ADJETIVAÇÃO É A PALAVFA MAIS FALADA DO BRASIL DA HORA
Após o golpe militar de 1964, mais precisamente pelo final da década, a palavra da moda ficou sendo “infraestrutura”. Era raro o dia em que não se ouvia no programa estatal radiofônico A Voz do Brasil, e nas demais falanças que os militares colocavam em nossos ouvidos, aquela adjetivação zunindo.
Veio a década-1970, e entraram na moda as palavras “trilegal”
- surgida no Rio Grande do Sul, após a conquista do tri mundial de futebol,
pela Seleção Brasileira, durante a Copa do Mundo promovida pelo México – e “alienado”.
A qualquer motivo, alguém denegria alguém, intelectualmente, se não fosse de
esquerda.
A década-1980 trouxe para a onda o termo “tudo bem”, lançado
pela juventude. Tudo estava tão “tudo bem” que o modismo linguístico levou uma
revista paulista para jovens a criar o
personagem “Mister Tudo Bem”. Na verdade, não estava tudo bem, pois o
país vivia momentos duríssimos da ditadura, os chamados “tempos de chumbo”, com
denúncias de tortura e desaparecimentos de inimigos políticos.
O próximo termo da moda foi “véi”, lançado pela juventude
brasiliense. Rolou muito, também, a introdução do pronome “tu”, muito conjugado na Brasília das décadas-60/70 por
piauienses, maranhenses e cearenses. Espantosamente, gaúchos, também, o
falavam, mas sem tanta constância.
O século mudou de numeração e a primeira década-2.000 trouxe para
o linguajar da hora o termo “show de bola”, criação de marqueteiros
televisivos, quando a bola não ralava nenhum show pelos nossos gramados e com o
escrete nacional há 22 Copas do Mundo sem passar a mão no caneco.
Próxima palavra usadíssima, após 2010? “Comunidade”,
substituindo favela. Era preciso aumentar o grau de valor social do ambiente. .
Desembarcamos em 2022 e o que mais ouvimos? O adjetivo
“infelizmente”. Chega a encher o saco. Em novelas da TV, programas esportivos,
noticiários e conversas pelas ruas o
desnecessário termo toma conta do espaço. Desnecessário porque a adjetivação é
uma antecipação da oração seguinte. Por exemplo: o motorista perdeu o controle
do caro, bateu no poste e ficou com a frente do seu veículo destruída”. Por aí,
o âncora do noticiário comenta: “Infelizmente!” Alguém diria “felizmente” pelo
prejuízo que a batida deixara?
De onde vem tanta
frequência no “infelizmente” da moda? Esta palavra muito pensada, falada e ouvida só pode ter duas vertentes: esses
tempos de pandemia provocada pela Covid-19, a partir e 2020, a pior época, e do
comportamento do Governo do presidente Jair Bolsonaro. Este classificou a Covid
por “gripezinha”; fez o que pode para não importar a vacina; abriu campo para
inescrupulosos tentarem enriquecer com a pandemia, tudo documentado pela
Polícia Federal; indicou medicamentos que não serviam para nada; levou o terror
ao Sistema Único de Saúde-SUS e por isso e outros itens mais contribuiu para
mais de 700 mil brasileiros chegarem ao final de suas vidas.
Na pior fase do negacionismo, o Brasil teve a pior atuação mundial no
combate à pandemia; perdeu poder de negociação global; teve as suas fronteiras
internacionais fechadas aos brasileiro e viu o mundo temoroso das variantes que
por aqui surgiam, dentro do descaso sanitário do governo.
Se isso foi pouco,
tivemos Bolsonaro castigando, financeiramente, as universidades que ele as
rotulou “ninho de comunistas”, e atravancamento da cultura. Mais: denúncias de
corrupção por conta de emendas secretas; altíssimas taxas de desempregos (14
milhões); salário mínimo cada vez mais mínimo; aumento da miséria e da fome;
volta da inflação de dois dígitos e
completo descaso pela Amazônia, que encarou o seu pior índice de desmatamento, nas
últimas 14 temporadas, apresentando 29% a mais de derrubadas de florestas só em
20221.
Pois
é! O passaporte brazuca para o
futuro, entre poucos, leva 76,3% de pessoas endividadas; precatórias devidos
podendo atingir R$ 900 bilhões e passivo de R$ 140 bilhões. Só pode ser esta a
razão de tanto se falar “infelizmente”, no momento - infelizmente!
Publicado, também, noo JBr de 08.08.2022 (segunda-feira)
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