me, pertinho do Casino.

 Quando o Edgar Tavares me ligou, após uma noite em que eu passaraem divertimentos do Casino, ele ordenou-me:

-Volte para o Vaticano, imediatamente! O Papa morreu.

- De novo? – questionei, espantado.

- Não foi o Papa que você enterrou. Foi o sucessor – explicou-me.  E lá fui eu, outra vez, enterrar um novo Papa.

 Parecia que eu já tinha visto aquele filme antes. Enquanto o novo sucessosr de São Pedro não era anunciado, nos jornalistas bebíamos vinho à noite, após a assessoria de imprensa vaticana informar que nada seria informado, ainda. Enfim, um dia, a fumaça branca subiu aos éus. Pouco depois, nos foi fornecido tudo sobre Karol Józef Wojtyła, o eleito e que, entre outros detalhes, havia sido ator de teatro e goleiro de futebol, em sua juventude. Pronto!  Mandei a minha matéria para i JBr com a manchete mais escrota que pude sugerir:

 - Zebra! Goleiro polonês é o novo Papa.     


https://jornaldebrasilia.com.br/noticias/politica-e-poder/karol-wojtyla-quebra-tradicao-secular-no-vaticano/



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