Vasco

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quinta-feira, 25 de maio de 2017

HISTÓRIA DA HISTÓRIA - ALMIR


Reprodução de Revista do Esporte
 O Vasco vinha fazendo campanha irregular no Torneio Rio-São Paulo-1957 – 3 x 2 Botafogo; 1 x 1 Palmeiras; 1 x 0 Flamengo; 0 x 3 São Paulo; 5 x 2 Portuguesa e 0 x 2 Fluminense. Diante do América-RJ, quando  perdera dois jogadores, o treinador Martim Francisco recorreu a um garoto pernambucano que ainda tinha idade de juvenil. E, em 23 de maio daquele 1957, no segundo tempo lançou Almir Albuquerque de Morais, na vaga de Lierte, que já havia substituído Sabará. Diante de 6.825 pagantes e de 2.989 caronas, totalizando 9.814 almas, Almir estreou, ajudando o Vasco a vencer, por 3 x 0.
No jogo seguinte – Vasco 1 x 2 Corinthians – a irregularidade persistiu, mas Almir não jogou. Entrou no último compromisso do torneio – 01.06 - Vasco 3 x 2 Santos, na Vila Belmiro, a casa do “Peixe”. Daquela vez, Almir substituiu Sabará e o Santos trocou Del Vecchio por um outro garoto, Pelé, que prometia muito e até marcara um gol –  estava escrito que dois craques estavam surgindo.   
 
FICHAS DOS DOIS PRIMEIROS JOGOS OFICIAIS

25.03.1957 ´-Vasco 3 x 0 América. Torneio Rio-São Paulo. Estádio: Maracanã-RJ. Renda: 160.100,00. Publico: 6.825 pagantes e 2.989 não pagantes. Total: 9.814 presentes. Juiz: Frederico Lopes. Gols: Laerte, Livinho e Vavá. VASCO: Carlos Alberto Cavalheiro, Paulinho de Almeida, Bellini e Ortunho (Dario); Orlando Peçanha e Laerte; Sabará (Lierte/Almir), Livinho, Vavá, Valter e Pinga.
Técnico: Martin Francisco.

01.06.1957 – Vasco 3 x 2 Santos. Torneio Rio-São Paulo. Estádio: Urbano Calderia (Vila Belmiro), em Santos. Renda: 342.900,00. Juiz: Paulo Simões. Gols: Tite, Pelé (San), Valter Marciano, Livinho e Vavá (Vsc). VASCO: Carlos Alberto Cavalheiro, Paulinho e Bellini; Dario, Orlando e Laerte; Sabará (Almir), Livinho, Vavá (Wilson Moreira), Valter Marciano e Pinga (Roberto). Técnico: Martim Francisco. SANTOS: Manga, Getúlio e Mourão; Fioti, Brauner e Urubatão (Zito); Dorval, Álvaro, Pagão, Del Vecchio (Pelé) e Tite (Pepe).Técnico: Luís Alonso Peres, o  Lula.
 
Reprodução da revista Grandes Clubes
 ANO DOURADO – No início de 1958, o Vasco excursionou ao exterior, disputando doze amistosos, entre América Central, Estados Unidos e Europa. No penúltimo, em Moscou, Almir marcou um gol, diante do Dínamo Kiev. Foi um giro muito cansativo, mas  em que Almir pôde ver em ação jogadores que contribuíram para o seu futuro, exibindo-lhe experiência com as camisas de clubes tradicionais, como os espanhóis, Real Madrid, Atletic Bilbao, Valencia, Barcelona, Espanyol, o português Benfica e o soviético Dínamo Moscou, em nove vitórias vascaínas e três derrotas. De volta ao Brasil, Almir ajudou o Vasco conquistar o Torneio Rio-São Paulo, o seu primeiro título com a camisa cruzmaltina, atuando nos nove jogos – 2 x 4 Palmeiras;  3 x 1 Corinthians; 3 x 2 São Paulo;  6 x 1 Fluminense; 1 x 0 América; 1 x 0 Santos; 4 x 2 Botafogo; 1 x 1 Flamengo e 5 x 1 Portuguesa de Desportos.
 
CRUZMALTINO -  Havia um empresário, em Recife, um tal de Cier Barbosa, que tinha por “esporte predileto” indicar, ao Vasco da Gama, craques revelados pelo Sport Club do Recife, que já dera Ademir Menezes à “Turma da Colina”, mas sem ele nada ter a ver com a transação. Mas presenteou os cruzmaltinos com dois grandes “matadores”, Vavá – Edvaldo Izídio Neto – e  Almir Morais de Albuquerque. 
Almir aconteceu muito rápido em São Januário. Até poderia ter disputado a Copa do Mundo-58. Fora convocado para os treinamentos, depois dispensado do grupo, mas esteve perto de voltar a integrá-lo, quando a comissão técnica vivia a dúvida de manter, ou dispensar, o contundido garoto Pelé.
Cracaço do time do Vasco, que o recebera, aos 19 anos de idade, com cara de garotão – nasceu, em 28 de outubro de 1937 – Almir foi integrado ao time juvenil vascaíno, demorando-se pouco nele, para sagrar-se, no dourado 1958,  “super-super-campeão carioca” e do Torneio Rio-São Paulo, jogando barbaridades.
Com Valdemar e Pinga, na reprodução de foto da Manchete Esportiva
colorizada por  www.netvasco.com.br
Em 1960, o Corinthians, que não era campeão paulista, desde 1954, chorava o sucesso do Santos, principalmente, por ter a maior torcida do seu estado e não contar com um craque como Pelé. Então, abriu o cofre e levou Almir, por uma  fortuna. Ele não queria ir embora e nem ser o “Pelé Branco” , como lhe chamaram os corintianos, cansados de assistir às diabruras do camisa 10 santista diante deles.
 
Por capricho do futebol, Almir, durante as suas duas temporadas corintianas – 29 jogos, 13 vitórias, 7 empates, 9 derrotas e 5 gols, entre 1960 e 1961 – , jamais enfrentou Pelé. Isso só aconteceu quando ele era um vascaíno. E ganhou o duelo, por 1 x 0, marcando o tento da vitória, em 22 de março de 1958, no Maracanã, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, também chamado de Rio-São Paulo. O gol saiu aos 67 minutos, ou aos 22 do segundo tempo do prélio apitado por João Etzel Filho, da Federação Paulista de Futebol, com a refrega levando 37.455 almas ao estádio, das quais 32.978 foram pagantes e 4.477 caronas.

Almir, o “Pelé Branco” venceu o  “Pelé Preto” integrando esta patota: Hélio, Paulinho de Almeida e Bellini (Viana); Écio, Orlando e Coronel; Sabará, Almir, Vavá, Rubens (Roberto) e Quincas (Wilson Moreira). Técnico: Francisco de Souza Ferreira, o Gradim. O Santos teve: Manga, Fiotti, Ramiro e Dalmo; Urubatão e Zito; Dorval, Jair da Rosa Pinto (Guerra), Pagão (Afonsinho), Pelé e Pepe. Técnico: Lula.
Aqueles jogos do Torneio Rio-São Paulo es “SS-RJ” da mesma temporada-1958, foram os dois grandes momentos de Almir no Vasco da Gama. Durante a disputa interestadual, ficou muito marcada, principalmente, a sua atuação nos 5 x 1 Portuguesa de Desportos –  06.04 – no Pacaembu, em São Paulo, quando ele fez três dos cinco gols que garantiram o título ao “Almirante” – antes, havia batido na rede em: 01.03 – Vasco 2 x 4 Palmeiras (1 gol); 08.03 – 3 x 2 São Paulo (1); 13.03 – 6 x 1 Fluminense (1); 22.03 – 1 x 0 Santos (1); 26.03 – 4 x 2 Botafogo (1).
 
TROCA DA COLINA PELO PARQUE -  Por Cr$ 3,5 milhões de cruzeiros e um automóvel, por dois anos de contrato,  Almir deixou São Januário e levou o seu aguerrido futebol para o Corinthians, em 1960. Bom para os dois lados? Financeiramente, sim, para os cartolas; sentimentalmente, não, para o atleta.

Mesmo faturando Cr$ 30 mil mensais – entre salários, gratificações e prestações das luvas, tiraria perto de Cr$ 200 mil mensais, valores que faziam daquele um dos maiores contratos do futebol brasileiro –, o jogador preferia continuar cruzmaltino, por sentir-se muito bem como um grande ídolo das torcida. Por isso,  dificultou o negócio. O que o deixou mais magoado foi saber que um dirigente vascaíno  teria dito não haver mais ambiente para ele no Vasco. Aquilo levou-o a uma crise de nervos.
Almir abraça os ex-companheiros Miguel e Pinga.
 
Para encerrar a queda-de-braço entre Almir e o clube carioca, o presidente do clube paulistano, Vicente Matheus, topou pagar Cr$ 6, 5 milhões de cruzeiros, à vista; acertou um amistoso, em 5 de abril, com renda dividida, no Pacaembu, e ceder a sua parte na renda do jogo Vasco x Corinthians, em 16 de abril de 1960, na capital paulista, pelo Torneio Rio-São Paulo, a grande disputa da época. Com isso, os cofres da Colina deveriam receber cerca de Cr$ 8 milhões. Um dinheiraço! O maior negócio do futebol brasileiro. Segundo falava, com a grana saindo do bolso de Matheus.
 
DO LADO DE LÁ – Almir havia disputado a sua última partida com a jaqueta curzmaltina em 16 de janeiro daquele 1960, no amistoso em que a “Turma da Colina” goleara o Atlético-MG, por 6 x 3, no Estádio Independência, em Belo Horizonte. Marcou dois gols, aos 9 e aos 50 minutos – Delém, aos 16, aos 46 e aos 49, além de Cabrita, aos 77 minutos, fizeram os demais – e foi substituído, no segundo tempo.
O último Almir vascaíno entrou nesta formação escalada pelo treinador Dorival Knipel, o Yustrich: Barbosa (Ita); Paulinho de Almeida, Bellini (Viana), Orlando Peçanha e Coronel; Barbosinha e Roberto Pinto (Waldemar); Teotônio (Wanderley), Almir (Cabrita), Delém e Roberto Peniche (Dominguinhos) – Ernani, aos 36 do 1º e aos  88, e William, aos 27 minutos, marcaram para o “Galo”. 

O que Almir não desejava, aconteceu na noite da terça-feira 5 de abril de 1960, no Pacaembu. Ele estreou como corintiano diante do Vasco, e abriu o placar, aos 6 minutos, para a partida terminar  em “Timão” 3 x 0. A renda? Cr$ 1 milhão, 76 mil e 900 cruzeiros, quase igual à de 11 dias depois, no mesmo estádio, quando o placar ficou no 1 x 1 e as bilheterias da casa arrecadaram Cr$ 1 milhão, 75 mil e 900 cruzeiros. 

O "PERNAMBUQUINHO" DO OUTRO LADO DO BALCÃO
Com Orlando e Gilmar
O primeiro Vasco contra Almir foi escalado pelo técnico argentino Filpo Nuñes com: Miguel; Paulinho de Almeida (Dario) e Bellini; Écio (Russo), Orlando (Barbosinha) e Coronel; Sabará, Pinga (Pacoti), Teotônio, Roberto Pinto (Valdemar)  e Roberto Peniche. A nova turma do “Pernambuquinho”, treinada por Alfredo Ramos,  era: Gilmar (Cabeção); Egídio, Olavo (Marcos) e Ari Clemente; Benedito (Sidnei) e Oreco; Lanzoninho, Almir (Luizinho), Higino (Bataglia), Rafael e Evanir.   
 No jogo oficial, pelo Rio-São Paulo, Almir não encarou o Vasco, Que teve seu tento marcado por Delém, igualando o placar, aos 56 minutos. O time armado, pelo mesmo Filpo Nuñes, teve: Barbosa; Paulinho de Almeida, Bellini e Coronel; Écio e Orlando Peçanha; Sabará, Roberto Pinto, Delém, Pinga e Roberto Peniche. 
 
MARCADO -  Capa do Nº 30 da “Revista do Esporte” datada de 3 de outubro de 1959, Almir começou a ficar marcado pelas torcidas adversárias do Vasco, devido as confusões em que se envolvia. A pior delas rolou, em 9 de agosto daquele 59, pelo Campeanto Carioca, quando ele disputou um lance e deixou o lateral-esquerdo Hélio, do América, com uma das pernas fraturadas. Xingado pela torcida americana, Almir jurou à “RE” que não tivera a intenção de encerar a carreira do colega de profosissão. “Nunca...tive o espírito de carrasco”, garantiu. Disse mais:” Os gritos de ‘assassino’ que me dirigiram...foram como...setas me perfurando todo o corpo”.

Suspenso, pelo Tribunal de Justiça da Federação Carioca de Futebol, o “Pernambuquinho” – seu apelido – viu no castigo até uma ajuda. Segundo avaliou, poderia não render mais nada para o ataque vascaíno, caso saísse impune do acontecido, devido a tensão que passara a viver. Para ele, os que o atacaram poderiam raciocinar melhor e concluir que, sendo tão jovem, ele não poderia seria burro ao ponto de liquidar a sua carreira em apenas um jogo.  Almir disse, ainda, à revista que o lateral Hélio era um dos seus “melhores amigos” no time do América e que vinha rezando pelo seu restabelecimento, pois não compreendia aquele “incidente”.  E prometeu mostrar a sua classe, “sem precisar usar da deslealdade, já que todos me julgam um carrasco, coisa que nunca fui”, garantiu.
Nesse jogo em que Almir virou “bandidão”, o Vasco caiu,  por 1 x 3, diante de 59.317 pagantes, e ele marcou o chamado “gol de honra” cruzmaltino. O juiz Cláudio Magalhães  e a “Turma da Colina” do dia era dirigida pelo treiandor Francisco de Sousa Ferreira, o Gradim, queescalou: Barbosa, Paulinho de Almeida, Bellini e Orlando; Écio e Coronel; Sabará, Almir, Roberto Pinto, Rubens e Pinga.  
 
O CARA - Almir era visto como um jogador encrenqueiro. Muitos cobravam do treinador Gradim (Francisco de Souza Ferreira) dar um jeito no seu pupilo. Mas o comandante do time vascaíno discordava de quem via um moleque em lugar de um homem. E dizia não admitir brincar coma personalidade de seus atletas. Preferia um Almir bravo,  valente, “que entra no fogo com o maior desprendimento, só cuidando do Vasco”, do que um Almir apático, sem vontade de lutar e sem alma, como falou à revista “Manchete Esportiva” de Nº 126, de 19de abril de 1958.
 Gradim via Almir como um jogador que precedia, em campo, como homem que não aceitava, impassível, um insulto, uma agressão. E apontava-lhe uma grande virtude: não ser mascarado (termo da época para pessoa antipática). Acreditava que o pernambucano, quando tivesse mais experiência, poderia ser tão grande o quanto fora o Leônidas da Silva do Campeonato Sul-Americano de 1932. 
 
 
 

Um comentário:

  1. Cier Barbosa, um nome que desconhecia. deveria ser mais conhecido pelos vascaínos

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