O SPRITO DA
COLINA
Início às
19h27 de 19.03.2019 (terça-feira)
SEM REVISÃO
Ele era mais conhecido por Seu Açaite,
nome pelo qual era invocado e baixava no Terreiro Kisci-Shára, à Rua Jansen de
Melo, pertinho do estádio do Vasco da Gama. Talvez, ela proximidade da casa
vascaína e de tanto ouvir os gritos da torcida, passou a, também, torcer para a
“Turmar da Colina”, a quem, sempre, dava uma ajudinha.
Seu Açaite, as vezes, quando estava por
aqui, até comparecia às arquibancadas de São Januário, ajudando a rapaziada a
chingar pernas-de-pau como o português Lito, o ponta-direita William Barbio,
que não sabia chutar uma bola ao gol, e os goleiros Caetano, Alessandro e Tadik.
A galera o apelidou por “BomMau”, porque bom e mau eram palavras de sempre,
quando o time atacava ou defendia. Não falava nenhuma outra mais.
Um dia, BomMau ficou retado da vida,
porque o Vasco andou pisando demasiadamente na bola. E teve uma ideia maluca:
sumir com os perns-de-pau deste plano e trazer de volta grandes heróis do passado
e que já haviam passado desta para uma melhor, como ouvia muita gente falar por
aqui.
Fez uma lista e, entre os que pensou em
sumir com eles, estavam os cinco já citados acima, mas ponderou que todos eles
ainda eram jovens e ele não deveria misturar ódio desportivo com outras coisas.
E os livrou do seu plano sádico.
BomMau apressou-se, então, em fazer
acontecer o seu outro pensamento. Mas, de repente, mudou de planos. Em vez de
trazer gente para resolver o Vasco na bola, decidiu buscar quem havia pisado
nela por aqui. Pra consertar a parada e ficar bem com a sua história neste plano. Voltou a Quiscixára,
viajou como Seu Açaite e, sem perder tempo, contatou Ademir Marques de Menezes,
o terceiro maior goleador da história vascaína, com 301 tentos, em 429 refregas.
- Seguinte, Queixada: até hoje você é
criticado, sempre que um livro sobre histórias do Vasco é lançado, pelo pênalti
perdido, defendido por Castilho, no dia 20 de setembro de 1952, quando o
“Almirante” deixou de ser campeão carioca, por causa daquela sua perna-de-pau. Vamos
arrumar isso?
- Mas como, Seu Açaite? Passou, passou,
não tem mais como mudar o que aconteceu.
- Tem, sim!
Dou um jeito nisso. Sou um espírito muito invocado pelo Dono do Tempo e
ele tem vários favores em minha conta. Bote
vários nisso. Então, vamos nessa?
- Se é assim, não há porque não ir. Já
fui!
Ademir reencarnou-se no dia 21 de
setembro de 1952, quando o Campeonato
Carioca chegava à quinta rodada do primeiro turno. Antes de os dois irem paras
o jogo, Seu Açaite o indagou:
- Quantas cobranças de penalidade máxima
você já perdeu?
- Nunca contei, mas todo jogador perde
pênlti.
- Meu amigo, não é cobrança de pênalti,
mas de tiro livre direto.
- Conhecer alguém que fala assim? Mas
tudo bem!
- Quando eu era moleque, antes de ser
juvenil do Sport Recife, num jogo entre a minha rua e uma vizinha, perdemos
quatro, todos nosegundo tempo. Um bateu na trave e os outros foram pra fora.
- Você jogava, então, por um time de manés,ois
a Matemática calcula, em 0,16%, a probabilidade de quatro pênaltis serem
perdidos em um mesmo jogo.
- Pois perdemos.
-Veja se, então, capricha agora. A área
de uma trave tem 17,86 metros quadrados. Tomando por ponto de partida a marca fatal,
fazer a bola passar pelo goleiro e aninhar no fundo da rede equivale a acertar,
com uma moeda de 10 centavos, duas folhas de papel-ofício, colocadas uma ao
lado da outra, a um metro de distância. Se você chuta-la para o canto superior
direito, ou o esquerdo, a um velocidade de 80 quilômetros horários, será,
praticamente, zero, a probabilidade de não mandar o Castilho busca-la no filó.
- Só que eu não tenho velocímetro pra dar
quilometragem à bola, né meu amigo?
- Isso você calcula pela força que vai
botar no chulé, seu mané. E vamos deixar de muita conversa e irmos ao que interesa.
Foi pra isso que baixamos no Quisce-Xhára, não foi?
Ademir vinha com a média de um gol por
partida naquele Estadual carioca, só não tendo executado goleiros em Vasco 2 x
1 Canto do Rio. Marcara nos 5 x 2 Madureira
(1), nos 5 x 2 Bonsucesso (2) e nos 6 x
2 Bangu (1).
E rola a bola. O clássico estava duríssimo,
quando o árbitro Mário Vianna viu o Fluminense cometendo um pênalti. O
treinador Gentil Cardoso mandou que Ademir batesse, já que tinha a fama de fatura
certa no caderninho. Ele pegou a pelotda, ajeitou-a na marca fatal, olhou para
trás do gol defendido por Castillho e viu Seu Açaite piscando-lhe o olho
direito. Do túnel, escutou Gentil Cardoso gritando:
- Sou mais você, conterrâneo!
Ademir olhou
por todo o anel das arquibandadas do Maracanã e viu milhares de pagantes
esperando pelo seu chute. Autorizado, correu para a ‘maricota’ e mandou uma
sapatada tão venenossa, que Castilho nem teve tempo de ver o pouso da redonda
no barbante. Em seguida, saiu em disparada, comemorando, mas não viu pelo
gramado Moacir Barbosa, Augusto da Costa, Haroldo de Castro, Ely do Amparo,
Jorge Sacramento, Edmur Ribeiro, Ipojucan e nem Chico Aramburo. Só via Gentil
Cardoso comemorando o tento.
Quando Mário Vianna deu a pugna por
encerrada, Ademir colocou as mãos na cintura, olhou para seu lado direito e viu
Seu Açaite, de uma das laterais do gramado, batendo palmas.
- Muito bem!
Muito bem, cabra da peste! Não lhe falei que eu lhe ajudava a dar um jeito
nisso? Você está redimido. Em todos os jornais de amanhã sairá a foto do seu gol.
- Mas isso é verdade, mesmo? Ainda não
estou acreditando.
- Ora, Queixada! Não lhe falei que sou
amigo do Donodo Tempo? Não bota fé na minha patota? Pois compraremos o Jornal
dos Sports, amanhã, pra você crer.
- Beleza!
- Veja que você está falando até na
linguagem desta época. Não acha isso, também, chocante?
- Acho!
- Então, missão cumpridas, história
mudade, vamos nessa – e foram, levando o jornal que tinha no placar da rodada
Vasco 1 x 1 Fluminense – os vascaínos voltariam a empatar com os tricolores, 2
x 2, em 11 de janeiro já de 1953, com a disputa invadindo a temporada seguinte,
e ficaram no 1 x 1, também, com o Botafogo. No mais, bateram todo mundo e
carregaram o caneco pra São Januário.
2 -
Há tempos que o alagono Ipojucan Lins de Araújo, que tivera vida terrena, entre 3 de junho de 1926 a 19 de junho de 1978
- campeão carioca-1945, 1947, 1949, 1950 e 1952,
além do Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões-1948 e dos torneios quadrangular
Internacional do Rio de Janeiro e Internacional de Santiago do Chile,
todos em 1953, não se encontrava com Seu Açaite. Vascaíno, de 1938 a 1954, com
413 jogos disputados e 225 gols marcados, ele ficou chocado com a proposta recebida
do espírito amigo.
- Indecorosa, meu cháplia. Ah! Aquele
parrappá foi há mais de meio-século. Eu nem me lembrava mais disso. Passou,
passou. Não tem sentido mexer com isso.
- O quê? Um homão do seu tamanho, com
1m86cm de altura, levar tapa na cara, de um
sujeito barrigudo, como o Flávio Costa, e deixar pra lá, pra eternidade!
Nem pensar! Nas Alagoas, “A Terra
dos Marechais”, só tem cabra macho. Ou você vai envergonhar o Deodoro da
Fonseca e o Floriano Peixoto?
- Meu querido Seu Açaite. Naquela noite,
eu estava fora de mim, surtado. Não sei o que aconteceu. Nem mesmo lembro se
levei uns trompaços do Flávio Costa. Li isso nos jornais, mas não me lembro de
nada, mesmo. Aliás, saiu, também, no jornal, que o Heleno de Freitas levara uns tabefes do homem, antes de mim.
- Se você
quiser, pra se animar, eu chamo o Heleno, também, pra esse acerto de contas.
Seu Açaite convenceu os dois a se
vingarem de Flávio Costa e, mais uma vez, o seu amigo Dono do Tempo quebrou-lhe
o galho. Eles baxaram no Terreiro Quiscexára e depois de materializados cruzaram
com o treinador chegando em São Januário, para dirigir um treino, em 1948.
O cara nem teve tempo tempo de se
proteger, ou de correr. Levou porrada por todos os lados. Serpreendentmete, de
repente, Flávio Costa parou o seu carro e desceu diante do portãde entrada da
sede da Rua General Almério de Moura. Vinha chegando. Entrou rápido no estádio,
para não se atrasar para o treino. Heleno e Ipojucan ficaram extáticos, Hviam
batido no cara errado, um “mané” confundido com o treinador.
- Mas vocês são uns incompetentes. Vieram
bater num e baterm noutro! Queimei cartucho com o Dono do Tempo pra vocês pisarem
na bola! - Seu Açaite madava a bronca em Heleno de Freitas e em Ipojucan,
quando, de repente, ouviu-se a sirene da polícia. O agredido fora atrás dos
“home”, dar queixas.
- Vamos
nessa, rapaziada – gritou Seu Açaite, se mandando a toda velocidade, com os
dois acompanhantes. Durante a subida do Terreiro Quiscexára, ele foi claro:
- Chance, lhes dei. Não sei se lhes arrumarei
uma outra, seus incompetildos.
- Incompetildos? – Protestou Heleno.
- Este é um termo criado pelo desenhista
Danilo Russo Amorim, amigo do Ziraldo, para os pisões, como vocês.
- Não fique bravo, Seu Açaite. Façamos
de conta que foi um pênalti chutado pra fora. O Queixada não chutou um, que o Castilho
defendeu?
- Enganam-se
vocês. Já arrumei esse trampo e o Queixade encaçapou a maricota.
- Parabéns pra ele.
- Em todo o caso, vou pensar se devo pensar
em dar-lhes uma segunda chance, seus pisões. Seu Açaite pensou, pensou e intuiu
que Flávio Costa não deveria levar porrada, por ter sido um vascaíno que
ajudara o “Almirnate” a ser campeão de clubes cmpeões sul-americano-1948; dos torneios Municipal do
Rio de Janeiro-1947; Início-1948; Octogonal Rivadávia Corrêda Meyer e
Internacional do Rio deJaneiro-1953, e dos Campeonatos Carioca-1947, 1949, 1950
e 1952. Terminou esquecendo-se daquilo, sobretudo porque no outro plano Flávio Costa, Heleno de
Freitas e Ipojucan eram grandes amigos.
PARADINHA ÀS
20H45 DE 19.03.19
RETOMADA ÀS
08H42 DE 20.02.19
3 – Por esta, seguramente, Sabará não
esperava: a visita de Seu Açaite. E com uma proposta sensacional.
- Quer dançar o Carnaval na Avenida
Sapucaí? O desfile das escolas de samba estão sendo o maior espetáculo da
terra. Você não teve isso, em seu tempo, mas tem que conhecer. O meu amigo
Sabará, maior carnavalesco do mundo, não pode desconhecer este barato.
- Pelo que você fala...!
- Então, prepare-se.
- Mas como
posso voltar ao Carnaval do Rio de Janeiro, se já sou alma do outro mundo?
- Deixe comigo. A materialização é por minha conta. Tenhos os
meus trampos. Vou armar pra você desfilar na escola de samba que prestou
homenagem ao seu amigo Nílton Santos, que dizia só ter respeitado um
ponta-direita, você. Olhe que o homem foi eleito pela FIFA o melhor
lateral-esquerdo da história do futebol.
- Mas como isso é possível?
- Já falei? Deixe comigo!
Sabará, vivente entre 18 de junho de
1931 e 8 de outubro de 1997, paulista, registrado e batizado por Onophre
Anacleto de Souza, chegou à Sapucaí e deslumbrou-se com o que viu. Ficou
extasiado, extático. Foi preciso Seu Açaite mandar-lhe um beliscão, para
acorda-lo. Nunca havia visto mulherões tão generosas em suas indumentárias
carnavalescas.
Vascaíno, de 1952 a 1964, Sabrá não falva
a palavra espírito. Se a sua língua não dava, ou era pura sacanagem, ele só pronunciava
“sprito”. E tome-lhe colegas gritando “burraldo” pra ele, que nemn ligava.
Fazia era entrarmuito mais na “saca”. As
vezes, quando um companheiro sinalisava que o iria lançar, pra disparar no ataque e centrar bola para
Ademir, gritava:
- Lá vai, sprito!
Campeão carioca-1945, 1947, 1949, 1950 e 1952;
do Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões-1948, e dos
torneios octogonal Rivadavia Corrêda Meyer; quadrangular internacional do Rio
de Janeiro; interniconal de Santiago do Chile-1953, e do Rio-São Paulo-1958,
ele era, ainda, um campeão na dança do samba. Insuperável!
Mais do que deslumbrado com o que via na
Sapucaí, Sabará meteu o pé no samba e tocou cuíca e tamborim, durante o desfile
da Vila Isabel, em 2002, quando o tema foi “O Glorioso Nílton Santos, Sua Vida,
Nossa Vila”. Quem estava nas arqauibancadas, só preguntava:
- Quem é aquele sujeito elétrico?
Terminado o desfile, Nílton Santos foi
até Sabará, abraçou-lhe e disse:
- Rapaz, você estraçalhou no samba.
Ainda bem que foi longe do Maracanã. Se fosse em campo, naqueles tempos de
Vasco x Botafogo, eu estaria frito.
Sabará voltou ao Terreiro Quisce- Xhára,
já pedindo ao Seu Açaite pra estar presente no no Carnaval seguinte.
Ao chegarem na outra dimensão, Seu Açaite
sussurrou: Tirante a bola fora daqueles dois pisões, está 2 x 1 pra mim. De bom
tamanho! Terei, agora, um lance da pesada, mas ganho esta, também. E armou o
esquema tático para Cyro Aranha ajudar a derrubar o ditador Oliveira Salazar.
4 – Gaúcho, de Alegrete, nascido em 15
de abril de 1901, Cyro Aranha era irmão de Osvaldo, um dos caras que ajudaram
Getúlio Vargas a tomar opoder, em 1930 e que fora, também, ministro de Estado.
Um outro seu irmnão, Luís, também fora político.
Presidente do Vasco da Gama, por seis
temporadas, fez parte, ainda, de
diretorias da Federação Metropolitana de Futebol (atual Federação de Futebol do
Estado do Rio de Janeiro) e do Jóquei
Clube Brasileiro. Esteve chefe de várias delegações da Confederação Brasileira
de Desportos (hoje, Confederação Brasileira de Futebol), participou do Conselho
Nacional de Desportos e vice-presidiu a Sociedade Hípica Brasileira. Gauchão
bom de jogo político na cintura, ele concordou, com Seu Açaite, que hvia pisado
na bola, com uma tremenda puxada de saco no Salazar. E topou, sem muita conversa,
rearar o erro.
- Até lhe agradeço, amigo. Naquele
tempo, estava tudo certo. Mas, como os tempos filosóficos mudaram e não havia
este tal de politicamente corredo, vamos arrumar a coisa, não fica bem vascaíno
ir para o além, chutando pênalti com a bola indo bater lá bandeirinha de
córner. Aliás, é até bom eu dar uma voltimha pela vida terrana, onde não apareço
desde 17 de julho de 1985.
- Então, vamos nessa, gaúcho.
Cyro
Aranha foi o presidente que entregou ao ao Vasco da Gama o quase invencível
“Expresso da Vitória”, que rolou pelos trilhos do sucesso entre 1945 e 1952. Sob
a sua batuta, a “Turma da Colina” conquistou estes títulos: 1942-Torneio Início (?); 1944 -Torneios Início, Relâmpago e
Municipal; 1946-
Torneios Relâmpago e Municipal; 1947- Campeonato
Carioca de futebol e de remo e do Torneio Municipal; 1948-Torneio Início e Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões;
1952-Campeonato Carioca (terra e
mar) e 1953- Quadrangular Internacional do Rio de Janeiro; Octogonal
Rivadávia Corrêa Meyer e Torneio Internacional do Chile.
Antes de partirem, Cyro
ponderou com Seu Açaite:
- Seguinte: Salazar, em
1933, criou o seu Estado Novo, xará das armações políticas do meu amigo Getúlio Vargas, que muito ajudou ao
glorioso Club de Regatas Vasco da Gama, inclusive, para trazer Isaías, Lelé e
Jair Rosa Pinto pra Colina. Se ele não tivesse dado uma prensa no bicheiro do
Madureira, a barra iriaa pesar na boca
do cofre do “Almirante” e, talvez, aqueles três patetas fossem pra um outro
clube. Só acho uma coisa, Seu Açaite.
- Manda!
- Eu não preciso
participar de derrubada do Salazar, porque no tempo em que ele ditava ordens em
Portugal, eu ditava títulos no futebol carioca. O Vasco ganhava tudo. Se eu
tivesse ficado fora de São Januário, os nossos adversários fariam a festa.
Então, como você diz que o Dono do Tempo vai intervir na questão, deixemos este
período de 1942 a 1952 só comigo na Colina.
- Tudo
bem! Baixaremos, então, em 1968, quando você o derrubará.
- Não preciso derruba-lo,
pois ele se derrubará de uma cadeira, que o levará para a.....
- Calma, Cyro. Não precisa exceder no
vernáculo politicamente incorreto, tchê!
- Barbaridade! Saí do
sério.
- Façamos, então, o seguinte, tchê: o salazarismo foi sequenciado por Marcelo
Caetano, até ser derrubado pela Revolução dos Cravos Vermelhos, em 25 de abril
de 1974. Você não tem nada a ver com essa patota, pois o seu lance zero
vascaíno foi tabelando com o Salazar. Então, façamos o seguinte: chegamos um
dia antes e você o oferece a cadeira da qual ele irá cair da cadeira e ir
pra....
- Bá, tchê! Agora és tu se
aprontando para dar um coice no vernáculo?
- Foi mal, foi mal!
- Tudo bem, tudo bem!
- Sabe deuma coisa, tchê?
Não vamos mais perder tempo com ditador que já era, tenho coisa mais importante
a tratar.
- O quê?
- Fazer o Barbosa agarrar
aquela bola chutada pelo Ghiggia, no 16 de julho de 1950, no Maracanã.
- Grande lance, tchê! Grande
lance! Tens o meu apoio.
Quando deixavam Lisboa, o presidente
Cyro Aranha e Seu Açaite ainda viram pelas ruas da capital portuguesa os
capitães que fizeram o Movimento das Forças Armadas que derrubou o salazarismo.
Cyro, irmãos de políticos aliados a Getúlio Vargas, chamoluum desses capitãse
pr conversar e ouviu dele:
- O nosso movimento começou em 1973, com reivindicações
corporativistas e exigindo prestígio para a nossa repaziada. O nosso poderio
era pequeno, para encarar o salazaraismo, mas houve adesão em massa do povo e
não deu para o regime nos encarar. Estamos aí, com uma Junta de
Salvação Nacional.
- Posso dar-lhe uma ideia?
- Pois, pois, porque não?
- Pôis, pois, oh gajo!
Prece que advinhasou o nosso pensamento – naquele momento, enquanto o capitão
olhava para um dos lados das rua, Cyro e Seu Açaite desaparecerm e foram se reespiritualizar
no Terreiro KicesXára, de onde partiram, o mais rápido possível, dando a causa
por resolvida.
5 - Seu Açaite encontrou-se, lá em seu plano
espiritual, com um amigo muito invocado pelos terrenos, Creolindo Tapaciguara,
muito respeitado pelo Nordeste e por Minas Gerais. E recebeu um pedido dele:
- Estou com um grande número de chamadas lá da
Bahia, ao mesmo tempo em que estou precisando de umas descidas em Belo
Horizonte. Estão me cobrando. Então, quero fazer-lhe um pedido, para
devolver-lhe o obséquio depois. Você teria tempo de atender aos meus chegdos em
Beagá, enquanto eu desço a Bahia?
- Creio que sim, pois a
minha agenda tem se desenrolado legal. Só tenho um “perrepes” pra correr atrás, do qual vou
precisar, mis uma vez, da colaboração do Dono do Tempo, o que sempre rola.
Deixe eu falar com ele, pra confirmar contigo.
- Fico aguardando.
Enquanto Creolindo
Tapaciguara aguardava retorno, Seu Açaite chamou Sabará e disse-lhe:
- Ô “jabuticaba”, preciso
de uma grande colaboração sua.
- Pida!
- O seguinte: o nosso
goleiro não pode levar gol, nem em pesadelo. Vou passar as coordenadas para o meu
amigo Dono do Tempo e, depois, mais dados pra você amarrar tudo com ele e
seguir.
- Xá comigo!
- Você já foi ao Carnaval
da Sapúcaí, agora viverá missão mais arrojadas. Terá de ficar atrás da baliza
defendida pelo nosso time, no Maracanã, para alertar o nosso goleiro contra os
perigos reais iminentes e imediatos que vão lhe rondar. Por ora, fiquemos
nisso. Aguarde os detalhes finais.
- Aguardarei.
Alguns dias depois Sabará trocou
os últimos leros com o Dono do Tempo e “ressaiu” do plano espiritual em que
orbitava, desde 1997 – deixara 165 gols vascaínos – Roberto Dinamite (702),
Romário (326), Ademir Menezes (301), Pinga (256), Russinho e Ipojucan (225) e Vavá
(191) ganham esta corrida -, e partiu,
como enviado especial, para ajudar um goleiro a não levar gol.
Enquato o antigo ponta-direita vascaíno
voltava ao Rio de Janeiro, o Seu Açaite ia a um terreiro de Belo Horizonte,
como estava combinado com o seu amigo Creolindo Tapacigura. Na véspera de ele
baixar no recinto, um casal de namoradossaí do Cine Guarani, na Avenida Afonso Pena,
onde ela propôs:
- Topa a gente ir, amanhã,
a um terreiro espírita?
- O quê? E desde quando
judeu vai a centro espírita?
- Sou filha de judeus, mas nasci carioca e passo
férias na Bahia. Estou em todas. Não me fecho.
- Engraçado! Pois eu sou
baiano e nunca fui a um centro espírita.
- Então, vamos - e fui
conhecer o barato por lá.
Quando a sessão terminava
e Seu Açaite já se despedia da moça, pometendo voltar no dia seguinte, pedi-lhe
um aparte, concedido.
- Tem como eu apagar algo
de minna mente?
- Vamos ver do que se
tratas.
- Na tarde do domingo 2 de
março de 1961, o Flamengo venceu o Vasco
da Gama, o meu time, por 2 x 1, no Maracanã, valendo pelo Torneio Rio-São Paulo.
Eu havia passado toda a semana esperando por aquele jogo, na certeza de que a “Turma
da Colina” o venceria. Até abriu o placar, pelo centroavante Delém, aos 24
minutos. Pen que o meia Gérson de Oliveira Nunes, aos 42, e o nanico
ponta-esquerda cearense Babá, isto é, Mário Braga Gadelha, aos 60, mandaram o
árbitro José Monteiro recolocar a bola no centro do gramado, para nova saída de
jogo. Viraram a história. Foi o pior dia da minha vida, isto é, a pior noite,
pois a decepção mais forte veio mais tarde. Não consigo esquecer daquele
vexame. Tem como o senhor acabar com isso?
- Já tratei de caso parecido. Creio que posso
lhe ajduar, também. Você virá à sessão de amanhã?
- Se for preciso, virei.
- Conversaremos mais
amanhã e veremos o que farei.
- Combinado.
6 – Sabará chegou ao Rio
de Janeiro na véspera do jogo entre as seleções brasileira e paraguaia, pelas
Eliminatórias das Copa do Mundo de 1954. Aproveitou para fazer um rolé noturno
pela Barra da Tijuca e encontrou-se com Gervásio Bastista, fotógrafo da revista
O Cruzeiro.
- Jabuticaba! Você por aqui! Há quanto tempo,
seu safado? Onde você se meteu?
- Estou em umas paradas
diferentes por aí.
- E, evidentemente, mal
intecionado por aqui, de olho no mulherio!
- Nem tanto! Só estou mesmo
batendo pernas pra ver se encontro alguns velhos amigos.
- Alguns velhos amigos?
Hummm! Uns amiguinhos!Tô sacando, negão.
- Negão é o seu passado,
baiano marcha lenta.
- Quem diria, hem Jabuticaba?
Procurando uns amiguinhos! Depois de véi?
- Qual é, Gervásio. Tá me
desconhecendo?
- Desconhecendo? Tô é lhe
reconhecendo – e caiu na risada, abraçou Sabará e sacanearam-se mais um pouco,
até se despedirem.
- Estarei , amanhã, no “Maraca”. Você vai?
- Se aqueles veados do
Departamento de Fotogarafia não me sacanearam, não me derem pauta escrota,
espero estar lá fotografando e assistindo a classificação do Brasil para a Copa
do Mundo da Suiça.
- Espero, então, que a
gente se cruze por lá.
7 – Durante as suas 12
temporadas como atleta do Vasco da Gama (foi da Seleção Brasileira, também), o
atacante Sabará jamais vira tanto interesse por uma partida de futebol como por
aquela do dia 7 de março de 1954, entre Brasil e Paraguai, pelas Eliminatórias
da Copa do Mundo. Carros com placas de localidades as mais distantes do do Rio
de Janeiro, como Mato Grosso, Bahia Rio Grande do Sul tinham gente dormindo
dentro deles e até em cima dos capôs. Ao redor do Maracanã, às três da manhã já
havia gente na fila para comprar ingressos, que deveriam começar a ser vendidos
a partir das nove, em vários pontos da cidade.
Sabará jamais vira, também, o Maracanã
recebendo 195.514 desportistas, o maior público pagante da história da casa. Ele
havia enfrentado o Flamego, por várias vezes, com casa quase cheia, mas,
daquele jeito, espantava-se.
Os paraguaios eram os campeões sul-americanos
e os brasileiros queriam chegar à Suiça, pra se redimirem do vexame de 1950,
quando perderam a Copa do Mundo, ante os uruguaios, no mesmo estádio. Domingaço,
ensolaradaço, carioquíssimo, o juiz francês Rymond Vicenti apitou início de
jogo, com os nacionais usando camisas camarelas, com golas azuis e frisos nas
mangas, na mesma cor. Os meiões tinham branco e frisos azuis. Destoando, engraçadamente, só o treinador
Zezé Moreiera usando uma camisa listrada, horizontalmente, em branco e branco,
parecida com aquelas muito usadas por sambistas durante desfiles de blocos
carnavalescos.
E rolou a bola. O Brasil abriu o placar, aos
59 minutos, por Julinho Botelho. Baltazar fez o segundo, aos 62. Os paraguaios
diminuíram, aos 75, mas Julinho voltou a marcar, aos 83. E Maurinho fechou a
conta, aos 90. Goleada e muitos aplausos
para Veludo; Djalma Santos, Gerson dos Santos, Bauer, o capitão, Brandãozinho e
Nílton Santos; Julinho, Didi, Humberto Tozzi (Pinga) Baltazar e Maurinho. Para
a revistsa O Cruzeiro, aquele fora “O 16 de julho dos paraguaios”,
por terem passado pelo vexame que lhes deixou fora da Copa do Mundo.
Sabará não fez nada do que o Seu Açaite lhe
recomendara. Só assitiu ao jogo e vibrou com cada gol e a goleada. Na
segunda-feira, o amigo chegou ao Rio de Janeiro e, o indagar-lhe sobre o
sucesso da missão, levou um espanto ao ser informdo.
- Sabará, você fez o jogo
errado. Não era em 1954, mas em 1950. E quem não deveria levar gol seria o seu
velho companheiro vascaíno Barbosa, e não Veludo. Você não prestou atenção
direito no que lhe falei e passou informação errada para o Dono do Tempo. Vou
te contar, Jabuticaba!
8 - Seu Açaite sentia-se cansado por tantas
atividades nos últimos tempos. Decidiu negociar uma descansada e deixar o caso
de Barbosa para uma outra oportunidade. Logo depois de acertar tudo com os
espíritos superiores, ele desceu para o Rio de Janeiro de 2011. Curtiu praias,
bebeu chopinhos e foi a vários ensaios de escolas de samba. E muito mais.
Perto de terminar o seu período de descanso,
Seu Açaite desejou visitar o Colégio Pedro II, em São Cristóvão, onde estudara,
e o fez em uma das ensolaradas manhãs cariocas. Antes não tivesse ido.
Sentiu-se injuriado por ver uma placa escrito Direção Geral e homenageando o
almirante Augusto Rademaker, que vivera até 1985.
Militar de perfil prussiano, Rademaker teve
participação ativa no golpe que implantou a Ditadura de 1964, no Brasil. Em
1968, como ministro da Marinha, participou de um golpe dentro do golpe,
juntando-se aos seus colegas da Aeronáutica, brigadeiro Márcio de Souza Melo, e
do Exército, general Lira Tavares, para impedir a posse do vice-presidente
Pedro Aleixo, em lugr do presdidente Costa e Silva, que sofrera gravíssimo
problema de saúde.
Após o fim da junta militar, o governo caiu
nas mãos do presidente Garrastazu Medici, com Rademaker sendo o seu vice. Entre
1969 e 1974, foi o período mais violento da Ditadura, que torturou e matou
alunos do Pedro II, discordantes do regime dos generais-presidentes.
Seu Açaite voltou ao seu plano disposto a
partir para uma briga terrena. Explicou tudo o seu amigo Dono do Tempo e, por
acaso, ao cruzar com Mário Trigo, primeiro dentista da Seleção Brasileira, perguntou-lhe
pelo almirante Heleno Nunes.
- Temos nos encontrado
muito.
- Estou querendo falar-lhe.
- Vou avisa-lo e pedir-lhe
que entre em contato contigo.
Sem demora, o encontro se
deu. Seu Açaite propôs-lhe descer no Terreiro Kisce-Xhára e ir a São Cristóvão,
banir o nome de Rademaker do Colégio Pedro II.
- Sei que você, meu caro
Heleno, conviveu com a Ditadura, teve irmão no Governo, mas nunca concordou com
o “inconcordável”. Levo em conta que você foi um dos baluartes de diretorias do
Vasco da Gama. Conto contigo neste
mister?
- Não só com o almirante,
mas comigo, também – atalhou Mário Trigo.
- Não temos como recusar,
né Mário? Afinal, a democracia no futebol brasileiro foi patrocinada pelo Vasco
da Gama, que enfrentou todos os tipos de perseguição e violência moral para se
abrir ao povo.
Surpreendentemente apressado, o almirante
Heleno de Barros Nunes embarcou de volta à vida terrena, pela qual passara
entre 1917 e 1984. Nõ só viajou, como empenhou-se muito para marcar um gol,
como Roberto Dinamite naquele jogo em que o atacante vascaíno mandou a pelota
para o barante da Áustria, classificando o Brasil para a segunda fase da Copa
do Mundo-1978. Conversou com todos os membros das congregação que administrava o Colégio Pedro II e conseguiu sucesso
absoluto em sua missão, fechada no 19 de abril de 2011. De quebra, esticou uma
passadinha por São Januário, a fim de matar as saudades dos velhos tempos em que
frequentava a Colina. Até assistiu ao treinamento do dia da visita, dizendo-se
saudoso do Dinamite, que ele ordenra a escalação, ao treinador Cláudio
Coutinho, na terceira rodada da fase clssdificatória do Mundial argentino, porque
o ataque da Seleção Brasileira vinha tropeçando no gramado de Mar del Plata.
Inclusive, diziam que o vascainismo do
almirante Heleno Nunes era tão grande que, ao sair da ativa, ele ia para a
frente da sede de São Januário ajudar o presidente Manoel Joaquim Lopes a
vender pimentão, para juntar grana e contratar reforços para o clube. Por
sinal, dizem, também, que a dupla até arrumou encrenca com um português que
vendia verduras, secos e molhados pelas proximidades das bilheterias do
estádio.
PARADINHA ÀS 21H15 DE
21.03.19
RETOMADA ÀS 08H45 DE
22.03.19
9 – Camilo Pontes D´Ávila
era o nome de registro e de batismo do Seu Açaite. Garoto muito bem educado e muito católico,
ele chegou ao Brasil, aos 10 de idade, trazendo um sotacão típico da região de
Cascais, onde vinha sendo criado. Aos 12, começou a revelar sua mediunidade e, aos 13, passou a ajudar ao
pai em um armazém de secos e molhados. Como a palavra azeite ele só falava
“açaite”, terminou ganhando um apelido.
Por volta dos 26, quando já era um dos mais
famosos médiuns de Madureira, onde a sua família morava, ele passou a ser
chamado por Seu Açaite, que o acompanhou por estas e a sua outra vida.
Após a bola fora de Sabará, que trocou 1950 por
19534, Seu Açaite aproveitou uma descida em um centro espírita que vinha
pedindo muito a sua presença, em Bacaxá, e foi convidado pela rapaziada a
passar o domingo em uma agremiação chamda Clube da Faixa. Aceitou e ouviu
muitas queixas da oposição ao presidente, pintado por terrível mau elemento,
ditador, manipulador da diretoria.
Chocado com o que ouvira, Seu Açaite lembrou
dos tempos em que ele era chamado por “BomMau” e que tinha, também, um lado mau
para coloca-lo emação quando a situação pedisse. E foi o que decidiu fazer.
- É ele! – lhe
apontaram o sujeito.
Seu Açaite preparou um
charuto com farinha de dinamite, foi até o sujeito, o agarrou pelo colarinho e
acendeu um isqueiro. Com o objeto fumegante, o enfiou no rabo da criatura e
desferiu-lhe termendo chute no trazeiro, que o tal saiu vando para explodir
quando estava pela altura do meio do gramdo. Todos apludiram, até a situação,
que sentiu-se desafogada das pressões do homem, que a mantinha sob o seu
cabresto, coma rabo preso e não ousava desafia-lo.
Segundo afirmava a oposição, o homem dividira,
com os amigos encabrestados, a grana da venda do passe de vários jogadores, com
tudo aprovado pelo Conselho Deliberativo. Citavam atletas que faziam sucesso pelos
italianos Lanerossi e Atalanta; o húngaro Ferencvaros; o português Benfica e os
inglês Blackpool e Blackburn Rovers.
Escravatura abolida no clube, pelo final do
churrasco, quando todos já hviam ido embora, Seu Açaite estava sozinho,
contemplando o gramado, quando aproximou-se dele um português barrigudo, barba
por fazer e cabelos já falhando.
- Quer comprar pão, amigo?
O meu pão é o melhor desta cidade.
- Ainda bem que não sou
mais desse mundo.
- Nesse e no outro mundo,
garanto, não se encontra um pão melhor do que o do portuga, garanto, oh gajo!
Seu Açaite, que já havia
deixado o seu lado mau e já estav pronto para retornar `sua dimensão usndo o se
lado bom, pensou: “Eu me virabndo para mudar a história, arrumar as coisas para
os meus amigos,podendo até ganhar o Prêmio Noibl de Física, e me chega um
português pra me vender pão”. E exclamou:
- Pão ta que pão riu!
FINAL às 9H42 DE
22.03.2019 (sexta-feira)