Vasco

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sábado, 3 de setembro de 2022

O VENENO DO ESCORPIÃO - ÚLTIMAS DANÇAS DO IMPÉRIO E DA REPÚBLICA

                            1 -  O DIA EM QUE O IMPÉRIO DANÇOU

    Rolou a festa,  mas a República estava ali na esquina ensaiando um novo ritmo 

                                                       

São 133 viradas de calendário. Em 9 de novembro de 1889, o Império de Dom Pedro II começava a dançar. Literalmente! Com música no pé e, politicamente, golpeado pelos republicanos. A hora, foi de ‘invencionice’ da parte do Visconde de Ouro Preto, o último presidente do Conselho de Ministros imperiais. Para disfarçar e comemorar as bodas de prata do casamento da princesa Isabel com o Conde D´Eu, ele inventou uma homenagem a oficiais do navio chileno Almirante Cochrane, que estava pelo Rio de  Janeiro, há duas semanas.

 Sem pena do bolso do povo, Ouro Preto torrou  altas granas (250 contos de réis) do cofre do Ministério da Viação e Obras Públicas,  ou 10% do orçamento previsto par a província do Rio de Janeiro-1890.

A corte imperial, dificilmente, promovia bailes. Mas, daquela vez, a Ilha Fiscal, o local da festa, foi ornamentadas com muito requinte e serviu comida e bebida para 4. 500 convidados, que traçaram: 800 quilos de camarão; 300 frangos;500 perus; 64 faisões;1 200 latas de aspargos; 20.000 sanduiches;14.000 sorvetes; 2.900 pratos de doces; 10 000 litros de cerveja e 304 caixas de vinhos, champanhes e outras ‘molhadas de pescoço por dentro’, de acordo com informações registradas no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro.

O assanhamento dos bacanas para irem ao tal baile começou no quatro de novembro, quando soube-se que cinco mil convites haviam sido impressos. Perto de rolar a festa, a família imperial pintou para o embarque, aproximando-se das 10 da noite, com Dom Pedro II “fantasiado de Almirante”, sem nunca ter entrado em um navio. Chegados ao prédio do baile, na Ilha Fiscal, foram levados para um salão onde os esperavam integrantes do corpo diplomático estrangeiro, oficiais e os bacanas da sociedade carioca. A imperatriz Teresa Cristina usava vestido de renda de chantilly preta, guarnecido por vidrilhos. Por toalete, roupa de moiré preta listrada, tendo na frente um corpinho alto bordado a ouro. Nos cabelos, diadema de brilhantes.

A orquestra - duas bandas militares – até  emplacou legal nos 'oritimbós' de quem se espalhou por seis salões, mas Dom Pedro II pouco sacudiu o esqueleto naquela tertúlia, passando a maior parte do tempo ‘bundado’ em uma cadeira, pois a sua carcaça, já enferrujada, não lhe permitia mais furdunçar por tantos 'forrobodós'. Então, lá por uma da madruga, com o saco cheio de ouvir tantas valsas, polcas, mazurcas e quadrilhas, pediu para escafeder-se do recinto. Diferente da princesa Isabel que, embora fosse grande carola (rezava mais do que Deus), foi uma das grandes pés-de-valsa da “naite”.

 O baile, na verdade, terminou sendo um tiro no saco do puxa-saco Visconde de Ouro Preto, isto é, Afonso Celso de Assis Figueiredo. Enquanto ele desmanchava-se em sorrisos e tapinhas nas costas da família imperial, para segurar o seu emprego, evidentemente, no mesmo instante em que rolava a festa, no Clube Militar, republicanos reuniam-se liderados pelo tenente-coronel Benjamin Constant, conspirando pra mandar os donos do poder imperial “Pro país Que Pudesse”.

Tudo aquilo aconteceu em um sábado. Seis dias depois, durante a sexta-feira 15 de novembro, os "traíras" marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto comandaram a maior sacanagem imperial destas plagas, convidando Dom Pedro II a se retirar deste douto pedaço ‘brazuca’, dentro de 24 horas. E nem mais um minutinho - arrombaram a festa!      

 

             2 - O ÚLTIMO BAILE DA REPÚBLICA NO RIO DE JANEIRO

Longe da Ilha Fiscal, no Palácio Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores.          

                                                    

 A revista semanal carioca Manchete, do empresário Adolpho Bloch, jogava confete, bem pra cima de fatos que envolvessem os presidentes das república, principalmente posses. Adotava estilo de coluna social dos jornais diários. Um dos bons exemplos de tal postura foi a cobertura do último baile promovido pelo Governo no Rio de Janeiro, após  Cidade Maravilhosa passar o posto de capital brasileira para Brasília.

No dizer da semanária, o baile “reviveu o esplendor dos grandes dias”, tendo sido o primeiro oferecido pelo presidente da república (João Goulart), desde a inauguração de Brasília – festa para o corpo diplomático e a elite das colunas sociais brasileiras.

Disse mais Manchete: “Essa festa, concorridíssima, foi um brilhante fecho das atividades sociais de 1963 no Rio”. Nesse ponto, o repórter escorregou no texto, pois não precisava dizer que fora concorridíssima. Ou não seria?  Alguma festa oferecida pelo presidente da república deixaria de interessar aos socialites?

E o tome da coluna social prosseguia com o relato do menu: “Aos convidados (não precisava dizer que  fora servido aos convidados, pois quem não foi convidado não degustou), além de caviar, champanhe e uísque em profusão, foi oferecido um grande espetáculo de balé, em que, sobre amplo tablado, ao ar livre, exibiu-se sob aplausos, o Corpo de Baile do (Teatro) Municipal (mais uma bola fora do redator, pois seria indelicado não aplaudir os bailarinos)

 O “colunista” destacou a elegância da “Senhora” Maria Teresa Fontenelle Goulart, “em seu vestido de cetim branco, com gaze sobreposta, bordado e prata e lágrimas de cristal”. Acrescentou ele que, durante o baile (não poderia ser depois), que se prolongou até as 4 da madrugada, a primeira dama dançou com alguns dos ministros de Estado, com o embaixador da Nicarágua e com o Sr. Ermelindo Matarazzo.

De sua parte, em relação ao chefe do governo, informou manchete que este, ao receber cumprimentos, retribuía sempre com amável votos de boas-festas” – confetaço.    

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