Vasco

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domingo, 6 de janeiro de 2019

DOMINGO É DIA DE MULHER BONITA - IGUAL A HELENA, NA LUA NÃO HÁ -147

 Ela era casada com um cara que compunha hinos para a Igreja Pentescotal, do bairro carioca de São Cristóvão. Com o cara, aprendeu o compasso e a rima. Quando o marido foi chamado "Lá Pra Cima", ela passou a compor músicas românticas, mesmo com toda a sua deficiência gramatical, pois não tivera tempo para estudar. Compôs até um hino homenageando a recém inaugurada Brasília, e o enviou para o chefe do governo nacional.
Helena e os filhos, em reprodução da revista "Manchete"
 A moça não esperava que a sua música (e letra) chegasse até o presidente da república. De repente, recebeu um telegrama dele, dizendo: “Muito sensibilizado, agradeço a oferta da composição musical de sua autoria e dedicada a Brasilia. Cordiais cumprimentos, Juscelino Kubitschek”.
 Chamava-se Maria Helena dos Santos Oliveira, nasceu na mineira Conselheiro Lafaiete, em  7 de janeiro de 1922 e usava os segundo e o terceiro nomes na assinatura do que compunha. A sua história vale, no mínimo,  um seriado televisivo.
 Viúva, criou seis filhos e vivia com uma pequena pensão deixada pelo marido – Cr$ 13 mil e 500 cruzeiros. Para não deixar faltar o rango das crianças, costurava para quem pudesse. Como a barra estava mais do que pesada, ela teve a ideia de ir as rádios e TV cariocas, oferecer sambas e outros gêneros aos artistas que pudesse abordar. Mas não emocionou cantores como Altemar Dutra, Orlando Silva e Carlos Galhardo, entre outros.
 Um dia, quando estava na Rádio Globo-RJ, antes de começar o programa de Luis de Carvalho, ela abordou Roberto Carlos e conseguiu cantar para ele “Na lua não há”. O cara gostou muitíssimo, prometeu grava-la, mas avisando que seria preciso melhorar a letra.
Reprodução de www.musicariabrasileira
Helena dos Santos estava quase passando fome, vendo o tempo passar e Roberto não dava sinais de vida. Então, lembrou-se que não lhe passara o seu endereço, só informara onde residia.
 Tempinho depois, olhando para os filhos famintos e com a sua barriga também roncando, ela foi avisada, por uma vizinha, de que estavam lhe procurando por rádios e jornais.
 “Pede-se à Dona Helena dos Santos, moradora do Horto Florestal, o obséquio de comparecer, coma máxima urgência, à Rádio Gloobo, para tratar de assunto do seu interesse. Procurar Luís de Carvalho” – era o recado.
 Em outubro de 1963, Roberto Carlos lançou o seu segundo LP (longa duração), gravado um mês antes. “Na Lua não há”, com Roberto acompanhado por The Angels, foi a quinta faixa do Lado A e um dos três maiores sucessos, ao lado de “Splish Splash” (com acompanhamento de Renato e Seus Blue Caps) e “Parei na contra mão”, acompanhado, também, por The Angels.
  Pouco depois do lançamento do disco, em novembro, com “Na Lua não há” muito tocada e cantada, Helena levou um tremendo susto. Ela estava em seu paupérrimo apartamento, com caixotes de madeira sendo cadeiras, quando bateram em sua porta. Era Roberto Carlos, levando o disco autografado com dedicatória.
 Em abril de 1964, Helena mandou celebrar missa pelo aniversário do “Brasa”, na igrejinha do seu bairro. E não foi que o cara apareceu para rezar junto com ela? Queria agradecer pelo disco bombando, sendo ponto de partida para ele tornar-se o grande ídolo da juventude brasileira que curtia os embalos musicais da época.
"Na Lua não há" está neste disco de 1963
 Depois daquilo, Roberto gravou mais 10 composições de Helena, entre elas “Meu grande bem”; “Como é bom saber”; “Esperando você”; “Sorrindo para mim”; "Do outro lado da cidade"; "Nem mesmo você" e 'Fiquei tão triste",  entre 1962 e 1982, quando compôs só para o amigo. 
Filha de Francisco dos Santos e de Maria Amália dos Santos, ela perdeu a mãe ainda criança.
 Até os 11, Helena viveu com uma madrasta. Aos 12, foi para o Rio de Janeiro, com uma irmã e o cunhado, e, adolescente,  trabalhou em fábrica de tecidos, loja de confecções e, também, foi empregada doméstica.
 Aos 17, casou-se com Lauro Moreira, que partiu deixando-a com um filho na barriga. Razão pela qual ela teve de lavar roupa para as madames de Copacabana e trabalhar como costureira.
 Com a ajuda do "Rei", os direitos autorais por seu time (11) de sucessos canados pelo capixaba, ela comprou um apartamento e viveu até  23 de outubro de 2005, quando já havia contado 82 viradas do calendário - mulher que foi à guerra e merecia uma gerra, como Helena de Tróia.     


                 


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