Vasco

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sábado, 18 de maio de 2019

125- O VENENO DO ESCORPIÃO - POSSES PRESIDENCIAIS EM "COLUNAS SOCIAIS"


Pelas décadas- 1950/1960, as coberturas de posses de presidentes da república, pelas magazines O Cruzeiro, Manchete e Fatos & Fotos eram verdadeiros, belos “espetáculos pirotécnicos”.
 Privilegiava-se, tremendamente,  a fotografia. Mas elas não estavam erradas, pois, em tais ocasiões, o povo queria muito mais ver do que ler, principalmente o leitor de cidades interioranas, que ouvia as notícias pelo rádio e ficava imaginando o festão distante de sua casa.
  Os textos eram como se fossem para uma coluna social, bem diferente de hoje, quando as reportagens passeiam por itens que cercaram a campanha e por detalhes de bastidores da posse.
Em manhã de sol aberto, o presidente subia a rampa do Congresso Nacional
A do presidente Artur da Costa e  Silva, por exemplo em 196..., reflete, totalmente, a preocupação da edição, de não decepcionar o leitor adorador do visual.
 Na foto (à direita) em que o presidente sobe  rampa do Congresso Nacional, para receber o cargo, um título de matéria joga pra cima: “Todos elogiaram a beleza e perfeita ordem da cerimônia de posse”.
Hoje, é impensável redator gastar espaço com frases assim. Também, jamais escreveria algo como: “O povo de Brasília foi ver de perto a troca de presidentes”. Neste caso, até compreende-se, pois não havia a Internet e nem TV  transmitindo ao vivo.

O presidente e Dona Iolanda (de branco)
circularam entre os socialistas
 Para Manchete,  “todas as cerimônias” ficavam “mais bonitas em Brasília”, como a da a posse do segundo presidente do ciclo militar (iniciado, em 1964, pelo marechal Castello Branco).
Seu texto poetizava ter sido em uma “manhã de sol aberto....dia  emocionante, que mobilizou todos os setores da capital brasileira” (informação sobre o óbvio, pois seria impensável tal mobilização não ocorrer) e ressaltava a pontualidade no cumprimento dos horários: “Os eleitos, em 3 de outubro, chegaram ao Congresso às 11 horas, em ponto”. E mais confetes: “... funcionários da Câmara (do Deputados) e do Senado concluíram unânimes: Assistimos a mais bela sessão do parlamento nacional”.
 No que diz respeito a informações que não podiam faltar, Manchete foi breve, registrando, por texto curto, ter a solenidade de posse constado de “dois discursos curtos”, com presidente que saía resumindo as realizações do seu governo e o chegante emprestando “à sua fala...as cores vivas de uma grande mensagem de esperança que repercutiu intensamente no Brasil inteiro.”
Por um outro texto pequeno, contava que... todas as dependências (do Congresso Nacional) estavam superlotadas e que “houve um murmúrio sereno quando o senador Áureo  de Moura Andrade, logo após breve cerimônia de juramento constitucional, declarava empossado o novo chefe do governo...fisionomia sempre grave, o Marechal Costa e Silva agradeceu, enquanto D. Iolanda chorava, emocionada. O senador Moura Andrade fez questão de salientar: Neste momento, o Brasil se reencontra com o estado de direito e volta à ordem constitucional”. 
O embaixador Tuthill e o governador da Califórnia,
Brown, trouxeram as saudações dos Estados Unidos
E tome-lhe coluna social: 1 – Nos salões do Palácio da Alvorada, dois mil convidados assistiram à mais bela recepção de Brasília, em seus sete anos de existência; 2 – Desde as nove horas da manhã, deputados, senadores, ministros, personalidades nacionais e estrangeiras, convidados especiais e populares chegavam (para a posse); 3 – Soldados uniformizados deram às ruas de Brasília o colorido dos grandes dias. Por onde passavam eram aplaudidos, e havia também faixas; 4 – Na recepção do Alvorada, tudo foi perfeito, do bufê servido pelo Hotel Nacional à elegância dos convidados; 5 – Ao receber a presidência, Costa e Silva recebeu do mundo inteiro os votos de um governo feliz e profícuo; 6 – A recepção no Palácio da Alvorada foi simples e marcada pelo bom gosto... o presidente e a primeira dama percorriam o salão, onde s mulheres apareciam em vestidos longos e os homens de casacas. Toda a alta sociedade d
o Rio, São Paulo e Brasília compareceu à festa...” – entre as socialites presentes estava a Miss Brasil 1954, Martha Rocha.
O show de fotos mostrava o presidente no palanque, já enfaixado, com a legenda dizendo que “o povo seguiu até o fim as solenidades de posse”; cumprimentando convidados, “sempre informal na noite de gala”, ao lado da primeira dama Iolanda, exibindo brincos, colar e vestido, tudo no branco, e recebendo os cumprimentos de representantes de delegações estrangeiras e de autoridades brasileiras.
 
O charme da
'Dama de Vermelho'
a foto em que o presidente posa com o seu ministério, a legenda diz que o novo presidente dera esta palavra de ordem aos auxiliares: ‘O governo que se inicia pode não ser popular, mas deve ser um governo para o povo”. Como se lê, típico de revista pró-Governo. 
  Manchete, que nesta reportagem jamais citou que o prenome do presidente era Artur, só se referindo a ele por Costa e Silva, jogou confete, ainda, na legenda de foto em que dizia ter o presidente sido aplaudido (bem como Castelo Branco) por “mais de mil pessoas”, em frente ao Palácio do Planalto, quando rumava para o aeroporto, com destino ao Reio de Janeiro.
 Hoje, revista que fizesse edição assim de posse presidencial teria toda a sua redação demitida, pois os avanços dos meios de comunicação deixaram o povo muito mais politizado, cobrando mais informações que influam em sua vida. Fotos de vestidos longos de madames não impressionam mais nem às interioranos que não vivem a capital.

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