Das guerras que “os brasileiros guerrearam”, nenhuma foi tão longa quanto a dos Farrapos, mais chamada, hoje, por Revolução Farroupilha. Em dois conflitos mundiais – entre 1914/18 e de 1939/45 -, pracinhas e outros solados brazucas nunca voltaram para casa completando seis viradas do calendário. Durante o conflito envolvendo gaúchos e forças do Império dos Orleans e Bragança, houve um decênio - 1835/1845 - de lutas sem vencedores e vencidos.
Os desencontros começaram em 1821, quando o Império começou a cobrar pesados impostos sobre charque, couros, sebo, graxa, erva-mate e outros itens agropecuários produzidos pelos rio-grandenses. Chegado 1830, bateu mais neles, taxando a importação do sal básico para a fabricação do charque. Aquilo foi considerado castigo imerecido pelo Rio Grande do Sul, lembrando que, durante o Século 17, o seu povo passara mais tempo guerreando contra a Espanha, do que vivendo em paz. Portanto, esperava-se incentivos ao desenvolvimento econômico do Sul brasileiro, em reconhecimento ao sangue de gerações de suas famílias derramados em prol das nossas fronteiras.
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Bento Gonçalves, um dos maiores caudilhos da história gaúcha
Era o 20 de setembro daquele 1835, quando Bento Gonçalves (imagem) expulsou o presidente da província, Fernandes Braga, que fugiu para o Rio de Janeiro. O Império contra-atacou e nomeou José de Araújo Ribeiro para a vaga. Mas o cara não agradou aos gaúchos, que não o viam voltado para a defesa dos seus interesses. E rolou a segunda fuga de presidente provincial. Bento Gonçalves até topou conciliar a sua turma com o Império, propondo ao Ribeiro voltar ao cargo. Mas este amarelou. Preferiu se unir a líderes militares. Crise pegando fogo, no 3 de março de 1836, o Império transferiu repartições públicas, da capital Porto Alegre, para a cidade de Rio Grande e, dali por diante, não haveria mais acordos. Os rebeldes prenderam o líder e major Manuel Marques de Souza e o levam para um navio-prisão aportado no Rio Guaíba.
Chega-se a julho e o Império retomou Porto Alegre. Subornou a guarda do 8º Batalhão de Cavalaria, libertou 30 soldados e vários oficiais presos, juntamente com Marques de Souza, em um navio. E prendeu Marciano Ribeiro, o primeiro presidente provincial nomeada pelos rebeldes. A patota de Bento Gonçalves tentou reconquistar Porto Alegre, mas sem sucesso. E a capital passou 1.283 dias sitiada, sem nunca mais os farrapos conseguirem retomá-la.
Próximo capítulo: 9 de setembro de 1836. Rebeldes, liderados pelo general Antônio Souza Netto venceram as tropas imperiais, perto de Bagé, nas fronteiras com o Uruguai, e proclamaram a República Rio-Grandense (também chamada Piratini), com Bento Gonçalves presidente. Já era, então, uma guerra separatista, em época de Regências do Império, pois Dom Pedro II, que o herdara do pai abdicante, em 1831, era criança, só assumiria o trono em 1840.
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Regência Imperial e Rio Grande do Sul travarama uma guerra inútilO Império não reconheceria a república Piratini e seguiu guerreando. Chegou a prender Bento Gonçalves, mas este fugiu e os rebeldes conquistaram outras vitórias mais adiante, graças às lideranças de líderes como David Canabarro e do italiano Giuseppe Garibaldi, que foi, também, uma das principais figuras da unificação italiana. Em1839, os farroupilhas conquistaram a catarinense Laguna e proclamaram mais uma república, a Juliana.
Em 1842, os imperiais, liderados por Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, começaram a conter os revoltosos e tomaram deles cidades dominadas. Houve conflitos em que os dois lados se disseram vencedores, mas o certo foi que após nove batalhas, um acordo começou e demorou a ser concluído. Enfim, foi assinado o Tratado do Poncho Verde, ema 1º de março de 1845, acabando com aquela história guerreira e a tentativa gaúcha de separatismo. Foram garantidos interesses dos rebeldes gaúchos, sobretudo majoração da taxa em cima do charque da região do Rio da Prata – há 187 viradas do calendário gregoriano.
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