Vasco

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domingo, 12 de fevereiro de 2017

O DOMINGO É DIA DE MULHER BONITA - ADALGISA, PRIMEIRA 'MISS LABORATÓRIO'


Reprodução de www.uol.com.br

Uma tremenda vaia rolou sobre a Miss Botafogo, Adalgisa Colombo, quando foi anunciado a vencedora do Miss Distrito Federal, que ainda era o Rio de Janeiro, em 1958. De quebra, o público começou a atirar-lhe azeitonas, empadas e croquete de camarão, comprados pela organização na finíssima Confeitaria Colombo. Acertaram a coroa, o cetro e mancharam de gordura o douradíssimo maiô Catalina.

 Se tivesse rolado só aquele barraco, menos mal. No entanto, a desarvorada mãe de Ivone Richter, a favorita Miss Riachuelo, aprontou mais. Subiu ao palco e pegou Adalgisa na porrada. Já uma irmã da Miss Vasco da Gama fez picadinho do vestido de tule da “Gisa”, que era modelo profissional e desfilava modas para a Casa Canadá, a última palavra em elegância para  os granfinos do Rio de Janeiro dos anos dourados. Foi preciso a “puliça” entrar em cena.
Adalgisa, aos 18 anos, com 1m65cm de altura e pesando 56 quilos, media 89cm de busto, 61 de cintura, 21 de tornozelos e 80 de quadris. Estudava no Liceu Francês, no bairro das Laranjeiras, não tinha olhos azuis e nem verdes, mas já era malandrinha. Antecipando-se, em décadas, às “Miss Bisturi”, ela sacou que só poderia vencer as favorita se aprontasse alguma armação que surpreendesse os jurados. Nada de citar o  “Pequeno Príncipe” (livro do francês Antoine de Saint-Exupéry), como faziam as debutantes e demais belezocas da época. Como já desfilava, desde os 15 anos de idade, tinha um arsenal de manhas à sua disposição.
Reprodução da revista  "O Cruzeiro"
 Pra começar, Adalgisa deixou os maquiadores do concurso lhe aplicarem “pancake” nas pernas, como faziam em todas as concorrentes. Depois, escondidamente, perto do instante de entrar no palco, fugiu para o banheiro, livrou-se daquilo e o usou óleo Johnson, para as pernas exibirem brilho sensual e ficarem mais atraentes. Para parecerem mais compridas e aumentar a sensualidade, fez uma cavadinha no saiote do maiô, que não era peça única. Já que todas as moças usavam o cabelões, ela desfilou como pescoço e  ombros nus. Mais? Locutora, desde 1957, da Rádio Globo,  no quesito entrevista, explorou  bem a entonação da voz, falando como não falavam as concorrentes. Covardia!   
Pra matar: Adalgisa não tomou conhecimento dos treinamentos da professora de desfile do Miss Distrito Federal, por achar tudo muito cafona. Quase matou a mulher do coração. Enquanto a tal lhe fazia gestos, para seguir as suas normas, ela desfilava como se estivesse na Casa Canadá. Os jurados adoraram.  
Concursos de beleza existiam, de há muito, no país,  mas era a primeira vez que uma modelo profissional o disputava. Eleita, Adalgisa foi chamada, pelas concorrentes, de Miss Antipatia. Nem ligou! O que importava era que disputaria o Miss Brasil. E, uma semana depois, lá estava ela diante de um público sem a menor dúvida de que  a Miss Pernambuco venceria.  Pena que a moça tivesse um interessante sotaque arretado, mas não conhecesse as manhas das modelos da Casa Canadá.  E, burocraticamente, fez aquele desfile manjadão.
 Sorte de Adalgisa, para quem um assistente do desfile atirou uma flor, quando ela passava diante dele. Contrariando as normas do concurso, ela abaixou-se, pegou a flor, tascou-lhe um beijo, sorrindo, e arremessou-a para o público – aplausos ensurdecedores. Por ali, Adalgisa começou a ganhar  os votos dos jurados Alfredo Ceschiatti (escultor), Harry Stone (representante de Hollywood no Brasil) e do costureiro da moda,  Nazaré, que indagou-lhe sobre o que ela faria se o zíper do seu vestido abrisse no meio do desfile.  O Maracanãzinho ficou em total silêncio, ante a ousada da pergunta, principalmente as candidatas. Adalgisa, malandrinha,  respondeu: “O deixaria aberto. Ficaria bem melhor”. Pronto!  O ginásio quase foi abaixo e os aplausos foram maiores. As concorrentes sacaram logo que não haveria pra ninguém. Adalgisa era a Miss Brasil dos jurados e do público.
Coroada, Adalgisa armou, com a revista “O Cruzeiro, que vendia 500 mil exemplares semanais, para ser fotografada beijando o capitão da Seleção Brasileira campeã do mundo na Suécia, o zagueiro vascaíno Hideraldo Luís Bellini, o homem mais desejado pelas mulheres da hora. Até o presidente JK o achou bonitão e chamou-o de “Apolo”. Por sinal, ante tanta simpatia da moça que representaria o Brasil no Miss Universo, em Long Beach, nos Estados Unidos, JK fez questão de conhecê-la e posar para fotos do seu lado.      
Capa, também, da revista 'Mundo Ilustrado'
Nos "Iztêites",Adalgisa voltou a conquistar simpatias. Ofereceu um chapéu do cangaceiro Lampião ao prefeito da cidade onde concorreria, dizendo-lhe que pertencera ao mais terrível bandoleiro do Brasil. Mas que ele não tivesse medo de usá-lo, pois as balas da polícia não acertaram-lhe a cabeça, só  o corpo, que ficara como uma peneira.
Por ser tão autêntica, Adalgisa perdeu a coroa de Miss Universo durante visita das candidatas a Hollywood. O ator Hug O`Brien,  o mais popular do momento, pelo personagem “Wyat Earp”, de uma série de "farwest" televisa, desagradou-se por ela não pedir-lhe um autógrafo. Como o homem mostrava-se muito convencido, dizendo que o mundo todo o conhecia, ela sugeriu-lhe "incluí-la fora" dessa estatística, o que desagradou, também, um dos jurados, um desenhista de “pin-up’ (mulheraças)  da revista “Playboy”, cujo voto foi suficiente para eleger a Miss Colômbia. O cara a acusou de ter desfilado como se fosse uma modelo internacional. Para o público, a Gisa, sim, era a Miss Universo. Mas, como Martha Rocha, em 1954, voltou com o segundo lugar. Era a primeira (e única) vez em que ficava vice.       

 

 


 


 
 

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